março 25, 2014

"Esquizoanálise" (Razão Inadequada)

PICICA: "A esquizoanálise foi desenvolvida por Deleuze e Gattari em seus livros “O Anti-Édipo” e “Mil-Platôs”. Com sua primeira publicação em 1972, se trata de uma reação à psicanálise e atua como uma crítica ao inconsciente desenvolvido por Freud e também para sua interpretação do conceito de “desejo” como falta. Em seu lugar, os autores propõem o conceito de máquinas desejantes: o inconsciente produtivo é responsável pelo desejo como intensidade que produz realidade. A reinvenção do inconsciente como produção desejante, ao invés de falta a ser preenchida, permite uma abordagem completamente nova da prática psicanalítica e implica também uma abordagem militante e política do indivíduo. Com base nestas reinterpretações, o termo esquizoanálise é proposto, sendo o esquizofrênico aquele que resiste à edipianização e a teoria desenvolvida estritamente anedípica."



Esquizoanálise

DeleuzeGuattari

A esquizoanálise foi desenvolvida por Deleuze e Gattari em seus livros “O Anti-Édipo” e “Mil-Platôs”. Com sua primeira publicação em 1972, se trata de uma reação à psicanálise e atua como uma crítica ao inconsciente desenvolvido por Freud e também para sua interpretação do conceito de “desejo” como falta. Em seu lugar, os autores propõem o conceito de máquinas desejantes: o inconsciente produtivo é responsável pelo desejo como intensidade que produz realidade. A reinvenção do inconsciente como produção desejante, ao invés de falta a ser preenchida, permite uma abordagem completamente nova da prática psicanalítica e implica também uma abordagem militante e política do indivíduo. Com base nestas reinterpretações, o termo esquizoanálise é proposto, sendo o esquizofrênico aquele que resiste à edipianização e a teoria desenvolvida estritamente anedípica.


O subtítulo das duas obras de esquizoanálise escritas pelos autores é “Capitalismo e Esquizofrenia”. Deleuze e Guattari compreendem assim que a produção de subjetividades, incluindo o complexo de Édipo, passa por uma análise social do atual contexto capitalista. “Todo delírio é social”, ou seja, a esquizoanálise inverte a tese freudiana da família como constituinte de campo social para afirmar que o social se rebate dentro do seio familiar. Há toda uma crítica ao processo capitalista que consiste em recalcar a produção desejante, através do complexo de Édipo, impossibilitando a constituição de novos modos de vida; através da transferência e das identificações, o desejo é impedido de criar e cai sempre no triângulo edípico papai-mamãe. O capitalismo precisa reprimir os corpos, logo na infância, impedindo-os de experimentarem. Para os autores, o problema de nossa sociedade está em reduzir o indivíduo ao modo neurótico de vida, infeliz, empobrecido, afastando-o de sua capacidade de experienciar uma vida intensa.


A esquizoanálise se regula por 3 tarefas, sendo a primeira negativa e as outras duas positivas:

  1. Destruição do “Eu normal”; esta tarefa consiste em desorganizar as máquinas desejantes que foram organizadas pelo socius. A intenção desta tarefa é desneurotizar o indivíduo, pois este se encontra afastado do que pode. Sua vida está entorpecida, ele apega-se à identidade, procura conforto. É aqui onde o desejo ainda é sentido como falta porque o indivíduo não consegue apropriar-se dele, não consegue criar, apenas reproduzir, seguir modelos. Contudo, uma regra importante desta primeira tarefa é agir com prudência: a destruição da organização do indivíduo é perigosa, ele ainda encontra sentido nas coisas, ainda cria interpretações e ainda acredita na identidade;
  2. Descobrir suas máquinas desejantes; esta tarefa consiste em fazer o desejo retomar o que é dele. Através da reorganização das máquinas desejantes, o indivíduo torna-se capaz de criar territorialidades novas para ele, torna-se nômade, preocupado em sentir ao invés de interpretar. Está diretamente relacionado com a capacidade de produzir a si mesmo, aumentar a própria potência potência, criar para si um corpo sem órgãos;
  3. Subordinar o social (molar) às máquinas desejantes (molecular); todo desejo molecular já é investimento molar, esta tarefa permite que o campo social seja reorganizado pelas máquinas desejantes. Esta tarefa consiste em inserir o corpo individual reorganizado como peça da máquina social, fazendo cair o que deve cair e mantendo o que deve manter-se.  É o revolucionário que remaneja o social, uma prática de micropolítica que sujeita as máquinas molares (grandes máquinas sociais) ao desejo molecular (revolucionário).

O esquizoanalista interfere nas máquinas desejantes possibilitando assim a retomada na produção de realidade. “O esquizoanalista não é um intérprete, ainda menos um diretor de teatro, ele é um mecânico, micromecânico” (Deleuze, Anti-Édipo”). Ele é extremamente funcionalista, não pergunta “o que isto significa?”, mas sim “para que isso serve? Como posso tirar mais potência disso?”. Neste ponto, vemos que a esquizoanálise não diz em que mundo devemos viver nem como o mundo deveria ser; isto porque o desejo quer a si mesmo, ele já é revolucionário por si só, não está esperando por algo para realizar-se. A proposta da esquizoanálise não passa por um programa político, nem por um partido, nem por ideologias; consiste apenas em constatar que as coisas vão mal na psicanálise e possibilitar uma alternativa.

“A esquizoanálise tem um único objetivo, que a máquina revolucionária, a máquina artística, a máquina analítica se tornem peças e engrenagens umas das outras” – Deleuze, Conversações
Textos da série Esquizoanálise:

1. O Anti-Édipo
2. Desejo
3. Máquinas Desejantes
4. Corpo sem Órgãos
5. Rizoma
6. Cinco Proposições Sobre a Psicanálise


"Tomem seus desejos por realidades"
“Tomem seus desejos por realidades”

Fonte: Razão Inadequada

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