PICICA: "El País nem precisa fazer muito, basta fazer jornalismo
sério, já que o jornalismo brasileiro a cada dia fica mais parecido com
mero pastelão. Não faltam espaços para novas mídias ocuparem em meio ao
quase deserto jornalístico tradicional brasileiro, ligado a interesses
patrimonialistas, empresariais e partidários.
O interessante é que, na Espanha, o El País é conhecido como um jornal de centro-esquerda, mas que adota posições extremamente conservadoras quando o assunto é o movimento nacionalista do País Basco ou da Catalunha. Adota por vezes posição semelhante à dos fascistas do Partido Popular, ou seja, à direita do espectro político. Resta saber como se comportará ao tratar de temas tão diversos quanto os que apresenta o panorama político brasileiro."
O interessante é que, na Espanha, o El País é conhecido como um jornal de centro-esquerda, mas que adota posições extremamente conservadoras quando o assunto é o movimento nacionalista do País Basco ou da Catalunha. Adota por vezes posição semelhante à dos fascistas do Partido Popular, ou seja, à direita do espectro político. Resta saber como se comportará ao tratar de temas tão diversos quanto os que apresenta o panorama político brasileiro."
‘EL PAÍS’ EM PORTUGUÊS
‘El País’ e o vazio jornalístico brasileiro
Por Raphael Tsavkko Garcia em 03/12/2013 na edição 775
A chegada do diário espanhol El País ao Brasil, em sua versão em língua portuguesa, vem em boa hora, ao menos para o jornal espanhol. El País chega num momento
em que a mídia brasileira passa por um processo de desconfiança, em
outras palavras, a mídia está desacreditada de ambos os lados; a
esquerda acusa a grande mídia de ser uma espécie de PIG (Partido da
Imprensa Golpista), que encobre crimes e malversações da “direita”, ou
seja, do PSDB e aliados, que faria cobertura acima do tom e com avidez
desnecessária de tudo relacionado ao PT e seus aliados, ao passo que a “mídia alternativa”
e os chamados “blogs progressistas” são considerados chapa-branca e em
grande parte são financiados direta ou indiretamente pelo PT.
Cabe notar que a “grande mídia” também é em grande parte financiada pelo PT, via governo federal através da Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, mas não se vê alinhamento ideológico vindo deste financiamento – pelo contrário.
El País chega com prestígio internacional e é conhecido por sua posição mais de centro-esquerda. Chegou agradando, com entrevista com Dilma Rousseff e matérias que muitos consideraram instigantes. Sem dúvida uma primeira olhada ao novo El País em português deixa transparecer um tom mais cordial com o governo, pese a crítica contundente de sua colunista Eliane Brum, já famosa por não colocar panos quentes em questões sensíveis, mas apesar disso parece praticar um jornalismo mais centrado e menos enviesado e mesmo descarado – ou abertamente fantasioso, como no caso da revista Veja, que abandonou o jornalismo há alguns anos.
Consequências e danos
Em outras palavras, de início El País parece ter uma posição menos conflituosa e não bate de frente com o governo federal e com o PT, concentrando-se mais em, talvez, fazer jornalismo. É esperar o passar das semanas para ter uma ideia concreta final de como se comportará o editorial. O fato de o jornal ter origem estrangeira talvez facilite uma maior independência dos meios empresariais/financiadores brasileiros, o que pode também garantir maior isenção jornalística.
El País chega, ainda, em um momento pré-eleitoral crucial; mensaleiros presos ou em vias de serem presos, período de análises dos protestos de junho e subsequentes, discussão sobre o possível julgamento do Mensalão Tucano e, mais recentemente, a descoberta de 450 quilos de cocaína em helicóptero de aliado próximo do candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves.
Este caso em particular ajuda a entender por que muitos receberam com entusiasmo o “novo ar” no jornalismo, dado que o caso do helicóptero apreendido com 450 kg de cocaína pela Polícia Federal, pertencente ao deputado Gustavo Perrella, filho do senador mineiro Zezé Perrella, tem sido sistematicamente ignorado pela mídia tradicional; um caso que pode trazer consequências e danos a clãs políticos poderosos no mundo político.
Comportamento observado
Por que o silêncio da mídia? É algo que poucos entendem e abre-se um espaço para novas mídias investigarem.
À “esquerda”, além do chapa-branquismo tradicional e da fixação em livrar membros do PT da cadeia por corrupção, há ainda a disputa interna entre, por exemplo, Paulo Henrique Amorim e seu blog Conversa Afiada e o noticioso virtual Brasil 247, com trocas de acusações mútuas em claro prejuízo ao jornalismo de verdade. Além, claro, da nuvem que paira sobre as cabeças de muitos blogueiros “progressistas”, que é a suspeita de financiamento não declarado por parte do PT e do governo indo além da mera simpatia ideológica.
