dezembro 22, 2013

"Adair Chevonika e outros", por José Ribamar Bessa Freire

PICICA: "Morreu na quarta-feira, 11 de dezembro, em Curitiba, Adair Therezinha Chevonika. Durante 50 anos, fez a alegria de milhares e milhares de crianças no Brasil e em vários países da América Latina, apresentando espetáculos em ruas, praças, parques, feiras, sindicatos, quermesses, creches, escolas, clubes, casas paroquiais, barracões, igrejas, circos, garagens, tablados, carrocerias de caminhão e até em presídios, em qualquer lugar onde houvesse uma criança ou um adulto capaz de se encantar com seus bonecos e com as histórias por eles narradas."

ADAIR CHEVONIKA E OUTROS (VERSÃO EM ESPANHOL, QUECHUA, INGLÊS E FRANCÊS)
José Ribamar Bessa Freire
22/12/2013 - Diário do Amazonas


Era uma vez uma professora normalista chamada Dada, que gostava de histórias, crianças, flores, bonecos. Juntou tudo isso e criou em Curitiba, com várias amigas, o Jardim de Infância Pequeno Príncipe dirigido pela pedagoga baiana Dilma Pereira. Como uma 'nuvenzinha apaixonada', Dadá soprou no coração dos bonecos e deu-lhes alma, movimento, vida. Com eles, contava histórias às crianças e aos adultos a quem ensinou a ler usando a palavra-ação do método Paulo Freire. Com eles, obtinha as "palavras geradoras". Faz mais de 50 anos que isso aconteceu.
Foi assim. Adair Therezinha Chevonika - a Dada - nascida em Rio Branco do Sul (PR), em 1939, era filha de Elena e Miguel, um agricultor pobre de origem ucraniana. Cursou a Escola Normal e foi dar aula para crianças. Tinha 22 anos quando conheceu Euclides Coelho de Souza, militante do Partido Comunista no Paraná. Casaram, tiveram dois filhos e mais de 500 bonecos, personagens de 120 peças do Teatro de Bonecos Dada (TBD). Viveram tão juntos, que cada um dos dois ficou conhecido como Dada. Ninguém sabia mais onde começava um e onde terminava o outro.
A Dada, o Dada
Embora em 1961 o casal ainda não conhecesse "a nuvem apaixonada", ambos se inscreveram no curso de alfabetizadores e ali aprenderam a usar o método Paulo Freire com Aurenice Cardoso da Costa e Jomard Muniz de Brito. Convocados pelo Movimento Estadual Contra o Analfabetismo (MECA), organizaram dois cursos experimentais de alfabetização nas favelas de Curitiba. Era um momento de euforia e de efervescência política.
Teatro, eles aprenderam numa oficina para atores ministrada por Gianni Ratto e num curso de fantoches dado por Joel Barcelos e Helena Sanches. Foi aí que a Dada, o Dada e Mirian Galarda encenaram a peça "A União faz a força", estreando no dia 1° de maio de 1961 no auditório do Teatro Guaíra, ainda em construção. Logo criaram o setor de Teatro de Bonecos do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, no natal do mesmo ano, se apresentaram numa praça do Bairro do Portão e na Casa do Pequeno Jornaleiro.
Convidado para participar da UNE-Volante pelo então vice-presidente da UNE, Marco Aurélio Garcia, atual Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Dada ajudou a disseminar os Centros Populares de Cultura (CPCs) pelo país e se engajou de corpo e alma no processo de alfabetização de adultos, com os bonecos facilitando a entrada dos alfabetizadores nas comunidades da periferia. Os dois Dada estavam convencidos do poder transformador da arte.
A Dada ganhou uma bolsa de estudos. No dia do golpe militar, 1° de abril de 1964, ela se encontrava em Moscou, no Teatro Kuklo, onde aprendia novas técnicas de confecção e manipulação com o renomado titiriteiro Sergey Obraztzov. O Dadá estava em Paranaguá, no Sindicato dos Ensacadores, invadido pelos militares, que lhe confiscaram tudo. Um foi encarcerado na prisão do Ahu, a outra ficou retida no frio de Moscou, de onde enviou um boneco de luva - um coelhinho - que, com o nome de Dada, se tornou o apresentador dos espetáculos, quando veio a relativa calmaria, já em 1965.
