PICICA: Depois da frouxidão moral do PT em entregar para o PMDB o Ministério da Saúde, era apenas uma questão de tempo para que o consórcio PT-PMDB voltasse os olhos para a Saúde Mental. O realinhamento no grupo de poder deve encontrar forte oposição nas instâncias em que há participação dos grupos que defendem valores essenciais da nossa inconclusa Reforma Psiquiátrica. Produzir pactos coletivos e gerar ações para o enfrentamento dessa nova realidade, eis o desafio para o movimento de luta por uma sociedade sem manicômios. Para quem quer disputar o imaginário dos brasileiros, sem acesso democrático aos meios de comunicação a tarefa torna-se ainda mais difícil. EM TEMPO: O texto abaixo, de caráter mais amplo, dá uma ideia dos interesses em jogo.
Saindo do Armário: o PMDB, a Crise e a Relação Público-Privado
O documento Uma Ponte para o Futuro, produzido
recentemente pela Fundação Ulysses Guimarães do PMDB, é um excelente
modo de se entender o quadro político que temos no país. A tal da crise
política.
Algumas propostas feitas no documento
desvelam, definitivamente, o que realmente interessa a esse partido que
representa importante fração da burguesia. Aquela que melhor se articula
no imenso território nacional, costurando uma enorme rede de interesses
locais, o que lhe confere a condição de partido com maior representação
na Câmara e Senado.
Destaque-se:
– Fim das despesas constitucionais obrigatórias com saúde e educação;
– Fim de todas as indexações, inclusive para salários e previdência;
– Revisão do marco regulatório de exploração do petróleo;
– Ampliação das privatizações;
– Predomínio dos acordos coletivos sobre as normas legais, resguardados os direitos básicos, nas negociações entre patrões e empregados;
– Mudanças na política externa, com negociação de acordos comerciais com Estados Unidos, Europa e Ásia, com ou sem a participação do Mercosul.
Será necessário dizer mais sobre essas propostas?
Se algumas análises da crise política a
remetem a disputas entre frações da burguesia aliada ao capital
internacional e frações ligadas ao mercado interno e ao rentismo, dá
para entender o título do citado documento. O futuro é uma articulação
entre estas frações da burguesia, para sair da crise política pela
fórmula, “sai pobre, entra rico”.
Enquanto isso, prossiga-se o vale-tudo
para criar o clima para resolver a crise tal como proposto. Está aí a
paralisação dos caminhoneiros autônomos, cuja primeira reivindicação é a
mudança do governo…
Se o documento do PMDB desnuda os reais
interesses em jogo, o recente desastre da barragem da mineradora
Samarco, subsidiária da Vale, mostra como são as relações entre o
privado e o público e a falácia da “eficiência “ do setor privado, tão
propalada pela mídia. Eficiência pra quem?
Imagine-se que a barragem fosse da Vale
estatal. Ou da Petrobrás. Já teria sido vasculhado o contrato de
construção, o projeto, as imperfeições e falhas na operação e manutenção
preventiva,a a baixa contribuição da empresa em royalties, além de
suspeitas de corrupção, é claro. E como explicar a entrevista do
governador de Minas na sede da Samarco/Vale, empresa que em última
análise é a responsável pela tragédia? E a simplificação do
licenciamento ambiental em Minas para “corrigir o excesso de
burocracia”?
Não será surpresa se sobrar para “o funcionário que opera a comporta”, ou coisa do gênero.
Conclusão que se impõe é que com o
modelo tipo parceria público-privada de grande porte que caracteriza a
governança nacional, não há saída que atenda aos interesses da maioria
da população.
Então se as coisas se passam desse modo
com a Constituição Cidadã elaborada em conjuntura quase oposta à atual,
por que pensar que mudando-a numa conjuntura adversa , as coisas vão
mudar para melhor?
Se o time adversário joga como joga, é necessário que se jogue na mesma proporção, em outra direção, é claro.
A disputa deve se dar no território em que “os de cima”, de longa data, sabem que importa: o imaginário da população.
Imaginário trabalhado por muitos anos
seguidos básicamente pela mídia, que até agora não tem marco regulatório
que garanta a sua pluralidade, e que impregnou uns poucos “conceitos”
nos corações e mentes da esmagadora maioria. Aí estão, como exemplo, o
excesso de impostos, a ineficiência e corrupção do Estado, a política
como sujeira, contrapostos às virtudes do “mercado” e do setor privado,
para citar o núcleo dessa estratégia.
A saída, pois, é trabalhar a cabeça do
“povão” com poucos conceitos também, mas tão siginificativos quantos os
usados pelo adversário, inclusive para entender o vale-tudo oportunista.
Até porque mudanças estruturais só ocorrerão a médio ou longo prazo. A tal da crise abre uma oportunidade para isso.
O que e como?
Eis o que se discutir.
Fonte: Brasil em 5
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