PICICA: "Toda
a teia complexa de relações que produz o social, a cidade, tem seu
acesso bloqueado por esses mecanismos discursivos. Nessa ação conjunta
temos, de um lado, a ‘sutileza’ da mídia reproduzindo opiniões que
alicerçam a ordem estabelecida e seus enunciados, como modelos a serem
repetidos e que agora, construindo uma anomalia social, chegou ao nível
de forjar um tribunal. Do outro lado, temos a polícia que garante a
violência contra os que se rebelam presencialmente com seus corpos,
sejam eles moradores de comunidades em suas diversas reivindicações,
sejam os manifestantes das ruas, de diversas origens. O capital é o
espectro fantasmagórico que une as articulações. É a membrana semiótica,
o que dá um sentido final a este processo e assim age sobre a vida. As
relações que permeiam o capital excede os governos, as soberanias, são
formas determinantes de troca, controle e patenteamento, que não se
reduzem a características locais. O Estado é aquilo que organiza as
diversas máquinas de apropriação. A mídia joga com o medo e o Estado
organiza o medo em violência policial, mal funcionamento dos serviços
comuns, abertura para privatizações dos espaços coletivos,
desempoderamento político da população e ligações com todo tipo de
máfias ilegais. Sem esta organização o medo certamente não teria a mesma
disseminação e efetividade. É o Estado que permite e articula ações e
condições materiais para um violento controle da circulação dos fluxos
de desejos, por isso o transporte coletivo é um tema tão caro ao estado,
o encarecimento da mobilidade visa enfraquecer a circulação dos pobres e
precários que inventam outras formas na cidade. Portanto, o que temos é
a convivência entre a modulação de subjetividades e o controle violento
dos corpos."
A potência da dessubjetivação
28/02/2014
Por Ricardo Gomes
Por Ricardo Gomes, filósofo, UniNômade e DasLutas
–
Enfrentamos
nos últimos dias uma investida violenta da mídia contra as
manifestações de rua e seus desdobramentos. Isso já havia ocorrido no
ano passado, quando a mídia tentou impor suas pautas genéricas e elitistas. Agora, ela tenta, de forma absurdamente violenta e mesquinha,
criminalizar os manifestantes que lutam por mais direitos, usando a
fatídica morte do cinegrafista Santiago Andrade e esquecendo todas as
outras mortes, criando um discurso seletivo sobre a violência nas
manifestações, onde a única violação que importa é aquela que pode ser
usada para restabelecer a ordem. Mas é preciso colocar melhor esta
questão. Não se trata simplesmente da velha manipulação dos fatos, é
necessário colocá-la sob o ponto de vista da organização atual do
capitalismo e a hibridação sob qual ela se assenta. A hibridação entre o
político, o econômico e a comunicação que formam uma mesma máquina de
controle com diversas saídas e entradas. Trata-se de uma intervenção
diretamente na construção dos enunciados, dos modelos de desejos
permitidos e reproduzíveis, se valendo do medo e, sobretudo, parasitando
a abertura colaborativa e autônoma que fez com que a livre circulação e
troca pudessem ganhar força no seio da população. A exemplo do caso
limitado mas ilustrativo das redes sociais. Houve, e sempre haverá este
momento positivo e revolucionário, onde a colaboração livre pode
irromper os sentidos fechados e as verdades autoritárias, porque ela faz
fugir uma dessubjetivação ativa que permite dizer “Anota ai, eu não sou
ninguém”1,
como disse um integrante do MPL/SP (logo desenvolveremos melhor o que
vem ser uma dessubjetivação ativa). Ou seja, está ação parasita do
capital é um momento posterior onde as diversas opiniões conflituosas
perdem seu caráter de atomização e são reinseridas na construção de
modelos majoritários. Portanto, é fundamental afirmar que não estamos
lidando com questões ideológicas, com a criação de visões falaciosas da
realidade. Absolutamente, o que vemos é a seleção e privatização da
produção de modelos de vida desejáveis.