Depois de sair da prisão, o Dada, que também estagiou no Teatro Kuklo, fez curso de três meses na Escolinha de Arte do Brasil, enquanto a Dada, já de volta ao país, seguia curso no SENAI/RJ com o professor Oscar Bellan, e no Teatro Tablado com Maria Clara Machado. Os dois fizeram ainda oficina de manipulação com o alemão Friedrich Arndt, apoiado pelo Instituto Goethe. Com técnica apurada, o TBD se apresentou, então, no Teatro Casa Grande, Leblon, e no Arthur Azevedo, em Campo Grande, no Rio, obtendo o primeiro lugar no I Festival Nacional de Teatro de Bonecos.
Nenem subversivo
Logo que regressaram à Curitiba, pretendiam encenar "A nuvem apaixonada", mas a polícia fechou o Jardim da Infância Pequeno Príncipe, acusando-os de "ensinar subversão a crianças de três anos". A notícia, com repercussão nacional, mereceu crônica de Stanislaw Ponte Preta - O Garotinho Subversivo - com destaque no FEBEAPÁ - Festival da Besteira que Assola o País. O casal deixa o Paraná e leva o teatro para Brasília onde dá espetáculos ambulantes nas cidades satélites, enquanto a Dadá, que fez concurso, leciona na Escola Parque. Em 1968, nasce o filho André Luiz.
Logo após o sequestro do embaixador norte-americano, em outubro de 1969, saiu a sentença: quatro anos de prisão para o casal Dada. Duas dezenas de pessoas condenadas, mas na identificação da ação judicial, como de praxe, constava apenas o nome de uma delas: "Processo contra Adair Therezinha Chevonika e outros". Visto assim, para um leigo, parecia até formação de quadrilha, encabeçada por Adair, mas ela e "os outros" eram apenas alfabetizadores, cujos bonecos ensinaram trabalhadores a ler e escrever.
A residência dos Dada foi invadida, a polícia destruiu tudo: palco, cortinas, cenografias, refletores, ferramentas, máquinas de costura, bonecos, inclusive Eva, uma boneca de espuma presente de Sergey Obraztzov, que foi decapitada. O casal, obrigado a deixar o filho com a avó em Curitiba, saiu clandestinamente para o Chile. Foi aí que eu, com 21 anos, conheci os dois e me juntei ao TBD, sem nunca antes ter visto um espetáculo de bonecos. Do Chile, fomos juntos ao Peru.
Um belo dia deixei-os confeccionando bonecos na garagem de uma casa onde vivíamos. De noite, quando voltei, eles estavam ensaiando detrás de um palco de alumínio feito por Paulo e Marcos Egler, também exilados, e não perceberam minha presença. Foi o primeiro espetáculo de bonecos que assisti na minha vida. Com assombro, vi desaparecer, diante de meus olhos, um enorme queijo comido por milhares de ratos, manipulados por apenas duas pessoas. Puro encantamento! Fiquei fascinado e atravessei para trás da cortina, me incorporando definitivamente ao Teatro de Bonecos Dada.
A nuvem apaixonada
Em Lima, encenamos diversas peças no Teatro de Miraflores, numa aventura em que aprendi mais sobre arte, política e gente do que em todo meu curso universitário. Uma delas era a versão da Chapeuzinho Vermelho do francês Jean-Loup Temporal, que relativiza valores como bondade e gratidão. Uma brasileira residente em Lima, amiga do embaixador, adorou a peça e organizou apresentação no Centro Cultural da Embaixada do Brasil. Fomos tratados como grupo em excursão pela América do Sul, se soubessem que éramos exilados nos escorraçavam. Por isso, adverti ao sair de casa me referindo ao Centro Cultural Brasileiro:
- Temos que ter cuidado, porque essa porra deve estar cheia de policiais.
Foi um comentário feito discretamente com os Dada, na presença do filho André Luiz, de três anos, recém-chegado do Brasil, que nos acompanhava em todas apresentações, sabia de cor as falas e muitas vezes se antecipava aos bonecos. Antes de começar o espetáculo, fomos recebidos pelo embaixador, o cônsul e o adido militar. Foi aí que André nos entregou, repetindo em alto e bom som o que ouvira meia hora antes:
- Essa porra deve estar cheia de policiais.
