novembro 27, 2015

Rompendo fronteiras entre jornalismo, quadrinhos e ativismo. Por Carolina Ito (BLGO DA REDAÇÃO)

PICICA: "Portal colaborativo Cartoon Movement reúne produções de cartuns, charges e jornalismo em quadrinhos, buscando superar banalidade e mesmice que marcam velha mídia"

Rompendo fronteiras entre jornalismo, quadrinhos e ativismo

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“Casualties of war” (“vítimas da guerra”), por Miguel Villlalba Sanchez (Espanha). Texto do cartum: vítima do terrorismo / dano colateral

Portal colaborativo Cartoon Movement reúne produções de cartuns, charges e jornalismo em quadrinhos, buscando superar banalidade e mesmice que marcam velha mídia

Por Carolina Ito

“There is more than one truth” (“existe mais que uma verdade”) é o slogan inscrito no topo da página do portal Cartoon Movement. A escolha dessa frase tem a ver a história de um dos fundadores do portal, o jornalista holandês Thomas Loudon, que foi correspondente no mundo árabe ao longo de sua carreira.

Ele sempre se perguntava por que, apesar de seus colegas de trabalho de cobrirem os mesmos acontecimentos, acabavam produzindo histórias completamente diferentes. Ele percebeu que isso ocorria porque todos tinham conhecimentos diferentes e os canais em que trabalhavam divergiam quanto às prioridades editoriais (para ler a história completa em inglês, clique aqui).

O Cartoon Movement é um portal colaborativo que reúne cartuns, charges e reportagens em quadrinhos produzidos por profissionais de vários países. A filosofia é justamente oferecer um espaço para que diferentes vozes possam se manifestar, valorizando o trabalho de cartunistas e quadrinistas que, dificilmente, teriam espaço para publicarem em grandes veículos de comunicação.


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“Meddling in Syria” (“interferência na Síria”), por Tjeerd Royaards (Holanda), um dos fundadores do portal

Criado em dezembro de 2010 pelos jornalistas Thomas Loudon, Arend Jan van den Beld e pelo editor de cartuns Tjeerd Royaards, o CM já publicou trabalhos de profissionais de 80 países e cerca de 30 reportagens em quadrinhos, de acordo com a dissertação de mestrado de Ariel Lara de Oliveira, intitulada  “O jornalismo em quadrinhos na internet: as reportagens gráfico-sequenciais do site Cartoon Movement”, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em entrevista, Ariel comenta que as principais características do portal envolvem o fato de ele ser nativo da internet, movimentar uma rede colaborativa de quadrinistas e jornalistas, não veicular publicidade, apresentar diversidade temática e publicar quadrinhos interativos.

O CM mantém a independência editorial e comercial pela venda dos direitos de uso de imagem para outros veículos funcionando “como um ciclo, em que, quanto maior a variedade, mais se vende, pois mais veículos podem se interessar por esse conteúdo diverso”, de acordo com o pesquisador.

O portal conta com colaborações vindas da Ásia, África, Oriente Médio, América do Sul, América Central, Austrália, América do Norte e Europa. Os cartuns produzidos sobre os atentados em Paris e o conflito na Síria, por exemplo, mostram diferentes abordagens.

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“Souls over Syria” (“almas sobre a Síria”), por Morhaf Youssef (Síria). Balões: Como está lotado hoje… / A gente deve estar sobre a Síria.

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“November 13”, por Bernard Bouton (França)

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“The cause” (“a causa”), por Nanda Soobben (África do Sul). Texto do cartum: Quando o oceano turbulento parece mais seguro do que sua terra!

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“Another bloody friday” (“outra sexta-feira sangrenta”), por Amorim (Brasil)

Um aspecto a ser considerado é a falta de mulheres com trabalhos publicados, o que deixa a desejar em relação à proposta de diversidade defendida pelos idealizadores. Entre eles, estão os cartunistas brasileiros Silvano Mello, Amorim, Elihu Duayer, Daniel Clós César, Jarbas Domingos, Cau Gomes e Osmani Simanca. A lista também inclui Augusto Paim que, a partir de parcerias com outros profissionais, desenvolve trabalhos de reportagem em quadrinhos.

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Capa da reportagem em quadrinhos “Inside the Favelas” (“dentro das favelas”), por Augusto Paim e MauMau

(Veja essa e outras reportagens na íntegra aqui)

No caso do Cartoon Movement, Ariel observa que “é por ser independente e alternativo que se arranjam novas formas de produção e publicação, é o tipo de dificuldade que ajuda a forma a evoluir”. Nesse processo, as relações entre jornalismo e quadrinhos vêm se estreitando, possibilitando novos formatos, novas formas de publicação e novas vozes em jogo.

Fonte: Blog da Redação

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