Temos
uma junção tenebrosa: a lógica empresarial domina a estrutura, a
organização e a produção de subjetividade da cidade, a mídia, é o
partido e o tribunal. E a publicidade é a ‘linguagem natural’ deste
tempo. Vazia, ela se impõe como forma de apropriação e controle dos
desejos, ou seja, formulando as subjetividades. Agora a publicidade cria
o mercado consumidor e não o contrário2. A mídia acena com as versões permitidas, o prefeito se vale do mesmo cinismo das publicidades de um certo cartão de crédito3
dizendo que pode fazer o que quiser usando a copa ou as olimpíadas como
pretexto. O cinismo que atravessa a publicidade do cartão de crédito e
as falas do prefeito não coexistem por pura coincidência. É a criação da
imagem que está em jogo nos dois. A imagem em questão é aquela que diz
‘não há fora’, ‘não há outro denominador comum que não seja o capital’.
Este tipo de controle chega em todos os poros da vida, ultrapassa o
tempo de trabalho e se impõe como a única máquina. A reprodução do
capital penetra a reprodução da vida, deixando pouco espaço para outras
alternativas e criando uma imagem feliz e total de uma submissão
necessária. Diante deste processo de controle, afirmar que a mídia
manipula é absolutamente insuficiente.
Na
perda da diferença entre notícia e propaganda, já que os dois lidam com
a tentativa de subjetivação, o que resta ao jornal é o editorial,
‘poder arbitrário’4.
Em dois deles, o jornal O Globo deixou claro qual seria sua nova tática
contra a luta por mais direitos que vem sendo travada nas ruas e nas
redes. Primeiro, há poucos dias, o editorial do jornal afirmava que
seria um erro abaixar o valor das passagens e que a sociedade deveria
arcar com este custo. Repetiu exatamente o argumento do prefeito da
cidade do Rio de Janeiro. Ignorando inclusive o parecer dos técnicos do
Tribunal de Contas do Município, que constava que a passagem deveria
abaixar no valor de R$ 0,25. Agora, tenta desarticular as manifestações
usando o medo e voltando a insatisfação da população contra ela mesma.
No momento em que percebe um acontecimento utilizável, se lança sobre
ele, tentando destruir todas as pautas geridas coletivamente durante
tanto tempo. Faz uma amalgama da violência sofrida pela população
cotidianamente e sua indignação difusa, retirando delas o seu horizonte
problematizador e/ou contestatório, criando um objeto claro a ser odiado
e destruindo, a saber, o outro, aquele que tenta criar um desvio. Com
isso reforça as violentas relações sociais de classe, raça e etc. Boa
parte da população participa ativamente do jogo. Abertamente destrava
seu niilismo puramente negativo5
e cria uma situação onde o outro é sempre visto como perigoso. O
inimigo interno foi criado, ele está por aí. É o manifestante, o
desviante, aquele que cria um dissenso concreto, que problematiza o
status quo, algo bem diferente da polêmica falsa e vazia que reforça
estereótipos.
Toda
a teia complexa de relações que produz o social, a cidade, tem seu
acesso bloqueado por esses mecanismos discursivos. Nessa ação conjunta
temos, de um lado, a ‘sutileza’ da mídia reproduzindo opiniões que
alicerçam a ordem estabelecida e seus enunciados, como modelos a serem
repetidos e que agora, construindo uma anomalia social, chegou ao nível
de forjar um tribunal. Do outro lado, temos a polícia que garante a
violência contra os que se rebelam presencialmente com seus corpos,
sejam eles moradores de comunidades em suas diversas reivindicações,
sejam os manifestantes das ruas, de diversas origens. O capital é o
espectro fantasmagórico que une as articulações. É a membrana semiótica,
o que dá um sentido final a este processo e assim age sobre a vida. As
relações que permeiam o capital excede os governos, as soberanias, são
formas determinantes de troca, controle e patenteamento, que não se
reduzem a características locais. O Estado é aquilo que organiza as
diversas máquinas de apropriação. A mídia joga com o medo e o Estado
organiza o medo em violência policial, mal funcionamento dos serviços
comuns, abertura para privatizações dos espaços coletivos,
desempoderamento político da população e ligações com todo tipo de
máfias ilegais. Sem esta organização o medo certamente não teria a mesma
disseminação e efetividade. É o Estado que permite e articula ações e
condições materiais para um violento controle da circulação dos fluxos
de desejos, por isso o transporte coletivo é um tema tão caro ao estado,
o encarecimento da mobilidade visa enfraquecer a circulação dos pobres e
precários que inventam outras formas na cidade. Portanto, o que temos é
a convivência entre a modulação de subjetividades e o controle violento
dos corpos.
