abril 10, 2012

Foi bom tê-lo conosco, Armando! Descanse em paz.

UNI-BICA

PICICA: Uma homenagem ao mais brasileiro dos portugueses, que partiu no dia de hoje deixando órfãos os foliões da BICA - Banda Independente da Confraria do Armando. Será lembrado pela sua irreverência e amizade. À dona Lourdes, sua esposa, e Ana Lúcia e Ana Cláudia, suas filhas, meu mais profundo sentimento de pesar pela perda do querido Armando. Abaixo, reproduzo texto, deste picicanalista, de um dos nossos memoráveis carnavais, com o qual espero traduzir a gratidão da cidade pela compreensão do homem espirituoso que ele foi. Armando Soares sabia que não se pode viver sem a ousadia de rir do poder: os carnavais da Banda do Armando fazem parte da memória de Manaus. Descansa em paz, querido amigo.

                    Foto publicada no livro AMOR DE BICA


 






















Jomar Fernandes, Armando Soares e Francisco Cruz
Fosse uma universidade seria chamada de UNI-BICA, tal é o patrimônico cultural criado pela mais irreverente das bandas do carnaval amazonense, destilado em 20 anos de história. Para a BICA - Banda Independente da Confraria do Armando - político que pisa na jaca é forte candidato a se tornar tema-enredo do carnaval. Assim foi com o ex-senador Bernardo Cabral (que reinventou o bolero Besame Mucho ao lado da ministra Zélia Cardoso), o ex-deputado federal Lupércio Ramos (que deixou de celebrar aniversários de debutantes por imcompatibilidade com o gênero), o atual deputado federal Sabino Castelo Branco (que armou um bafafá com uma sirigaita só pra infernizar a vida do canditado "Sarafa"), o ex-governador Gilberto Mestrinho (o resistível Boto Tucuxi e sua eterna implicância com os jacarés), o ex-governador Amazonino Mendes (e o séquito de baba-ovos que freqüentavam a mansão do Tarumã), o ex-prefeito Alfredo Nascimento (que inundou a cidade com palmeirinhas, criou o Stresso 171 e botou o Boto [ai!] de pijamas) e tantos outros.

Para seus detratores, as letras das marchinhas da BICA são atentatórias aos bons costumes, "e aos maus costumes, também", arremata o poeta anarquista e fotógrafo profissional Marco Gomes. Por isso, enquanto os cães latiam o cordão da BICA passou o cerol em muita instituição que ignorava o estado de direito, ora fazendo um festival com o dinheiro do contribuinte, ora praticando descaradamente o nepotismo, ou ainda fraudando impunemente eleições, e tantos outros escândalos impiedosamente criticados.

A BICA é fruto do encontro da fina flor da intelligentsia manauara com a fina flor da rapiocage luso-brasileira. Ao fazer do Bar do Armando um observatório da cena político-social da taba, a BICA disseca a antropologia baré e levanta a bandeira pelo fim da era dos políticos que lavam a burra e mamam na égua. Os ingredientes: marchinhas, samba, suor, cerveja e muito humor.

Esta proeza, ainda hoje, só e possível graças à imensa paciência de Armando Soares (na foto, o gajo está a meter a boca num sax, à falta de um trombone) em acolher no seu botequim letrados, iletrados, artistas, poetas, escritores e vagabundos de um modo geral, não necessariamente nesta mesma ordem, e como se pode verificar a presença de vagabundos não tem caráter de exclusividade como acusou o nosso Ouvidor Geral do Estado ao ameaçar a BICA com um processo.

A bronca do Ouvidor - um dos mais estimados radialistas do Amazonas - resume-se ao fato de que seu filho foi um dos homenageados no tema-enredo do carnaval de 2007: Os filhinhos de papai. A letra da marchinha deste ano faz um referência explícita aos que se elegeram à sombra dos seus genitores. Quatro deles se elegeram ou se re-elegeram através desse expediente na campanha de 2006, alguns deles ilustres desconhecidos ou com mandatos pífios, abaixo do que se esperava de um parlamentar vocacionado. A BICA não iria deixar passar em branco essa (in)contestável vocação para o poder. O jovem político, que não é besta, mandou um agradecimento para a BICA, já o pai ficou uma arara.

Por essa e por outras que o carnaval da BICA é aguardado ansiosamente pelos amazonenses. Desde já, todos querem saber quem estará na berlinda no próximo carnaval.

Armando Soares, patrono da BICA

O cavalheiro que sopra o sax na fotografia acima deu o título de campeã do carnaval de 1999 para a Escola de Samba do Morro da Liberdade, com o tema ARMANDO BRASILEIRO. Depois disto, Armando Soares tornou-se Cidadão Manauara por indicação do então vereador Francisco Praciano, hoje deputado federal pelo PT, também um biqueiro da gema. Desse jeito Armando se tornará o primeiro reitor da UNI-BICA, por nomeação do ex-professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Amazonas, presidente de honra da BICA, jornalista Deocleciano Bentes de Souza.

Evidentemente, a BICA jamais será uma UNI-qualquer coisa; seus estatutos não permitem. Os outros dois cavalheiros que posam ao lado de Armando - o Juiz de Direito Jomar Fernandes à esquerda, e o Promotor Público Francisco Cruz à direita - não me deixam mentir. Ambos são guardiães eméritos dos sagrados estatutos da BICA. 



Fevereiro de 2007

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