PICICA: "O cidadão comum só agora começa a se dar conta da importância do trato
da informação para uso pessoal. Ainda estamos vivemos a era da confiança
cega, típica do período pré-internet. Mas os tempos mudaram e não dá mais para confiar numa única fonte de
informação, por melhor que ela seja. É impossível saber tudo, logo
sempre haverá algo desconhecido, o que nos leva à necessidade de
pesquisar, conferir e aprender."
O dilema diário de lidar com notícias e informações
Por Carlos Castilho em 26/01/2014
Há 17 anos, o Observatório da Imprensa se propôs a oferecer ao público uma nova forma de ler jornais. Na época, foi uma decisão ambiciosa e visionária pois estávamos saindo de duas ditaduras:
uma militar e outra da autocensura jornalística. Quase duas décadas
depois, o novo jeito de ler jornais tornou-se numa virtual obrigação
provocada pela necessidade de separar o joio do trigo no meio da
avalancha informativa gerada pela internet.
Leitura crítica, contextualização, curadoria e observação da mídia deixaram de ser acessórios para se transformarem em ferramentas indispensáveis para todos nós,
desde os que apenas desejam saber o que está acontecendo até os
tomadores de decisões, profissionais liberais, educadores, funcionários e
pesquisadores. Os riscos para quem não sabe lidar com a informação
variam desde tomar a direção errada no trânsito até prejuízos
milionários em projetos equivocados, sem falar no letal assassinato de
reputações.
Lidar com a informação tende a se tornar uma disciplina obrigatória em
qualquer processo de aprendizagem, pois este significa o contato com o
novo e desconhecido, o que implica risco de erro ou fracasso. O que
antes era uma recomendação para evitar ser enganado, agora é uma
exigência compulsória para quem precisa reduzir ao máximo as
consequências de erros por falta de informação adequada.
O tratamento da informação tornou-se uma indústria multibilionária conforme indicam o fenômeno dos Grandes Dados (Big Data)
e os investimentos de empresas jornalísticas na digitalização de suas
edições passadas. Os megabancos de dados lidam com volumes
incomensuráveis de números, fatos, eventos e notícias, que só têm valor
se forem filtrados conforme as necessidades e desejos do cliente, que
hoje não tem mais tempo organizar informações e muito menos cacife
financeiro para bancar decisões desinformadas.
O cidadão comum só agora começa a se dar conta da importância do trato
da informação para uso pessoal. Ainda estamos vivemos a era da confiança
cega, típica do período pré-internet. Mas os tempos mudaram e não dá mais para confiar numa única fonte de
informação, por melhor que ela seja. É impossível saber tudo, logo
sempre haverá algo desconhecido, o que nos leva à necessidade de
pesquisar, conferir e aprender.
Quem lê jornal ou assiste à televisão, por exemplo, não pode mais tomar
uma notícia ou informe de um correspondente no exterior como a
materialização da verdade. Por melhor e mais competente que seja o
jornalista é humanamente impossível esperar que ele transmita todos os
detalhes da crise na Ucrânia ou sobre as razões do aumento da taxa
Selic. É pedir demais, mas é justamente isso que a maioria dos leitores
de jornais e telespectadores fazem todos os dias ao consumir notícias .
A nova realidade, baseada numa enorme diversidade informativa, mostra
que o lógico seria tomar as notícias de jornais, reportagens de revistas
e o conteúdo dos telejornais como uma fonte de informações entre várias possíveis e
não como a nossa única referência. Parece obvio do ponto de vista
teórico, mas na realidade não agimos assim. Na verdade, teríamos que
situar os dados, fatos, eventos e notícias lidos, vistos ou ouvidos num
contexto mais amplo para verificar sua credibilidade, exatidão,
relevância e relação com o nosso quotidiano.
O problema é que isso toma tempo, o que inviabiliza a rotina da verificação para
quase todos nós. Restam então duas alternativas: ação coletiva ou
assumir a complexidade dos fatos, dados ou eventos. Ação coletiva
significa trocar percepções e opiniões com outras pessoas para avaliar
dados e informações. Muitas pessoas e empresas já fazem isso diante de
situações complicadas.
Assumir a complexidade da vida moderna significa incorporar na
rotina pessoal a consciência de que não temos condições de captar toda a
diversidade de percepções da realidade e que, portanto, nossas opiniões
e posicionamentos são sempre relativos, ou seja, não somos donos da
verdade e por isso não temos condições de impor nada a outras pessoas.
As notícias captadas em jornais, revistas e telejornais devem ser
avaliadas e comparadas com outras fontes.
Cada vez mais surgem ferramentas para nos ajudar a separar o joio do
trigo em matéria de noticiário quotidiano. A maioria delas combina
softwares e a ação de indivíduos chamados curadores, ou seja, pessoas
que ajudam outras pessoas a fazer a triagem de dados e informações.
Outros atuam na base das comunidades de curadoria em que integrantes compartilham notícias e recomendações.
Fonte: Observatório da Imprensa
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