Estava mesmo. Nunca mais nos convidaram. Felizmente o casal Dada recebeu a solidariedade efetiva de Victoria (peruana) e Gastón Aramayo (boliviano), do grupo Kusi-Kusi, que com eles fundaram o Teatro y Escuela de Títeres. Lá encenavam peças e davam cursos de teatro de bonecos, formando novos titiriteiros. Depois de quase cinco anos no Peru, com a prescrição da pena, regressaram ao Brasil onde, em fevereiro de 1977, Adair deu à luz uma menina, Ana Inez.
Retomaram os espetáculos no Teatro Guaíra, no Teatro do Piá e em centenas de escolas do Paraná, com critica elogiosa no Jornal do Brasil, assinada por Ana Maria Machado. Durante meio século, o TBD participou de festivais de marionetes na França, Alemanha, Hungria, Romênia, Rússia, China, Japão. No Festival Internacional de Charleville-Mezières, em 1982, encenaram "El sueño del pongo", um conto andino do escritor peruano José Maria Arguedas, com tradução simultânea ao francês feita por ex-integrante do grupo, um certo José Freire Bigodinho. 
No início do presente ano, a Dada voltou ao Peru com André para recolher seus passos. Em 21 de março, Dia Mundial do Títere, recebeu homenagem dos colegas peruanos, depois de haver, finalmente, montado em Curitiba a peça "A Nuvem apaixonada" do poeta turco Nazim Hikmet, militante comunista encarcerado por mais de 23 anos. A peça, traduzida do francês ao português por Nadia Podleskis, conta a história de um homem malvado que destrói o jardim de flores cultivadas por uma menina. Ela pede ajuda a uma nuvem que se dispõe a protegê-la, fazendo chover para regar o jardim.
- Não faça isso, você é água, se chover, você deixa de existir - lhe adverte uma voz.
Mas a nuvem, apaixonada, chora e chora, vai sumindo, sumindo, fertilizando a terra com suas lágrimas. Começam a nascer flores. O jardim renasce. A nuvem diz:
- A minha não é morte inútil. Morro por uma causa, para que outros vivam.
Morreu na quarta-feira, 11 de dezembro, em Curitiba, Adair Therezinha Chevonika. Durante 50 anos, fez a alegria de milhares e milhares de crianças no Brasil e em vários países da América Latina, apresentando espetáculos em ruas, praças, parques, feiras, sindicatos, quermesses, creches, escolas, clubes, casas paroquiais, barracões, igrejas, circos, garagens, tablados, carrocerias de caminhão e até em presídios, em qualquer lugar onde houvesse uma criança ou um adulto capaz de se encantar com seus bonecos e com as histórias por eles narradas.
Cheguei atrasado a seu funeral, mas a tempo do último adeus. Adair Therezinha Chevonika estava lá, nas histórias que rememoramos com o Dada e André, companheiros de exílio. Embora a diferença de idades entre nós fosse de apenas oito anos, ela me chamava de "meu filho", que era uma forma de proteger o órfão que todos somos no exílio. Deixa saudades.
PS. Fica aqui registro em espanhol e resumos em quechua, inglês e francês como reconhecimento e afeto de seus amigos em vários lugares do mundo.
ADAIR CHEVONIKA Y OTROS
Había una vez una profesora normalista llamada Dadá que amaba historias, niños, flores, títeres. Con varias amigas, juntó todos esos ingredientes y creó en Curitiba el Jardín de Infancia El Principito. Como una 'nubecita enamorada', Dadá les dio un soplo al corazón de los títeres, dándoles alma, movimiento, vida. Con ellos, contaba historias a niños  y adultos a quienes les enseñó a leer usando el método Paulo Freire de  palabra-acción. Con ellos, conseguía las "palabras generadoras". Eso sucedió hace más de 50 años.
