PICICA: "Confesso que não morro de amores por Frei Betto. Em muitos momentos, na
ânsia de ser didático, induziu. Como quando criou a noção de "movimento
popular", onde partidos, sindicatos, CEBs e movimentos sociais
estariam unidos. Tal redução conceitual tem seus frutos amargos
repetidos até hoje: parte do movimento sindical se transformou em
correia de transmissão dos partidos políticos e a noção de movimento
popular totalizante coíbe o pensamento crítico, a autorreflexão, além de
alimentar o discurso fácil do mártir ou ídolo. Betto continua fazendo
reduções e excessos de didatismo. Mas seu livro A Mosca Azul foi um
alento. Teve a coragem de apontar o pragmatismo perigoso que tomou conta
do governo Lula ainda
no seu início. Seu livro, assim como o de Ivo Poletto (que esteve com
Betto na condução do Fome Zero) são depoimentos capitais para quem quer
compreender o lugar de quem se manteve fiel aos princípios que geraram o
potente ideário popular dos anos 1980."
A entrevista de Frei Betto sobre PT e Lula
Reproduzo, abaixo, uma passagem da entrevista de Frei Betto para o jornal Zero Hora.
Confesso que não morro de amores por Frei Betto. Em muitos momentos, na ânsia de ser didático, induziu. Como quando criou a noção de "movimento popular", onde partidos, sindicatos, CEBs e movimentos sociais estariam unidos. Tal redução conceitual tem seus frutos amargos repetidos até hoje: parte do movimento sindical se transformou em correia de transmissão dos partidos políticos e a noção de movimento popular totalizante coíbe o pensamento crítico, a autorreflexão, além de alimentar o discurso fácil do mártir ou ídolo. Betto continua fazendo reduções e excessos de didatismo. Mas seu livro A Mosca Azul foi um alento. Teve a coragem de apontar o pragmatismo perigoso que tomou conta do governo Lula ainda no seu início. Seu livro, assim como o de Ivo Poletto (que esteve com Betto na condução do Fome Zero) são depoimentos capitais para quem quer compreender o lugar de quem se manteve fiel aos princípios que geraram o potente ideário popular dos anos 1980.
A entrevista completa você acessa clicando AQUI
Sobre
a eleição de Lula em 2002, o senhor começa o livro "A Mosca Azul" com a
seguinte frase: "Ainda bem, meu pai partiu antes", e afirma que ele não
suportaria "ver tantos sonhos esgarçados". O governo Lula lhe
decepcionou?
Os governos Lula e Dilma são os melhores da nossa história republicana,
mas eu esperava muito mais. O Lula teria condições, no primeiro ano de
governo, com todo o apoio popular que recebeu, de ter feito uma reforma
agrária. Então, como meu pai esperava também muito mais, daí essa frase.
Penso que o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder passou a ser mais importante do que criar uma alternativa civilizatória para a nação Brasil.
Questionada sobre uma possível volta
de Lula à Presidência, Dilma afirmou que ele não iria voltar porque
nunca saiu. Lula foi picado pela mosca azul?
Não, não acho que Lula foi picado. Muita
gente no governo foi, o PT, como partido foi – embora há muitas pessoas
não picadas lá dentro, e o Lula é uma delas. Mas o fato é que estou
convencido de que, se a Dilma não apresentar bons índices de
possibilidade de vitória eleitoral em 2014, ele voltará. E, se ela for
eleita, também estou convencido de que ele volta a ser candidato em
2018.
Por que ainda em 2014?
Porque se ela apresentar índices
negativos, com o risco de a Presidência ir para as mãos de outro
candidato, o "volta, Lula" haverá de funcionar.
Quais os principais acertos do PT nestes 10 anos de governo?
O principal acerto foi a inclusão social: 20 milhões de famílias, crédito facilitado, hoje ando pelo Nordeste e não tem mais jegue, tem moto, desoneração da linha branca, universalização do ensino. Então, esse foi o primeiro grande
acerto. Segundo acerto: soberania nacional. O Brasil hoje fala olho no
olho com os países metropolitanos, como os EUA. O Brasil deixou de ser
subserviente frente ao FMI, Washington, Reino Unido. Dom Pedro II e Lula
foram os únicos chefes de Estado que ousaram ir ao Oriente Médio,
porque havia uma pressão americana para que isso não acontecesse. E o
terceiro fator é que o governo nunca criminalizou os movimentos sociais.
Isso é muito importante quando eu penso que, no governo FHC, greve da
Petrobras foi reprimida com tanques de guerra.
E os principais erros?
A falta de inclusão política, daí as
manifestações de rua. Paradoxalmente, os 10 anos de governo do PT foram
10 anos de despolitização da sociedade. Os jovens, agora, querem ter
esse protagonismo político. Segunda grande falha desses 10 anos: nenhuma
grande reforma de estrutura, nem agrária, nem tributária, nem política,
nem previdenciária, nem de educação, nem da saúde. E o terceiro é a não
redução da desigualdade social, apesar dos avanços. Segundo o Ipea,
dado de outubro de 2013, a desigualdade no Brasil entre os mais ricos e
os mais pobres é de 175 vezes, e isso é escandaloso.
Fonte: Rudá Ricci
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