PICICA: "Diante das novas agressões
que o povo Tenharim vem sofrendo no seu habitat ao Sul do Amazonas, trago a
público trechos de documentos que guardo na Casa da Cultura do Urubuí, ou seja,
cartas de agentes do CIMI de 1981, onde estes já denunciam os interesses que
comandam as agressões contra esse povo. Interesses não muito diferentes dos de
hoje."
OS TENHARIM, A DITADURA E SEUS INTERESSES NA REGIÃO.
Diante das novas agressões
que o povo Tenharim vem sofrendo no seu habitat ao Sul do Amazonas, trago a
público trechos de documentos que guardo na Casa da Cultura do Urubuí, ou seja,
cartas de agentes do CIMI de 1981, onde estes já denunciam os interesses que
comandam as agressões contra esse povo. Interesses não muito diferentes dos de
hoje.
Veja este relato de 1981, de
Exequias Heringer, vulgo Xará, e Ana Lange, ambos então agentes do CIMI
atuantes naquela região do rio Madeira: “O grupo Paranapanema tem duas
minerações de cassiterita na região: Igarapé Preto e São Francisco. Estivemos
na primeira onde obtivemos informações com a equipe de engenheiros local. Lá a
mineração se estabeleceu em cima da aldeia indígena (Tenharim), que teve de se
transferir para uma área anexa. Não recebem qualquer tipo de assistência e se
encontravam num triste quadro de catapora. Outros Tenharim estão dentro da
reserva a ser demarcada, mas estes declaram que não irão para dentro da reserva
apesar dos insistentes convites da FUNAI. Em represália os funcionários da
FUNAI transferem a responsabilidade de assistência para a mineração, que
declara que os assiste, mas nada faz neste sentido. Hoje são apenas 22 índios.
Daqui a dois anos acabará o minério e a Paranapanema implantará um projeto
agro-pecuário, aproveitando a infra-estrutura instalada. Enquanto isso os
índios são aproveitados para serviços de limpeza, de carregamento, de caça.
Nenhum dos engenheiros conhece a aldeia atual dos índios, e um deles chegou
mesmo a declarar que trata-se de um grupo Karitiana, mostrando muito bem o que
é o estilo Paranapanema em relação aos índios.”
Relato de agosto do mesmo
ano de 1981, assinado pelo Coordenador do CIMI Norte I, Ricardo Parente,
confirma as informações acima: “...dados que pudemos recolher durante a nossa
viagem na rodovia Transamazônica, trecho de Humaitá até a mineração de estanho
pertencente à famosa Paranapanema, empresa nacional que conta com forte apoio
dos meios militares. Quando chegamos na mineração, localizada no igarapé Preto,
área usurpada dos Tenharim, o pessoal da firma nos disse que dias antes
o supremo patrão da Paranapanema estivera no local com alguns generais
especialmente convidados e amigos do maioral da empresa. O objetivo de tão
inesperada visita era o seguinte: o chefão queria mostrar aos generais como
funciona a mineração a fim de conseguir a aprovação militar para a exploração
das ricas jazidas de estanho que estão em Ipitinga(Pitinga). A maior parte
dessa jazida está em território dos Waimiri-Atroari. Informaram-nos que a
empresa também está em contato com o Cel. Nobre da Veiga, presidente da Funai,
a respeito do assunto. Sabe-se que em Ipitinga há uma das maiores concentrações
de estanho que, segundo os cálculos dos engenheiros, durará cerca de 15 anos
para ser esgotado. Eles pretendem construir uma pequena hidrelétrica própria
para abastecer de energia o projeto e construir casas de alvenaria. Esses dados
são muito preocupantes.. se prenunciam muito desfavoráveis aos povos indígenas
Waimiri-Atroari.”
E o relatório de Xará e Ana
Lange nos fornece ainda outros dados preocupantes sobre os interesses da
Paranapanema: “Atualmente tem as seguintes minerações: Novo Planeta, no norte
de Mato Grosso; Bacajás, no Pará; Maçanã (Massangana?), em Rondônia, além das
duas citadas. No ano que vem implantará mais duas, sendo uma a chamada
Ipitinga, que estará em sua maior parte dentro do território Waimiri-Atroari.
Os engenheiros de minas que trabalharão em Ipitinga estão sendo treinados no
Igarapé Preto e eles conhecem as dificuldades que a Paranapanema está
encontrando para invadir a área indígena. Recentemente o dono da Paranapanema,
Otávio Lacombe, recepcionou um grupo de generais no Igarapé Preto, para
convencê-los dos bons serviços que Ipitinga poderá prestar ao Brasil. Os
engenheiros estavam exultantes com a impressão que os generais tiveram.”
E o relatório conclui: “A
Paranapanema utiliza tecnologia importada dos EE.UU. e consultores americanos,
canadenses e malasianos.”
Como se pode ver é preciso
que se faça uma investigação da ação nefasta da Ditadura Militar sobre mais
esse povo indígena do Amazonas, com a construção da Rodovia Transamazônica e a
instalação de seus projetos de interesse saqueador. Num momento em que mais um
crime de morte foi cometido contra um líder indígena, o cacique Tenharim e com
mais ameaças em curso, se investigue e se punam os mandantes e as empresas que
participaram e continuam participando desses crimes de ontem e de hoje.
A
questão
Tenharim é uma questão de lesa humanidade que deve merecer providencias do
Ministério Público Federal, da Comissão Nacional da Verdade e da Corte
Interamericana de Direitos Humanos da OEA. É uma questão de justiça.
Casa da Cultura do Urubuí, 04
de janeiro de 14.
Fonte: Casa da Cultura do Urubuí
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