Fue así. Adair Therezinha Chevonika - Dadá – que nació en Rio Branco do Sul, Paraná, en 1939, era hija de Elena y Miguel, un agricultor pobre de origen ucraniano. Estudió en la Escuela Normal y comenzó a dar clases para niños. Tenía 22 años cuando conoció a Euclides Coelho de Souza, militante del Partido Comunista. Se casaron, tuvieron dos hijos y más de 500 títeres, personajes de 120 piezas del Teatro de Bonecos Dada (TBD). Vivieron tan juntos, que nadie sabía donde comenzaba uno y donde terminaba el otro. Cada uno de ellos pasó a ser conocido como Dada.
Dadá y Dadá
Aunque en 1961 la pareja ignoraba todavía "la nube enamorada", los dos se inscribieron en el curso de alfabetizadores y allí aprendieron a usar el método Paulo Freire. Convocados por el Movimento Estadual Contra o Analfabetismo (MECA), organizaron dos cursos experimentales de alfabetización en las favelas de Curitiba. Era un momento de euforia y de efervescencia política.
Aprendieron teatro en un taller para actores y en un curso de títeres. Fue allí que Dadá femenino, Dadá masculino y Mirian Galarda produjeron la pieza "A União faz a força" (La unión hace la fuerza)  que estrenó el día 1° de mayo de 1961 en el Teatro Guaíra, que estaba construyéndose. Luego después, crearon el sector de Teatro de Bonecos do Centro Popular de Cultura (CPC) de la União Nacional dos Estudantes (UNE) y en la Navidad del mismo año, se presentaron en una plaza del Bairro do Portão y en la Casa do Pequeno Jornaleiro.
Convidado a participar de la UNE-Volante por el entonces vice-presidente de la UNE, Marco Aurélio Garcia, actual Asesor Especial de la Presidencia de la República para Asuntos Internacionales, Dadá ayudó a diseminar los Centros Populares de Cultura (CPCs) por el país y se comprometió de cuerpo y alma en el proceso de alfabetización de adultos, con los títeres facilitando la entrada de los alfabetizadores en las comunidades de la periferia. Los dos Dadá estaban convencidos del poder transformador del arte.
Dadá femenina ganó una beca de estudios. El día del golpe militar, 1° de abril de 1964, ella se encontraba en Moscú, en el Teatro Kuklo, donde aprendía nuevas técnicas de confección y manipulación con el reconocido titiritero Sergey Obraztzov. Dadá masculino estaba en Paranaguá, en el Sindicato de los Ensacadores, invadido por los militares, que le confiscaron todo. Uno fue encarcelado en la prisión de Ahu, la otra se quedó retenida en el frío de Moscú, de donde envió un títere de guante - un conejito - que, con el nombre de Dadá, se volvió el presentador de los espectáculos cuando volvió la relativa calma, ya en 1965.
Después de salir de la prisión, Dadá masculino, que también había estudiado en el Teatro Kuklo, hizo un curso de tres meses en la Escolinha de Arte do Brasil, mientras Dadá femenina, ya de vuelta al país, seguía curso en el SENAI/RJ con el profesor Oscar Bellan y en el Teatro Tablado con María Clara Machado. Los dos hicieron un taller de manipulación con el alemán Friedrich Arndt, con el apoyo del Instituto Goethe. Con técnica refinada, el TBD se presentó entonces en Río de Janeiro, en los teatros Casa Grande y Arthur Azevedo, conquistando el primer lugar en el I Festival Nacional de Teatro de Bonecos.
Nene subversivo
Después del regreso a Curitiba, se proponían presentar "La nube enamorada", pero la polícía clausuró el Jardim da Infância Pequeno Príncipe, acusándolos de "enseñar subversión a los niños de tres años". La noticia, con repercusión nacional, fue el tema de una crónica del humorista Stanislaw Ponte Preta - El niño Subversivo - destacado en un archivo creado por él intitulado FEBEAPÁ - Festival da Besteira [tonterías] que Assola o País. La pareja sale de Paraná  llevando su teatro a Brasília donde da espectáculos ambulantes en las ciudades periféricas, mientras Dadá femenina da clases en la Escola Parque, como profesora. En 1968, nace el primogénito, André Luiz.
