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PICICA: "(...)a universalização de uma escola pública de qualidade e de um
serviço de saúde que realmente funcione não pode ser feita sob a
dinâmica do lulismo, pois ela exige investimentos estatais só possíveis
pela taxação pesada sobre fortunas, lucros bancários e renda da classe
alta. Ou seja, isso exige um aumento de impostos sobre aqueles que vivem
de maneira nababesca e que têm lucros milionários no sistema
financeiro."
VLADIMIR SAFATLE
Os limites do lulismo
Há alguns anos, o cientista político André Singer cunhou o termo
"lulismo" para dar conta do modelo político-econômico implementado no
Brasil desde o início do século 21.
Baseado em uma dinâmica de aumento do poder aquisitivo das camadas mais
baixas da população por meio do aumento real do salário mínimo, de
programas de transferência de renda e de facilidades de crédito para
consumo, o lulismo conseguiu criar o fenômeno da "nova classe média".
No plano político, esse aumento do poder aquisitivo da base da pirâmide
social foi realizado apoiando-se na constituição de grandes alianças
ideologicamente heteróclitas, sob a promessa de que todos ganhariam com
os dividendos eleitorais da ascensão social de parcelas expressivas da
população.
O resultado foi uma política de baixa capacidade de reforma estrutural e
de perpetuação dos impasses políticos do presidencialismo de coalizão
brasileiro.
No entanto é bem possível que estejamos no momento de compreensão dos
limites do modelo gestado no governo anterior. O aumento exponencial do
endividamento das famílias demonstra como elas, atualmente, não têm
renda suficiente para dar conta das novas exigências que a ascensão
social coloca na mesa.
É fato que o país precisa de uma nova repactuação salarial. As
remunerações são, em média, radicalmente baixas e corroídas por gastos
que poderiam ser bancados pelo Estado. Por isso, é possível dizer que a
próxima etapa do desenvolvimento nacional passe pela recuperação dos
salários.
A melhor maneira de fazer isso é por meio de uma certa ação do Estado.
Uma família que recebe R$ 3.500 mensais gasta praticamente um terço de
sua renda só com educação privada e planos de saúde. Normalmente, tais
serviços são de baixa qualidade. Caso fossem fornecidos pelo Estado,
tais famílias teriam um ganho de renda que isenção alguma de imposto
seria capaz de proporcionar.
Entretanto a universalização de uma escola pública de qualidade e de um
serviço de saúde que realmente funcione não pode ser feita sob a
dinâmica do lulismo, pois ela exige investimentos estatais só possíveis
pela taxação pesada sobre fortunas, lucros bancários e renda da classe
alta. Ou seja, isso exige um aumento de impostos sobre aqueles que vivem
de maneira nababesca e que têm lucros milionários no sistema
financeiro.
Algo dessa natureza exige, por sua vez, uma mobilização política que
está fora do quadro de consensos do lulismo. Porém a força política que
poderia pressionar essa nova dinâmica ainda não existe no Brasil. Ela
pede uma esquerda que não tenha medo de dizer seu nome.
Fonte: Twextra
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