PICICA: "A
vitória dos garis foi uma vitória da mobilização, da coragem e da
alegria."
Obrigado, garis: amanhã vai ser maior
10/03/2014
Por Marcelo Castañeda
Por Marcelo Castañeda, sociólogo e UniNômade
imagem: coletivo vinhetando
–
A
vitória dos garis foi uma vitória da mobilização, da coragem e da
alegria. No sábado de noite, estava subindo a rua debaixo de um
guarda-chuva e encontrei um gari recolhendo o lixo. Parei para
parabenizá-lo e ele alargou o sorriso. Perguntei sobre as conquistas do
movimento grevista e ele falou dos R$ 1.100,00 e dos R$ 20,00 de tíquete
alimentação. Falei das horas extras e do adicional de insalubridade,
sem falar na garantia de que ninguém será demitido. Ele sorriu de novo, estava feliz, de alma lavada.
É uma vitória em múltiplas frentes. Uma
vitória sobre certos “teóricos” da oportunidade política, que diziam
não ser hora de deflagrar uma greve em pleno carnaval. Estavam errados.
Uma vitória sobre o cinismo, a arrogância e a intransigência do prefeito
Eduardo Paes que, como no caso do preço das passagens em junho de 2013,
disse até sábado pela manhã no Globo que era impossível
atender às reivindicações. A negociação a favor dos garis mostrou que o
prefeito blefava e estava errado em desqualificar o movimento como um
“motim”, como uma minoria de radicais. Foi derrotado nessa disputa. Uma
vitória sobre a narrativa da Globo,
parceira de Paes, que acusou a derrota imposta pelos garis: o Jornal
Nacional deste sábado dedicou de 15 a 30 segundos, sem imagens, para
falar do “fim da greve”.
Nada mal para quem dedicou boa parte dos discursos e imagens para
desqualificar o movimento durante uma semana, em conluio com Paes.
Agora,
a estratégia das organizações Globo é conhecida: nada mais falará sobre
o movimento para que o esquecimento se instale. Mas o estrago está
feito. Uma vitória sobre certas burocracias sindicais, que fazem seus
acordos sem consultar as bases, mostrando que a mobilização é mais forte
que essas estruturas, fadadas ao desaparecimento. Esse formato de
organização sindical sofreu uma derrota diante de um movimento autônomo e
horizontalizado. Por fim, é uma vitória sobre o judiciário que, atuando
em sintonia com Paes e a mídia corporativa, decretou a ilegalidade da
greve em 2 de março, no domingo de carnaval. Os garis venceram o medo
com sua indignação, esperança e alegria.
O
mais interessante é que ninguém antes, ali pelo 20 de fevereiro,
imaginaria um movimento como esse dos garis. Ainda estamos sob os
efeitos de junho: a imprevisibilidade dá as cartas e as estruturas estão
todas balançando. A indignação está à solta e a abertura para a
negociação em prol dos garis mostra, mais uma vez, que o medo mudou de
lugar. O poder constituído pelos governos e mídia corporativa está
vulnerável. E tudo que eles querem é que as mobilizações cessem e que a
Copa aconteça. Mas como saber qual será a próxima mobilização,
atravessando o #NãoVaiTerCopa? Daí a “abertura” para cessar o movimento
dos garis que, gerando solidariedade, certamente cresceria caso as
demandas não fossem atendidas. Exatamente uma semana, foi o tempo
necessário para que essa mobilização com atos diários desabrochasse sua
potência de mudança.
No saldo final, têm-se um prefeito derrotado, um judiciário desmoralizado, a Globo ridicularizada. No contexto das lutas, um dos méritos dos garis foi recolocar a Globo
e o poder na defensiva. Fizeram uma bonita onda laranja, com alegria e
apoio social. Que as demais lutas tirem seus aprendizados e que a luta dos garis embale todas as outras que estão à espreita.
Obrigado, garis: amanhã vai ser maior!
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