Nota do blog: Há uma guerra suja contra a pobreza na maior metrópole do país. Companheir@s do movimento por uma sociedade sem manicômios manifestam preocupações com a população de rua, entre eles o destino que o poder público municipal de São Paulo quer dar aos eventuais portadores de transtornos mentais. Aqui todo cuidado é pouco, a despolitização do tema costuma servir aos interesses da psiquiatria conservadora, que gosta de ler o mundo a partir do seu umbigo, deixando de valer-se de outros conhecimentos para analisar a complexidade da realidade social. Por trás das "boas intenções" um neo-higienismo toma conta de algumas políticas públicas do município de São Paulo.
Pela net, em algumas listas de discussão da Reforma Psiquiátrica brasileira, os militantes mostram-se indignados, como na manisfestação abaixo:
"Fico muito incomodada com as propostas da atual gestão municipal que coloca como solução mágica a "medicalização" das questões sociais.
De uma forma mais requintada o discurso da prefeitura e aliados é o seguinte: quem (sobre)vive na rua é criminoso, drogado, louco ou burro (quem mais se recusaria a ir aos lindos albergues novinhos em folha? discutir a diferença entre morar e habitar passa longe).
O que vemos em São Paulo é a "limpeza" e a criminalização da pobreza. A falta de habitação é gritante e a prefeitura promove a especulação imobiliária em detrimento das habitações populares. Milhares de famílias têm sido expulsas de suas moradias, já bastante precárias, em prédios abandonados (que o valor de impostos devidos aos cofres públicos é muito maior do que o valor do imóvel, mas o direito à propriedade privada é soberano) ou em favelas que vêm sendo substituídas por grandes condomínios de luxo ou pontes mirabolantes para facilitar a vida de quem anda de carro. Nem quero falar sobre as rampas "antigente" construídas embaixo de grandes viadutos da cidade.
Fiquei pensando se o dinheiro aplicado na implantação e manutenção desses novos serviços fosse investido em moradias (mutirões, bolsa aluguel, residências terapêuticas...) não seria melhor utilizado? Assim, talvez os próprios CAPS já existentes pudessem fazer um trabalho mais eficiente.
Sem moradia digna, sem trabalho, sem respeito, sem valor, sem oportunidades, sem nada... Quem resiste a este contexto?
De que saúde estão falando?
Tenho amigos dos movimentos de moradia e da população de rua que estão acompanhando mais de perto a implantação dos novos serviços. Se aparecerem notícias boas repassarei, com certeza, para esta lista. Até lá, no mínimo desconfio.
Para quem quiser saber mais sobre o que acontece em São Paulo, principalmente no Centro da cidade, recomendo os sites:
http://dossie.centrovivo.org
http://centrovivo.org
Abraços"
Leia este outro depoimento:
"Acho a questão dos moradores de rua contundente.
1- Porque nossos serviços territoriais não dão conta deles, que transitam pelos territórios.
2- Porque, se por um lado, necessitam de diversos tipos de cuidado, esse cuidado deve ser construído a partir das necessidades e percepções deles. Muitos se indignam ao ver pessoas morando nas ruas, achando que o poder público deveria retirá-los, repetindo, em certa medida, propostas de "limpeza" urbana semelhantes a movimentos que já conhecemos. Só que há pessoas que QUEREM e GOSTAM de morar na rua. Muitos não, mas outros sim. Quem já trabalhou com moradores de rua sabe disso.
3- Para pensar em políticas para essa população, é necessário levar em conta sua singularidade e conhecê-la. Locais de apoio são interessantes, pois às vezes eles não têm sequer onde usar banheiro ou tomar banho. Aqui em [...] há uma única praça central onde podem tomar banho. As outras, que têm água têm também polícia que não permite aos mesmos usá-la pro banho.
4- Há muitas "tipologias" de moradores de rua: aqui em [...], os carroceiros moradores de rua geralmente vivem com a família, e são mais organizados e unidos entre si, por exemplo. Muitos deles participam do circuito de tráfico de drogas, mais até que outros tipos de moradores.
5- Há muitas instituições de caridade e outras que fazem trabalhos com os moradores, só que falta ao poder público articular minimamente e avançar nessa atuação. Tem o sopão de fulano, o café da manhã de beltranos, o jantar de cicrano... Os moradores transitam conhecendo todo esse circuito e, às vezes tendo que submeter-se a palestras educadoras e coisas que consideram chatas pra conseguir o prêmio: um prato de comida!
Enfim, qualquer política pública que desconsidere a visão de mundo, necessidades e desejos de seus maiores interessados ou não dá em nada, ou representa uma imposição construída a partir de relações de poder dos mais fortes."
Nota do blog: Para entender melhor o imbróglio da adminstração Kassab leia o texto abaixo:
Guerra suja na cidade intolerante
por João de Barros
Na nossa metrópole que em geração de riqueza só perde para o país e para o Estado de São Paulo, marchando para ser a terceira maior do mundo atrás de Tóquio e Cidade do México, dá-se uma guerra surda. De um lado, um indefeso exército de 4 milhões de pobres, justamente os que produzem riquezas, e de outro um poderoso trio: especuladores imobiliários, construtoras e agentes do poder público. Sob o pretexto de “limpar a cidade”, a trinca passa seus tratores sobre casas e barracos, leis, sobre a própria Constituição e o direito básico à moradia e à inviolabilidade do lar. Enchem bolsos cada vez mais cheios e condenam os pobres a uma vida cada vez mais indigna.
Leia mais em Caros Amigos (texto parcial) ou vá na banca (texto integral)
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