abril 10, 2012

"Dilma 77 e o Outono Frio", por Hugo Albuquerque

Dilma 77 e o Outono Frio

PICICA: "(...)a oposição está paralisada. Seja ela à esquerda - seja a velha extrema-esquerda - ou à direita - o bloco oposicionista além de reduzido nas últimas eleições, está debandando e o que resta está sob ataque e dividido. Dilma tem uma popularidade alta porque seu governo, embora não venha alcançando altas taxas de crescimento, leva a cabo, por inércia, a política de distribuição de renda e ampliação do mercado interno deixada pelo seu antecessor, o que deixa no ar a sensação térmica de empenho na justiça social. Sua origem de classe e sua postura, por sua vez, abranda maiores oposicionismos vindos da classe média."
Folhas de Outono - Millais
77% de aprovação, esse é o número - recorde, por sinal - de Dilma Rousseff depois de 15 meses de governo. Ainda longe da aprovação deixada pelo seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, mas à frente dele no mesmo período de governo, Dilma governa de um modo próprio e alheio à tradição petista, como já enfatizamos: busca distender relações com a mídia de massa, deixando de lado a relação com ativistas (alguns históricos aliados do Partido dos Trabalhadores), além de articular com toda sorte de setores, alguns dos quais antagônicos à esquerda. O clima político de normalidade absoluta - e normalização suprema - cria um clima político de outono frio.

Se, por um lado, militantes - ambientalistas, midialivristas ou pró liberdades civis - se encontram na berlinda, a direita parlamentar compõe o governo desde que aceite suas regras - mas não há mais espaço para antagonismos capitais. A (justa) pressão sobre Demóstenes Torres, senador demista e estandarte da oposição desde o primeiro governo Lula, é uma mostra disso: para além das pantomimas que o governo pode ensaiar no parlamento, em nome do consenso, na prática, não há mais espaço para destoar tanto.

E a queda de Demóstenes leva por tabela todo o DEM junto - o mais ressentido e conservador partido anti-lulista, rachado ainda pela manobra do prefeito paulistano Gilberto Kassab que calhou no PSD, fisiológico por natureza. E pelo meio é que se estrutura a governança do Novo Brasil, no qual velhos caciques precisam virar cristãos novos para sobreviver. E Demóstenes é figura para lá de marcada, inclusive pela forma como sua relação com o inefável Carlinhos Cachoeira tem ligação com os ataques iniciais (e pesados) ao governo Lula

Nesse ínterim, a oposição está paralisada. Seja ela à esquerda - seja a velha extrema-esquerda  - ou à direita  - o bloco oposicionista além de reduzido nas últimas eleições, está debandando e o que resta está sob ataque e dividido. Dilma tem uma popularidade alta porque seu governo, embora não venha alcançando altas taxas de crescimento, leva a cabo, por inércia, a política de distribuição de renda e ampliação do mercado interno deixada pelo seu antecessor, o que deixa no ar a sensação térmica de empenho na justiça social. Sua origem de classe e sua postura, por sua vez, abranda maiores oposicionismos vindos da classe média.

Não resta dúvida que o campo aberto deixado ao fim do governo Lula lhe dava possibilidades maiores, mas o caminho escolhido é o fogo brando do cordialismo, a moderação sóbria e o inercialismo frente ao legado que herdou - que ela repete dando fôlego ao seu aspecto social-desenvolvimentista. Não existe uma força política com uma agenda sólida, e disposição para fazer incursões na massa, capaz, neste momento, de lhe fazer frente. A postura da esquerda libertária, ainda que tenha em mente como horizonte de atuação a produção de subjetividade, o devir-multidão e a atuação transversal, não consegue pôr isso em prática, seja pela falta de densidade no seu próprio campo ou por suas dificuldades estratégicas. 

Embora as eleições municipais não sejam determinantes no plano federal - o PT ganhou a Presidência da República em 2002 com pouquíssima prefeituras -, um mau resultado da oposição pode fazer toda a diferença para sua sobrevivência - mas se há uma disputa realmente pungente é a de São Paulo, na qual José Serra enfrenta o ex-ministro da educação Fernando Haddad, enquanto o agora governista Gabriel Chalita também tem uma candidatura competitiva (em outras palavras, é o que resta da oposição contra o PT e também contra o governismo não-petista).

No mais, em uma das melhores sacadas da blogosfera este ano, o Sensho fez uma belíssima observação do que a esquerda deveria aprender com os evangélicos: sim, baixemos a bola da nossa petulância, a esquerda que tanto fala em plebe, reclama das desditas da história e fala em becos-sem-saída esquece o fenômeno espantoso de crescimento da religião evangélica pelo país nos últimos anos; será que é tão impossível assim chegar às massas e trabalhar junto com elas? Por que há tantas igrejas evangélicas e tão pouca esquerda pelas periferias?  É essa a condição necessária seja para uma mudança de rumos do governo Dilma ou para estabelecimento de uma alternativa para ela no médio prazo.
Fonte: O Descurvo

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