fevereiro 27, 2015

"Que força tem Basaglia?", por Hiram Firmino (Revista Ecológico)

PICICA: "Se estivesse vivo, o maior defensor do fim dos manicômios veria Minas como o estado brasileiro mais revolucionário na assistência pública aos doentes mentais. Mas a luta continua"

Que força tem Basaglia?

Se estivesse vivo, o maior defensor do fim dos manicômios veria Minas como o estado brasileiro mais revolucionário na assistência pública aos doentes mentais. Mas a luta continua

Hiram Firmino - redacao@revistaecologico.com.br
Seminário 35 anos de Basaglia no Brasil – A Marca de uma Prática Revolucionária - Crédito: CRPMG
Seminário 35 anos de Basaglia no Brasil – A Marca de uma Prática Revolucionária - Crédito: CRPMG


Foi emocionante, de se chegar às lágrimas. E politicamente esperançoso, confirmando a pegada petista quando se trata de assistir as minorias, a realização do “Seminário 35 anos de Basaglia no Brasil – A Marca de uma Prática Revolucionária”, promovido pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental e a Associação dos Usuários dos Serviços Mentais de Minas Gerais (Asussam), com apoio da Revista Ecológico. Foi durante os dias 3, 4 e 5 de dezembro último, no auditório da Escola Superior Dom Helder Câmara, na capital mineira.

A emoção teve início com o posicionamento firme e engajado do ministro da Saúde, o médico sanitarista e doutor em Saúde Coletiva, Arthur Chioro. Filiado do PT e adepto do espiritismo, ele conclamou a plateia de médicos, pacientes e estudantes a manterem a luta pela liberdade e o tratamento humanizado aos doentes mentais. Direitos esses conquistados pela chamada “revolução psiquiátrica mineira” desde o final dos anos 1990, quando o psiquiatra italiano Franco Basaglia veio ao Brasil e comparou os hospícios do Galba Veloso, Raul Soares e Barbacena a “verdadeiros campos de concentração nazistas”.  E equiparou seus médicos e atendentes a “carcereiros, carrascos e torturadores”, convidando-os também a abandonarem suas práticas medievais.

Na própria pele

“Eu também vivi na pele essa realidade. Até hoje eu sinto e trago em mim o cheiro característico dos hospícios e de seus doentes ali abandonados” – disse o ministro, que fez sua residência médica em hospital psiquiátrico público. “E é por isso que a revolução inspirada em Basaglia tem de continuar e vocês devem se manter vigilantes na luta. Infelizmente, ainda temos muitos manicômios em funcionamento no país e uma direita médica retrógrada que deseja tanto a volta da ditadura quanto desse sistema asilar. Isso é triste! Eles ainda não aceitam ser possível cuidar do doente mental de uma forma diferente, mais humana e inclusiva no sistema hospitalar geral de saúde.”
Chioro lembrou que, comparativamente, os chamados loucos, cujo único pecado foi a vida ter lhes colocado um transtorno mental, ou serem pobres e negros, ainda vivem em condições mais sub-humanas que os condenados por crimes nos presídios: “A América Latina e o Brasil ainda têm uma dívida enorme com esses excluídos sociais para pagar. Somente, então, poderemos sonhar com uma sociedade definitivamente sem manicômios”.
Escuta, Pimentel!

Por fim, o ministro da Saúde elencou, aplaudiu e propôs uma série de novas conquistas e apoios em curso na luta antimanicomial brasileira iniciada com Basaglia. Ele enfatizou a oportunidade política que o movimento de resistência pela saúde mental em Minas terá agora com o governo Fernando Pimentel, do mesmo partido. O que foi corroborado pelo ex-secretário nacional de Atenção à Saúde e ex-secretário municipal de Saúde de BH, Helvécio Magalhães, atual secretário de Estado de Planejamento do Governo Pimentel.

Segundo Helvécio, um governo que na sua propaganda político-eleitoral utilizou o slogan “Ouvir pra governar” tem tudo para, de fato, escutar melhor a sociedade, saber o que acontece e avançar na área de saúde pública, notadamente na causa dos portadores de transtorno mental. “O desafio de um cuidar diferente deles é o que nos estimula e confere um dever social”, afirmou.

 
O “Seminário 35 anos de Basaglia no Brasil” teve apoio da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila), do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais e do Ministério da Saúde.




Fonte: Revista Ecológico

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