maio 17, 2008

Lento acalanto para Ferreira Gullar

Ferreira Gullar por Diogo Dauriol
CANTATA DE CABECEIRA PARA OS QUE SÃO DO MEU CHÃO E DO CORAÇÃO (II)

Lento acalanto
para Ferreira Gullar

Aníbal Beça ©


No catre
os sonhos descem do teto
fios finos:
serpentinas de ontem.
peçonha
Ficam balouçando
presas de bote
varrição coleada
pelo corpo
escarificando
ancinho no jardim da pele
capinando rugas

Não é um sonho ligeiro
esse sonho de estrias
trilhando ossos

Nem há nenhuma vértebra
na regência dos gestos
apenas
ausência

Mas há uma brecha de luz no rosto
aquecendo o musgo dos olhos
len ta men te
desfiando
d
e
s
a
f
i
o
s

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