setembro 04, 2011

"A xenofobia ganha espaço nos parlamentos da Europa", por Luna Bolívar

PICICA: Enquanto isso, no Brasil o Partido dos Trabalhadores, em seu IV Congresso, estabeleceu cota partidária para mulheres, jovens e negros. Até aí tudo bem. Mas "esquecer" dos indígenas é um sinal dos tempos. Mais uma vez o PT do "Sul Maravilha" atropela o PT do "Norte Deslumbrado", sem nenhuma resistência deste último. Esse sintoma foi antecedido de um outro exemplar, desta vez entre os blogueiros progressistas: um deles, amazônida, na célebre entrevista com o Lula perguntou porque este não era mais "o cara" no Acre, deixando de lado a pergunta que não quer calar: "a quem interessa a política de construção de sessenta hidrelétricas na Amazônia?" Por essa e por outras, o PT definitivamente jogou na lata do lixo da história seu compromisso com a causa indígena. Líderes indígenas, atualmente, defendem sua improvável participação na riqueza do subsolo onde vivem. Taí uma medida de justiça que poria fim à penúria em que vivem no Brasil. Não serão ouvidos. Lástima! Isso me lembra um amigo filósofo já falecido que reconhecia sua total ignorância sobre a cultura indígena, bradando em alto e bom som que era herdeiro da cultura grega. Faz sentido. É a lógica do "f....-se o mundo que eu não me chamo Raoni".


A xenofobia ganha espaço nos parlamentos da Europa

Por Luna Bolívar / Tradução de Janaína Marcoantonio
  • “Quando o insatisfeito não encontra a quem se dirigir, busca seus próprios representantes”
  • “Os populistas dinamarqueses combinam o discurso anti-imigração com o chauvinismo caricato”
  • Propostas como “a liquidação dos ciganos” não são pouco frequentes na Europa Oriental

Siv Jensen, líder de um dos partidos populistas de direita mais fortes da Europa, o norueguês Partido do Progresso, vota em Oslo, em 2009. Nessas eleições, sua formação obteve 23% dos votos. (AP/ Scanpix, Erlend Aas)

Dificilmente 50 policiais adicionais representarão um verdadeiro perigo à livre circulação dentro da União Europeia. É claro que a nenhum cidadão europeu será negada sua entrada na Dinamarca. E, de fato, ninguém acha que os postos alfandegários que Copenhague mandou reabrir no começo de julho sirvam para combater o crime entre fronteiras.


Mas nada disso importa. A meia centena de agentes dinamarqueses tem outro valor, simbólico: diz a Bruxelas que os acordos comunitários podem ser cumpridos ou não, e aos cidadãos, que o governo está agindo. O efeito colateral é um golpe ao Estado de direito, porque o ato vem a demonstrar o que os especialistas constatam já faz algum tempo: a capacidade crescente dos partidos de extrema direita europeus de posicionar seus assuntos na agenda política.



O Partido Popular Dinamarquês (DF) – antieuropeu, xenófobo e, segundo algumas opiniões, até mesmo racista – conquistou 13,3% dos votos nas eleições de 2007. Esse resultado lhe rendeu 24 cadeiras confortáveis no Folketing, o Parlamento, e a possibilidade de impor exigências a um Executivo necessitado de seu apoio. A luta contra a delinquência que vem do exterior é uma delas. Se pudessem, obrigariam a frear completamente a imigração, porque permitir que se estabeleça em um país “um somali que não sabe fazer nada não pode ser”, dizia Pia Kjaersgaad.


“Quando Pia Kjaersgaad rompeu com o Partido do Progresso e fundou o DF, levou com ela parte do programa da antiga formação. Mas logo substituiu o neoliberalismo e a hostilidade aos impostos por princípios clássicos da socialdemocracia, aos quais uniu os sentimentos contrários à chegada de imigrantes”, explica o cientista político Jørgen Goul Andersen, que descreve a receita do sucesso: “Os populistas dinamarqueses foram capazes de combinar o discurso anti-imigração com o chauvinismo caricato”.


Hoje, o eleitorado do DF é mais trabalhador que o do próprio Partido Socialdemocrata. E esse caso não é único no Velho Continente. A globalização, o medo da decadência social, o individualismo traído pelas políticas neoliberais, os ressentimentos contra as minorias ou contra os estrangeiros… para essas vicissitudes do século XXI, parte da sociedade parece não receber resposta satisfatória da política tradicional, e “quando o insatisfeito não encontra a quem se dirigir no sistema de partidos”, adverte o professor alemão Richard Stöss, “busca seus próprios representantes”.

Por suas manifestações sobre o islã, Geert Wilders teve que responder diante dos tribunais em mais de uma ocasião. Na última, em 2010-2011, foi acusado de incitação ao ódio e ficou livre de todos os cargos. (AP/ Pool Koen van Weel)

Representantes como o holandês Geert Wilders: um “homem do povo” longe desses políticos que estão tão distanciados da rua; alguém a quem a correção não impede de “chamar as coisas pelo nome”; um personagem carismático que conhece os temores das pessoas e sabe dar a elas explicações simples, compreensíveis, quase sempre acabando em um culpado ou inimigo, que pode ser o islã.


List Pim Fortuyn foi o primeiro a descobrir e explorar para si a região muçulmana nos Países Baixos, à qual qualificava de “cultura atrasada” e “ameaça para a sociedade liberal”. “Antes de 2001-2003, o islã era um assunto do qual nenhum partido falava; isso fez com que Fortuyn ganhasse seguidores”, comenta Paul Lucardie, cientista político da Universidade de Groninga, a mesma em que, na sua época, o sociólogo Fortuyn deu aulas.


