TAQUI PRA TI
PERES: O SANTO GUERREIRO
José Ribamar Bessa Freire
25/05/2008 - Diário do Amazonas
Quando o pintor carioca Di Cavalcanti morreu, em 1976, o cineasta baiano Glauber Rocha decidiu documentar a morte do amigo à sua maneira. Sem grana, pediu emprestados pedaços de filmes virgens e uma câmara e se mandou para o velório no Museu de Arte Moderna. Depois, acompanhou o enterro até o cemitério São João Batista, em Botafogo, filmando tudo.
O documentário inicia com flores ocupando toda a tela. Ouve-se a voz de Glauber Rocha: “Agora enquadra o caixão no centro, da esquerda para a direeeeeita”. Aparece, então, o cadáver de Di, o pintor das favelas, das festas populares, das mulatas. “Dá um close na cara dele”, grita Glauber, e continua narrando o velório, atropelando as palavras com emoção como se estivesse irradiando uma partida de futebol. Na hora do sepultamento, Glauber carnavaliza com a música: “O teu cabelo não nega, mulata...”.
“As poucas pessoas que estavam lá ficaram chocadíssimas – conta Glauber. Diziam que eu estava tumultuando o enterro, estava profanando um ato católico. Não é nada disso. Meu filme é um manifesto contra a morte, uma homenagem de amigo para amigo. Di era um homem alegre. Filmar meu amigo Di morto é um ato de humor modernista. Por que enterrar as pessoas com lágrimas e flores comerciais? O filme é uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita-trágica condição”.
O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes, em 1977. Nessa época, ele foi exibido no porão do velho ICHL, em Manaus, numa projeção do cine-clube organizado por Tomzé Valle da Costa. Logo depois, sua exibição pública foi proibida. Com o filme, Glauber manifestou sua indignação contra os urubus que queriam se aproveitar politicamente do cadáver e documentou “a ressurreição que transcende a burocracia do cemitério”, materializando, como ele disse, “a vitória de São Jorge sobre o Dragão”.
Lembrei-me do filme sobre Di Cavalcanti, quando tomei conhecimento, emocionado, da morte do senador José Jefferson Carpinteiro Peres, líder do PDT. Ele, que era José e era Carpinteiro, foi uma espécie de santo guerreiro na luta contra o dragão da maldade, representado pela desintegração dos valores morais da sociedade brasileira.
Leia o texto do imortal José Ribamar Bessa Freire na íntegra em Taquiprati
Um comentário:
Olá Rogélio, tudo bem?
Tenho acompanhado os posts de seu blog há algum tempo.
Na realidade vim aqui pedir sua permissão para linká-lo no nosso blog que também trata dos assuntos referentes a Reforma Psiquiátrica.
Se quiser dar uma conferida o endereço é http://sos-saudemental.blogspot.com.
Muito obrigado!
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