Enfim, El País nem precisa fazer muito, basta fazer jornalismo sério, já que o jornalismo brasileiro a cada dia fica mais parecido com mero pastelão. Não faltam espaços para novas mídias ocuparem em meio ao quase deserto jornalístico tradicional brasileiro, ligado a interesses patrimonialistas, empresariais e partidários.
O interessante é que, na Espanha, o El País é conhecido como um jornal de centro-esquerda, mas que adota posições extremamente conservadoras quando o assunto é o movimento nacionalista do País Basco ou da Catalunha. Adota por vezes posição semelhante à dos fascistas do Partido Popular, ou seja, à direita do espectro político. Resta saber como se comportará ao tratar de temas tão diversos quanto os que apresenta o panorama político brasileiro.
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Raphael Tsavkko Garcia é mestre em Comunicação e doutorando em Direitos Humanos
Cabe notar que a “grande mídia” também é em grande parte financiada pelo PT, via governo federal através da Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, mas não se vê alinhamento ideológico vindo deste financiamento – pelo contrário.
El País chega com prestígio internacional e é conhecido por sua posição mais de centro-esquerda. Chegou agradando, com entrevista com Dilma Rousseff e matérias que muitos consideraram instigantes. Sem dúvida uma primeira olhada ao novo El País em português deixa transparecer um tom mais cordial com o governo, pese a crítica contundente de sua colunista Eliane Brum, já famosa por não colocar panos quentes em questões sensíveis, mas apesar disso parece praticar um jornalismo mais centrado e menos enviesado e mesmo descarado – ou abertamente fantasioso, como no caso da revista Veja, que abandonou o jornalismo há alguns anos.
Consequências e danos
Em outras palavras, de início El País parece ter uma posição menos conflituosa e não bate de frente com o governo federal e com o PT, concentrando-se mais em, talvez, fazer jornalismo. É esperar o passar das semanas para ter uma ideia concreta final de como se comportará o editorial. O fato de o jornal ter origem estrangeira talvez facilite uma maior independência dos meios empresariais/financiadores brasileiros, o que pode também garantir maior isenção jornalística.
El País chega, ainda, em um momento pré-eleitoral crucial; mensaleiros presos ou em vias de serem presos, período de análises dos protestos de junho e subsequentes, discussão sobre o possível julgamento do Mensalão Tucano e, mais recentemente, a descoberta de 450 quilos de cocaína em helicóptero de aliado próximo do candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves.
Este caso em particular ajuda a entender por que muitos receberam com entusiasmo o “novo ar” no jornalismo, dado que o caso do helicóptero apreendido com 450 kg de cocaína pela Polícia Federal, pertencente ao deputado Gustavo Perrella, filho do senador mineiro Zezé Perrella, tem sido sistematicamente ignorado pela mídia tradicional; um caso que pode trazer consequências e danos a clãs políticos poderosos no mundo político.
Comportamento observado
Por que o silêncio da mídia? É algo que poucos entendem e abre-se um espaço para novas mídias investigarem.
À “esquerda”, além do chapa-branquismo tradicional e da fixação em livrar membros do PT da cadeia por corrupção, há ainda a disputa interna entre, por exemplo, Paulo Henrique Amorim e seu blog Conversa Afiada e o noticioso virtual Brasil 247, com trocas de acusações mútuas em claro prejuízo ao jornalismo de verdade. Além, claro, da nuvem que paira sobre as cabeças de muitos blogueiros “progressistas”, que é a suspeita de financiamento não declarado por parte do PT e do governo indo além da mera simpatia ideológica.
Enfim, El País nem precisa fazer muito, basta fazer jornalismo sério, já que o jornalismo brasileiro a cada dia fica mais parecido com mero pastelão. Não faltam espaços para novas mídias ocuparem em meio ao quase deserto jornalístico tradicional brasileiro, ligado a interesses patrimonialistas, empresariais e partidários.
O interessante é que, na Espanha, o El País é conhecido como um jornal de centro-esquerda, mas que adota posições extremamente conservadoras quando o assunto é o movimento nacionalista do País Basco ou da Catalunha. Adota por vezes posição semelhante à dos fascistas do Partido Popular, ou seja, à direita do espectro político. Resta saber como se comportará ao tratar de temas tão diversos quanto os que apresenta o panorama político brasileiro.
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Raphael Tsavkko Garcia é mestre em Comunicação e doutorando em Direitos Humanos
Fonte: Observatório da Imprensa
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