Em janeiro de 2002, as pesquisas estimavam para Fortuyn 15% dos votos. Três meses depois, ele morria assassinado por um ecologista. O resultado final para o partido que levava seu nome, o LPF, foi de 17%: o melhor já alcançado por uma formação nova na Holanda. A isso se seguiram a participação no governo e a ruína: a coligação só durou 87 dias.


A LPF nunca se recuperou e o espaço vago no espectro do que Lucardie chama de “nacional-populismo” veio a ser ocupado por Wilders: predicando a proibição do Alcorão – livro que compara com Mein Kampf, de Adolf Hitler –, seu Partido pela Liberdade (PVV) conquistou 15,5% dos votos nas eleições antecipadas de 2010, foi elevado à terceira força e, como o DF dinamarquês, à agrupação que “tolera” a ação governamental e a influencia proporcionalmente.


Em 16 de janeiro de 2011, a advogada Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, foi eleita para suceder seu pai na direção da Frente Nacional francesa. (AP/ Lionel Cironneau)

“Os índices de mortalidade entre os partidos de nova criação são enormes”, diz Goul Andersen. “Muitos falecem antes de chegar a entrar em um Parlamento”, indica Lucardie. Outros são mortos ao assumir responsabilidades políticas, quando se trata de populistas de direita que de repente precisam pôr em prática promessas impossíveis. No entanto, na última década, um vento parece soprar a favor deles.
Segundo as pesquisas, a Frente Nacional, que agora é dirigida pela filha de Jean-Marie Le Pen, é a que mais apoia a UPM – União Para o Mediterrâneo – de Nicolas Sarkozy. As duras ações do governo francês contra a população cigana, do verão passado, são interpretadas como uma tentativa dos conservadores de encurtar distâncias com a direita: outra marcação do ritmo dos extremistas. No último mês de abril, os Verdadeiros Finlandeses subiram, com 19,1% dos votos, ao terceiro partido do país; não fazem parte do Executivo porque seu antieuropeísmo é incompatível com o bom visto dado por Helsinki ao resgate de Portugal. Nos comícios regionais de 2010, a Liga Norte de Umberto Bossi (12,8%) tornou-se a peça-chave da convulsa política italiana.


Também em 2010, pela primeira vez, os Democratas Suecos, autodesignados “defensores da cultura sueca” frente à imigração, à islamização e à globalização, foram representativos no Riksdag (5,7%). Em 2009, o norueguês Partido do Progresso – autoritário, etnocêntrico, antissistema e antissemita – teve o melhor resultado da sua história em eleições parlamentares (23%). Em 2007, os suíços da União Democrática de Centro foram os mais votados nos comícios federais, com 29%, e no ano passado sua proposta de proibir a construção de almádenas e acelerar a expulsão de estrangeiros que cometessem delitos foi aprovada via referendo.


E tudo isso sem se deter a fazer uma recontagem das eleições municipais, regionais ou europeias. Por seu caráter de “partidos de protesto”, essas agrupações costumam conseguir muitos votos com as urnas que os eleitores consideram “pouco importantes”. Assim, em 2009 chegou-se ao paradoxo de que, no Parlamento Europeu, aumentou o número de cadeiras ocupadas por antieuropeístas.


Um seguidor de Ataka protesta contra a visita do primeiro-ministro turco à Bulgária. Esse grupo se opõe ao ingresso da Turquia na União Europeia e é fortemente anti-islamita. (AP/ Valentina Petrova)


A parte oriental do continente também não escapa à tendência. Formações xenófobas, homofóbicas, nacionalistas e religiosamente intransigentes superam as porcentagens a partir das quais chegam às Câmaras, empurram os conservadores para a direita, radicalizam sociedades. Podem se chamar Ataka na Bulgária, Jobbik na Hungria ou o Partido da Grande Romênia: são feitos nos mesmos moldes e não se diferenciam tanto como seus irmãos ocidentais poderiam pensar. O palavrório contra o imigrante “é substituído aqui pelos ataques a ciganos ou a outras minorias”, explica Kai Arzheimer, professor no Instituto de Ciências Políticas de Mainz. Assim, propostas como “a liquidação dos ciganos” não são pouco frequentes.


E a Espanha e a Alemanha? “Seguindo critérios puramente objetivos, também nesses países os partidos de extrema direita deveriam ter sucesso”, diz Arzheimer. A Sociedade Austríaca para o Assessoramento e o Desenvolvimento Políticos analisa que na Espanha – mas também na Grã-Bretanha – os partidos conservadores tradicionais cobrem suficientemente o âmbito da direita, de maneira que o eleitor não precisa buscar em outros lugares. “E, claro, no caso alemão, pesa a herança do nazismo, como também no espanhol, certamente, a sombra do franquismo”, acrescenta Lucardie.


“É provável que sim”, responde Arzheimer à pergunta de se daqui por diante veremos mais populistas de direita se sentarem nos parlamentos. As consequências para a democracia dependerão da capacidade de resposta do sistema, dos partidos estabelecidos, da possibilidade que as minorias e os excluídos encontrem de se organizarem e fazerem valer seus direitos. Mas, em qualquer caso, os especialistas tranquilizam: “não podemos esquecer que o potencial de voto também é limitado”, lembra Goul Andersen, “como o são as possibilidades de crescimento estrutural do nacional-populismo”, continua Lucardie, “que eu não acho que tenha muitas opções de superar a barreira dos 25%”.


Fonte: Periodismo Humano

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