En el contexto en el que grupos de izquierda secuestraron al embajador norte-americano en Brasil, fue decretada la sentencia, en octubre de 1969, condenando a cuatro años de prisión a la pareja Dadá. Fueron muchos los condenados, pero en la identificación de la acción judicial, como de costumbre, constaba solamente el nombre de uno de ellos: "Proceso contra Adair Therezinha Chevonika y otros". Visto así, parecía que se trataba de formación de una cuadrilla, encabezada por Adair, pero en realidad, ella y "los otros" eran tan solo alfabetizadores, cuyos títeres enseñaron a leer y escribir a los trabajadores.
La casa de los Dadá fue invadida, la polícía destruyó todo: retablo, cortinas, escenografias, reflectores, herramientas, máquinas de coser, fantoches, inclusive Eva, un títere hecho de esponja, regalo de Sergey Obraztzov, que fue decapitada. La pareja tuvo que dejar el hijo con la abuela en Curitiba y salió clandestinamente para Chile. Fue entonces que a los 21 años, los conoci y me incorporé al TBD, sin jamás haber visto antes ningún espectáculo de títeres. De Chile, fuimos juntos al Perú.
Un día, los dejé confeccionando títeres en el garaje de una casa donde vivíamos. Por la noche, al regresar, estabán ensayando detrás de un retablo. No se dieron cuenta de mi presencia. Fue el primer espectáculo de títeres que asistí en mi vida. Para mi asombro, vi desaparecer un enorme queso que millares de ratones devoraban, manipulados por solo dos personas. Puro encantamiento! Quedé fascinado y entonces, pasé para el otro lado detrás de la cortina, para incorporarme definitivamente al grupo de Teatro de Bonecos Dada.
La nube enamorada
En Lima, presentamos diversas piezas de teatro en la Casa de Cultura de Miraflores, una aventura en la que aprendi más sobre arte, política y gente de que en todo mi curso universitario. Una de ellas era la versión de Caperucita Roja del francés Jean-Loup Temporal, que relativiza valores como bondad y gratitud. Una brasileña residente en Lima, amiga del embajador, adoró el espectáculo y organizó presentarlo en el Centro Cultural de la Embajada de Brasil. Nos trataron como si fuéramos un grupo en gira por América del Sur, si supieran que éramos exilados nos expulsarían. Por eso, adverti al salir de casa, refiriéndome al Centro Cultural Brasileño:
- Ojo, porque esta espelunca debe estar llena de policía.
Fue un comentario discreto con los Dadá, frente al hijo Andre Luiz, de tres años, recién llegado de Brasil, que nos acompañaba en todos los espectáculos, sabía de memoria los diálogos y muchas veces se anticipava a los pesonajes. Antes de comenzar la presentación, nos reciebieron el embajador, el consul y el agregado militar. Fue entonces que Andre inocentemente nos delató, repitiendo en voz alta lo que había oído antes:
- Esta espelunca deve estar llena de policías.
Efectivamente estaba. Nunca más nos volvieron a invitar.
Felizmente, la pareja Dadá contó con la solidaridad activa de Victoria (peruana) y Gastón Aramayo (boliviano), del grupo de teatro Kusi-Kusi, que con ellos fundaron el Teatro y Escuela de Títeres. Allí daban espectáculos y cursos de teatro de títeres, formando nuevos titiriteros. Después de casi cinco años el el Perú, cuando prescribió la condenación, regresaron a Brasil donde, en febrero de 1977, Adair tuvo una niña, Ana Inez.
Volvieron a actuar en el Teatro Guaíra, el el Teatro do Piá y en centenas de escuelas de Paraná, recibiendo crítica favorable en el Jornal do Brasil, firmada por Ana Maria Machado. Durante medio siglo, el TBD participó de festivales de marionetas en França, Alemania, Hungría, Rumania, Rusia, China, Japón. En el Festival Internacional de Charleville-Mezières, en 1982,  presentaron "El sueño del pongo", un cuento andino del escritor peruano José Maria Arguedas, con traducción simultánea al francés hecha por ex-integrante del grupo, un cierto José Freire Bigodinho. 
