abril 12, 2012

"O dia em que o bar do Armando virou território espanhol" (que não me ouçam os patrícios)


PICICA: Enquanto preparo um pequeno documentário sobre a homenagem que os amigos prestaram na despedida do nosso querido Armando, que nos deixou há dois dias, ofereço aos leitores um fragmento de minhas memórias da República Livre do Armando, como testemunho do território de liberdade ali criado. Apenas o vídeo acima é novo: uma pérola desse mago da música que é Paco de Lucia.

O dia em que o bar do Armando virou território espanhol

PICICA: Numa das noites "calientes" de Manaus, baixou no bar do Armando um cavalheiro que parecia vir de muito longe. Depositou um estojo com um violão numa das cadeiras, e noutra ficou a contemplar o Teatro Amazonas. Dois músicos, atraídos pelos encantos de provável diálogo musical, acercaram-se. Depois de uma breve conversa, o músico sacou o violão de muitas cordas e pôs-se a dedilhar várias pérolas da cultura espanhola. A praça São Sebastião foi inundada pela música andaluza conhecida como flamenco, de rara beleza. O bar do lusitano Armando transformou-se numa noite em território espanhol. Que não me ouçam os parentes portugueses, inimigos cordiais do povo castelhano. Reza a lenda que o jornalista Deocleciano Bentes, em visita à família de Armando em Portugal, ao ver o patriarca a tomar o sol da manhã na varanda da casa, resolveu pregar-lhe uma peça, pois que a residência da família ficaria na fronteira com a Espanha. Em alto e bom som, gritou: "Ô, de casa! Estou na Espanha?", ao que recebeu uma resposta desaforada: "Na Espanha é o c..., ora pois!". Virou anedota. E eu aqui a contá-la com a legitimidade familiar de quem tem avós maternos portugueses e bisavô paterno espanhol. Hoje ao ouvir Paco Lucia no Diario Gauche, lembrei-me daquela noite memorável. Reproduzo-a para os leitores do PICICA. O presente post é uma homenagem ao mais brasileiro dos lusitanos - o nosso querido Armando -, internado no Hospital Beneficência Portuguesa (já em fase de recuperação), como prova de gratidão pelo seu inquebrantável espírito de tolerância para com a diversidade da fauna que frequenta seu bar. Grande Armando!

Janeiro/2011 

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