abril 30, 2012

Pasolini, televisão e poder / De como produzir vídeos-de-urgência é coisa de doido, de quem está fora-do-eixo.


PICICA: Não raro, tudo que não presta é contabilizado como coisa de doido. Até o Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) dizia, lá na década de 60, que televisão é uma máquina de fazer doido. Descontado o caráter polissémico da palavra, vou, humildemente, discordar daquele mestre do humor. A TV está mais para fábrica de fazer imbecis do que fazer doidos. Sua capacidade de deformar a comunicação é tanto pior quanto menor for a taxa de informação. O caso do Mensalão é exemplar. Certamente houve um crime que deve ser apurado. Chama-se Caixa 2, crime que sustenta campanhas políticas bilionárias. O que se subtrai desse crime é o fato de que somos governados a partir de interesses privados. Grandes empresas mandam e desmandam no país. E reforma política que é bom... neca de pitibiriba. Ademais, já não é de se perguntar sobre a que conjunto de interesses servem alguns conteúdos específicos de informação hegemonicamente impostos de cima para baixo, mas em que marco e como elas são produzidas. Na esteira da crise da esfera pública burguesa, os mass-media capturaram o ethos moderno de organização social, ávida por novidades. No caso da televisão, temos uma enxurrada de programas que invadem o campo existencial do espectador produzindo espaços e tempos simulados. Aqui a porca torce o rabo. É aí que as mediações simbólicas do olhar dão lugar a místicas liberatórias, mediante a satisfação alucinatória dos desejos. Como afirma o professor Muniz Sodré, ao invés da libertação política a liberação psicológica... falsa, acrescento eu. Daí, quem sabe, a alusão à doidice-nossa-de-cada, segundo Sérgio Porto. Não é à toa que a indústria passou a organizar a "doidice" das massas mediante uma alteração na matriz da comunicação e da informação, onde tudo virou um espetáculo. O "cultural" passou a ser o instrumento operador dos fluxos sociais. Quebrar esse monopólio é uma tarefa pra quem está "fora do eixo", disposto a combater padrões reacionários e conformistas da realidade atual. Quando, em 1989, realizei o vídeo Balbina no País da Impunidade - um vídeo de emergência para fazer contraponto à mídia publicitária do governo federal e à mídia movida a interesses comerciais), e que serviu à luta contra barragens na Amazônia - eu 'tava fora-do-eixo há muito tempo. Convenhamos, fazer um vídeo naquelas circunstâncias - em que a imbecilidade não era menor que a de hoje - só sendo muito doido. Me orgulho dessa doidice. Doidice compartilhada. Nunca estive sozinho, graças-(a)deus.

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