A comienzos de este año, Adair volvió al Peru con Andre, recogiendo sus pasos. El 21 de marzo, Dia Mundial del Títere, sus colegas peruanos le rindieron un especial homenaje. Dadá contó que por fin había conseguido montar en Curitiba la pieza "La Nube enamorada" del poeta turco Nazim Hikmet, militante comunista encarcerado por más de 23 años. El texto, traducido del francés por Nadia Podleskis, cuenta la historia de un hombre que de pura maldad destruye el jardin de flores cultivadas por una niña, que le pide ayuda a una nube. dispuesta a protegerla. Le pide que haga llover para regar el jardin.
- No hagas eso, eres água, si llueve, tu dejas de existir - le advierte una voz.
Pero la nube enamorada llora y llora, va desapareciendo poco a poco, fertilizando la tierra con sus lágrimas. Comienzan a nacer flores. El jardín renace. Antes de morir, la nube dice:
- Mi muerte no es inútil. Muero por una causa, para que otros vivan.
Murió el miércoles, 11 de diciembre, en Curitiba, Adair Therezinha Chevonika. Durante 50 años, alegró miles de miles de niños en Brasil y en varios países de América Latina, presentando espectáculos en las calles, plazas, parques, ferias, sindicatos, kermeses, escuelas, clubes, casas parroquiales, iglesias, circos, garajes, retablos y hasta en presídios, en cualquier lugar donde hubiera un niño o un adulto que se dejara encantar por sus títeres y sus historias.
Llegué atrasado a su funeral, pero a tiempo de un último adiós. Adair Therezinha Chevonika estaba ahí, en las historias que rememoramos con Euclides y André, compañeros de exílio. Aunque la diferencia de edad entre nosotros era solo de ocho años, me trataba de "hijo mio", que era una forma de proteger la orfandad en que el exílio nos impone. Deja saudades.
PS. Aqui está este registro en español, además de resúmenes en quechua, ingles y frances como reconocimiento y afecto de sus amigos en varios lugares del mundo.
RESUMO EM INGLÊS
ADAIR THEREZINHA CHEVONIKA (1939-2013) - aka Dada - was born in Rio Branco do Sul, state of Paraná. She was the daughter of Elena and Miguel Chevonika, a poor farmer of Ukrainian origin. Married to Euclides de Souza Coelho, they blossomed two sons (Andrew and Ana), over 500 dolls, 150 plays and endless joy to thousands of children in various countries in Latin America. Dada created the Puppet Theater of the Popular Culture Center (CPC) of the National Union of Students (UNE) in 1961, and later the Dada Puppet Theater. She took courses in puppetry in Brazil and in Moscow, among them one in the Teatro Kuklo with Sergey Obraztzov. After the 1964 military coup, she was sued by having taught illiterate adults how to read using the Paulo Freire method and using her puppets. Dada was also accused of "subversive teaching" for children in a kindergarten school called The Little Prince. She went into exile in Chile and then Peru, where she created the School of Theatre and Titeres with Kusi-Kusi group. Dada returned to Brazil shortly before the political amnesty and continued living her theater. She took part in several international festivals, including the Charleville-Mezieres, in France, where she presented the Andean tale PONGO'S DREAM. She directed the play The Beloved Cloud written by the Turkish poet Nazim Hikmet. The play tells us the story of a little cloud who decides to save the flowers in a garden, weeping and making it rain to fertilize the land. "If you do that, you will die" - the cloud was warned. But the cloud replies: "It doesn't matter. I will not die in vain, I'll die for a cause. I'll die so that others may live". Adair, Dada, died on Wednesday, December 11th, in Curitiba. Here we give her the recognition and affection of her friends. (Tradução: Sérgio Souza)
RESUMO EM FRANCÊS