Mas,
a partir do momento em que reivindicações históricas se chocam com
problemas na circulação da ‘nova cidade’, a população desenvolve
maneiras colaborativas para resistir à exploração e criar uma exceção
social positiva que permite discutir mais uma vez a necessidade de
efetivação democrática e de expressão e construção da liberdade. Essa é
certamente uma das questões fundamentais das manifestações que se
intensificaram em junho e que voltaram em janeiro de 2014. Mais uma vez
na luta contra o aumento das passagens e mais uma vez enfrentando o
clima de guerra criado pelos mecanismo do poder.
Sobre
este enfrentamento, Gilles Deleuze, nos fala que um ‘pouco de
subjetivação pode nos afastar da servidão maquínica e que muito nos
reconduz a ela’6.
A crise econômica e o modo como ela foi e ainda é largamente utilizada
para reforçar os controles, evidencia o aprofundamento da maquina de
servidão mundial. Por isso, acreditamos que para enfrentar este
aprofundamento é necessário falar em termos de dessubjetivação ativa.
Não estamos mais no espaço de um enfrentamento entre categorias mais ou
menos fixadas, o conflito complexo permeia minuciosamente a vida. Viver é
produzi-se, difere-se e assim gerar valor. O valor que hoje
sobredetermina as relações de trabalho e producão é este, das trocas
linguísticas, de conhecimentos e etc. Parar de produzir não está em
questão. Assim, o que pode problematizar a circulação controlada dos
fluxos são as diversas formas de aglomerações onde as velhas
subjetivações são destituídas. O sujeito que antes obedecia e livremente
criava uma série de especificações para adaptar sua possibilidade
produtiva aos processos ditos desejáveis, poderá produzir um exceção que
não lhe pertence, ou melhor, poderá participar da criação de uma
exceção temporal, também chamada eternidade, que existe na desmesura
inventiva do devir coletivo. Não estamos falando de um movimento
escatológico. Esta eternidade é resultado de uma visão materialista das
lutas, do conhecimento novo que a luta produz. As classes e as forças
minoritárias são constituídas por ela, não existem antes dela, o tempo
novo também não. Ora, tudo isso é resultado de uma dessubjetivação
ativa, da formação de um não-sujeito múltiplo e aberto ao devir.
Falando
de lutas, vejamos o que ela pode nos mostrar. Na quinta, dia 6 de
fevereiro, houve uma manifestação puxada pelo MPL Rio e Niterói. O MPL é
um movimento nacional que tem o objetivo de implementar a tarifa zero
para os transportes coletivos, enfrentando máfias político-empresariais
que lucram mantendo passagens caras e transportes de péssima qualidade.
No ato do dia 6, como nas outras manifestações, a força policial usou de
extrema violência contra os manifestantes e as pessoas que estavam em
volta. Houve a morte do Sr. Tasman Amaral, que foi atropelado por um
ônibus quando fugia da chuva de gás lacrimogênio lançado pela polícia, e
a morte do cinegrafista Santiago Andrade, que foi atingido por um
rojão, lançado por supostos manifestantes. Uma senhora sofreu cortes na
cabeça, um advogado foi agredido, enfim, mais uma vez a polícia militar
do Rio de Janeiro se achou no direito de instituir um massacre contra a
possibilidade legal de se manifestar. A PMERJ causou danos parecidos em
todos os atos anteriores a esse, existe uma triste lista de feridos e
mortos em manifestação, no entanto, até onde se sabe, nenhum policial
foi julgado, nenhum inquérito foi aberto, nenhuma autoridade tomou
qualquer providencia real contra as arbitrariedades que estes assassinos
e torturadores de farda estão cometendo7.
Não irei entrar nos pormenores do caso Santiago Andrade, isso vem sendo
feito exaustivamente, pela mídia tradicional e pela internet, mas
deixamos claro que quem praticou a ação deve ser responsabilizado, como
deveria acontecer em todas as outras ações de violência, mas os dois
suspeitos encontrados até agora vem sofrendo uma estranhíssimo cerco da
polícia em conjunto com um suposto advogado de defesa, que tem relações
com miliciano. Além das acusações estapafúrdias e sem provas de que as
manifestações estavam sendo financiadas. O que, de qualquer forma, fica
claro é a permissão que a PMERJ tem de causar danos a população e sair
absolutamente impune. Infelizmente isso não é novidade.
Durante
a ditadura militar o governo também usava de força policial para
desmantelar manifestações e organizações políticas que contestavam o
regime ditatorial. Na época, a repressão era vista como algo necessário,
mesmo que em boa parte do tempo o governo não tenha assumido
oficialmente o uso da tortura e da perseguição. Hoje, sabemos que esse
era o procedimento normal nos ‘porões da ditadura’, provas eram
forjadas, anúncios ufanistas oficiais desmentiam ‘violências
desnecessárias’ e etc. Recentemente o governo federal lançou um projeto
que tenta apurar as responsabilidades das ações violentas na ditadura
militar, a Comissão da Verdade. Neste ano, entre outras ações, a
Comissão, num ato simbólico, devolveu a presidência a João Goulart,
presidente deposto em 64. Ela também conseguiu que alguns militares
assumissem o que fizeram durante a ditadura, como no caso do assassinato
do jornalista Rubens Paiva8.
Sequestrado e assassinado pela ditadura, até bem pouco tempo ele era
tido como desaparecido. Não havia comprovação da morte violenta que a
ditadura lhe causou.
Apesar
desses eventos relevantes, a Comissão da Verdade recebe muitas
críticas. Resumindo um pouco as críticas, podemos separar entre críticas
à direita e a esquerda do governo. A direita reclama que a Comissão da
Verdade só teria escutado a versão dos que lutaram contra a ditadura,
criando assim uma espécie de tribunal revanchista. De outro lado, a
esquerda critica sua limitação. Sem poder abrir todos os documentos da
época, nem desdobrar os casos em condenações, ela estaria limitada a um
papel puramente retórico e cerimonial. Mas, ao que parece, para o nosso
tempo e na nossa visão, o grande problema da Comissão da Verdade é seu
tipo de olhar. Parafraseando Nietzsche, podemos dizer que se trata de um
‘olhar de caranguejo’. Um olhar preso ao passado, que não consegue
deixar de olhar para trás, não consegue se livrar do peso do tempo
linear e morto, datado, objetivo. A Comissão da Verdade poderia ser
fundamental para enfrentar arbitrariedades dos poderes estabelecidos,
das relações incestuosas e violentas entre público e privado que as
polícias insistem em defender. Ela deveria se voltar sobre nosso tempo
para não permitir mais os abusos que o Estado tem praticado
sistematicamente contra a multidão constituinte que vai as ruas, seja em
manifestações, seja para debates, assembleias, ocupações artísticas ou
outras coisas mais. Ou, ao menos, deveria servir para lançar um
protocolo geral, mas concreto, que trataria das mudanças necessárias
pelas quais as polícias deveriam passar. Alguns exemplos destas mudanças
estão sendo tratados nas ruas, desmilitarização das polícias, efetiva
participação popular na escolha e desenvolvimento dos planos de
segurança, mudança na formação dos policiais, enfim, estas e outras
pautas que estão sendo discutidas nas ruas poderiam servir como base de
consulta do governo, como local de troca. Essas melhorias poderiam
acontecer se, por exemplo, a Comissão da Verdade fosse composta por
pessoas que sofreram violência policial nos dias de hoje, como as
fundadoras da Mães de Maio, movimento de mães paulistas que tiveram seus
filhos assassinados pela PM, ou por pessoas que sofreram violências nas
manifestações. Seria uma efetivo canal aberto com as ruas. Mas não é
isso o que ocorre, o governo não consegue lançar instituições concretas
que saibam se articular aos desejos sem submete-los ou torna-los peça da
governança. A impressão que fica é de que a Comissão da Verdade só
existe para legitimar o Brasil diante de órgão internacionais e diante
de retórica da esquerda de estado, para mostrar como o Brasil caminha em
direção ao primeiro mundo. O fundamental desta crítica é afirmar que as
ações e os movimentos políticos deveriam ter o caráter de atualização
constante de sua potencia democrática e não de mero enquadramento nos
costumes aceitáveis, morais ou políticos.