ADAIR THEREZINHA CHEVONIKA (1939-2013) - Dada - née à Rio Branco dans le Sud de l’État du Paraná-Brésil. Adair était la fille d’Elena et Miguel Chevonika, un pauvre fermier migrant d'origine ukrainienne. Marié Euclides de Souza Coelho, lui donne deux enfants (André et Ana), plus de 500 poupées, 150 pièces de théâtre et de la joie à des milliers d'enfants dans divers pays d’Amérique latine. Elle a crée le Théâtre de Marionnettes du Centre Culturel Populaire Center (CPC) de l'Union Nationale des Étudiants (UNE) en 1961, puis le Théâtre de Marionnettes Dada. Ensuite elle participe aux cours de la marionnette au Brésil et à Moscou au Théatre Kuklo avec Sergey Obraztzov. Après le coup d'État militaire de 1964, elle était condamnée pour avoir donner des cours d’éducation populaire en aidant alphabétisés les adultes selon la méthode Paulo Freire, en utilisant des marionnettes. Le couple a été aussi accusé  de fournir un «enseignement subversif " pour les enfants de la Maternelle Petit Prince. Dada et son mari sont partis en exil au Chili et au Pérou, là-bas elle a créé l'École de Théâtre et Titères avec le groupe Kusi-Kusi. Ils sont retournés au Brésil peu avant l'amnistie et ont continué à faire du théâtre. Dada  a participé à plusieurs festivals internationaux, y compris l' Charleville- Mézières, en France, avec Le Rêve du PONGO un comte de l'histoire andine. Elle a aussi monter la mise en scène de la pièce de théâtre du poète turc Nazim Hikmet « Le nuage amoureuse » qui raconte l'histoire d'un petit nuage décidé à sauver les fleurs d'un jardin, en pleurant et en faisant pleuvoir pour fertiliser la terre. "Si vous le faites cela, vous allez mourir" - quelqu'un l'avertit. Elle répond: "Pas question ! Je ne vais pas mourir inutilement, je meurs pour une cause, de sorte que d'autres puissent vivre". Adair, Dada, est décédé le mercredi 11 Décembre, à Curitiba. Voici la reconnaissance et l'affection de ses amis. (Tradução Marilza Foucher)
RESUMO EM QUECHUA
ADAIR TEREZINHA CHEVONIKA (1939-2013) – Dadá – payta wachakura Yuraq Mayupi, Paraná llaqtapin. Elena chay Miguel Chevonika paykunapa wawan. Paykara allpallankaq. Ukranyamantan pay. Kuskanakuy chay Euclides Coelho de Souza iskay churinkara (André chay Ana). Pay ruwara piqcha pacha kikinruna, hukpacha piqcha chunka llanka harawi chay llapawawakuna kusichinanpa achka waranqakuna wawaq achka hatun llaqta Abya Ayala. Kachanka yachay wasi harawikuna kikinruna Centro Popular de Cultura (CPC) Tinkuy hatun llaqta yachachiq maqtakuna (UNE) 1961pi, chay harawikunakikinruna: Teatro de Bonecos Dadá. Karayachachiq harawi kikinruna hatun llaqta Brasilpi, chay hatun llaqta Muskupi wasi Kuklopi, Serguey Obratzov yachachiq.
Chaypi wipyaku sinchirunapi 1964pi, kuchayuq qilqa yachachiqsanmanta machirunakuna yachay llankay hamawta Paulo Freyripa, ruraykuy kikin runa. Huchayuq yachachiq “pachakutiq” yachachiq wawakunatan huchayuq yachay wasi wawakunapi “Principito”.
Hatikachana huklaw hatun llaqtaman Chile chaypi hatun llaqta Perú, chay pikaqlla ruwarun Yachay Wasi kikin runa ayllupi Kusi-Kusi.
Kutirun hatun llaqta Brasilman chaymanta qispikuy chay ruwarun harawi kikin runa. Ruwarun rikchamana achka hatun raymi hatun llaqtakuna chayladukunapi Charleville-Mezièrespi, hatun llapta Franciapi, llankanku rimakuy “WAQCHAPA PUÑUY ” qilqa kamayuq José María Arguedas, chaypas qilqa kamayuq Nazim Hikmet: “PUYU KUYAKHUY” rimay truikarun hamawta Nádia Podleskis, willay riman uchuq puyuchamunan waytakuna qispinanpa muyapi waqaspa parachin allpa uqukamanpaq. “Chayta ruwaspa wañunki” willay. Payqa min : “Imata hukuwan, manan llankachu wañusaq, ñuqa wañusaq hukuna kawsanampaq”.
Adair, Dadá, wañurun miércoles p’unchaw chunkahukniyuq p’unchawpi chunka iskayniyuq killapi, iskay waranqa chunka kimsayuq watapi. (Tradução ao quíchua Huanca feita por Geraldo Paredes, com revisão de Norma, falante do quíchua Ayacucho)
Fonte: TAQUIPRATI

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