Acredito
que é o momento de qualificar melhor o que mais acima chamamos de
colaboração e dessubjetivação, as duas se atravessam nesse contexto. A
colaboração-dessubjetivação se apresenta como expressão imediata de uma
quantidade de singularidades inumerável e indecidível9,
ou seja, não há termo que estabeleça o pertencimento dela a um conjunto
dado. Tão pouco há nome ou equação conceitual que lhe roube o
interminável processo produtivo. Se falamos multidão ou multiplicidade
ou colaboração-dessubjetivação, nos instalamos em realidades vivas e
complexas, numa consistência própria onde não há mais dicotomia entre o
singular e o coletivo, numa materialidade incorporal que rascunha a
diferença e nos lança em devires, em trocas selvagens, inorgânicas, onde
o todo aberto ao tempo é que cria o ‘evento singular’. Um devir é este
encontro, onde me torno o que encontro, mas não antes daquilo que
encontrei ter se tornado outra coisa. Portanto, falamos de um evento
aberto, de um conceito que nos permite seguir sua vida. Há neste
processo uma experimentação política, afetiva e estética que certos
coletivos sabem efetivar. O MPL/SP é um destes coletivos, eles tiveram a
prudência e a coragem necessárias de saber quando se juntar a grupos e
manifestantes radicais, quando dizer não, quando se deslocar para outros
espaços, enfim, nomadismos diversos. Outro exemplo claro foi a junção
entre adeptos da táticas black bloc e parte dos professores que
protestavam contra o plano neo liberal de educação publica do prefeito
do Rio. Contrariando o sindicato da categoria, grande parte dos
professores se juntou ao grupo de black bloc, criando o ‘black prof’, e
participaram da ação de defesa dos outros professores, dos manifestantes
e da ocupação que existia na época em frente a câmara de vereadores. As
dispersões dos lugares estabelecidos e os encontros monstruosos, tanto
em um caso como em outro, nos ensinam que a possibilidade material de
dizer “Anota ai, não sou ninguém” é uma espécie de resultado imanente da
experimentação e intensificação política dos grupos. Neste sentido, o
trabalho que temos pela frente é o de continuar construindo as condições
de possibilidades de uma dessubjetivação ativa e politicamente
consequente. Isso se faz nas ruas, nas assembleias, mas também nas
universidades, nos encontros dos grupos e coletivos que pensam as
manifestações.
Já
houve mais manifestação depois do triste dia 6, e tudo ocorreu bem, a
polícia não usou a violência e pasmem, não houve confronto, por isso,
reafirmamos, o que existe nas ruas é uma força constituinte, uma força
que luta por mais direitos, mais democracia, contra uma organização
elitista da cidade e, sobretudo, pela possibilidade de organização
autônoma que a privatização dos transportes coletivos visa enfraquecer. É
isto o que está em jogo nas manifestações pela tarifa zero. Por isso a
continuidade das ruas são importantes. É preciso fortalecer os laços e
as fugas, os encontros, a experimentação política livre do capital. Sem
isso, a ideia de paz não passa de uma abstração genérica e impotente ou
de uma imposição de certos grupos sobre todos os outros. Lutamos para
abrir ações e espaços concretos onde a cidade seja experimentada por
todos (um exemplo nítido foi o catracaço10), e se torne, cada vez mais, a rede produtiva de alternativas concretas.
–
NOTAS
-
Texto do Filósofo Peter Pál Pelbart publicado na Folha de São Paulo http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/07/1313378-peter-pal-pelbart-anota-ai-eu-sou-ninguem.shtml
-
Maurício Lazzarato, Trabalho Imaterial pag 80
-
Estou me referindo a publicidade onde um personagem está numa situação ruim e outro ao invés de alertar para a situação, fala sobre como é melhor pagar com tal cartão…
-
Maurício Lazzarato, Trabalho Imaterial pag 75
-
Como Nietzsche nos ensina, uma dose correta de niilismo pode ser fundamental para ultrapassar o senso comum, sendo logo depois acrescido da alegria que pode restituir a potencia.
-
Gilles Deleuze, Mil Platôs Vol 5, pag 158
-
-
-
Gilles Deleuze, Mil Platôs Vol 5, pag 175
-
Catracaço foi uma ação saída das ultimas manifestações na estação de trem da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Os manifestantes junto com moradores pularam as catracas dos trens, evitando o pagamento de passagem naquele dia. Claro, é uma experiência pequena mas que demonstra a realidade de insatisfação popular e os possíveis resultados de um trabalho coletivo mas extenso.
Divulgue na rede
Fonte: Universidade Nômade Brasil
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