PICICA: "[...]a obra reúne
seis textos que fazem uma reflexão crítica sobre o poder mundial da
mídia, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, o jornalismo
contra-hegemônico em rede, as políticas públicas de direito à
comunicação e a democratização da informação na América Latina."
MÍDIA PODER E CONTRAPODER
Dênis de Moraes, Ignacio Ramonet e Pascual Serrano assinam a seis mãos
os ensaios que integram o livro Mídia, poder e contrapoder: da
concentração monopólica à democratização da informação, a ser lançado
pela Boitempo Editorial.
Organizada por Moraes, a obra reúne
seis textos que fazem uma reflexão crítica sobre o poder mundial da
mídia, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, o jornalismo
contra-hegemônico em rede, as políticas públicas de direito à
comunicação e a democratização da informação na América Latina.
A partir da convergência de afinidades dos jornalistas na análise sobre
o complexo mundo da mídia e nas preocupações com o fluxo informacional
do nosso cotidiano – após um debate do qual participaram juntos no Rio
de Janeiro no final de 2011 –, surgiu para Moraes a ideia de um livro a
três. “O ponto de partida de Mídia, poder e contrapoder é o compromisso
comum de interpelar a contemporaneidade, cada vez mais midiatizada,
tecnologizada e mercantilizada”, explica o organizador na introdução.
O momento histórico para Moraes é perturbador, permeado pelos fascínios
compulsivos por objetos digitais que se conectam instantaneamente a
“nuvens de computação” capazes de armazenar volume imensurável de
informações. No entanto, em contraposição a esse quadro, o livro
desenvolve reflexões que incorporam a dimensão da esperança,
projetando‑a como elemento essencial nas disputas de sentido frente aos
enfoques tendenciosos das máquinas midiáticas.
Na primeira
parte, os jornalistas analisam formas e efeitos da colonização do
imaginário social pela mídia corporativa; a configuração atual do
sistema midiático, sob forte concentração monopólica em torno de
megagrupos e dinastias familiares; as estratégias de comercialização de
produtos culturais e manifestações artísticas; a subordinação de
informações de interesse coletivo a ambições lucrativas; a retórica em
favor da “liberdade de expressão”, que dissimula a intenção de fazer
prevalecer a liberdade de empresa sobre as aspirações coletivas e a
perda de credibilidade da imprensa. Ramonet não se furta a discorrer
sobre o fazer jornalismo, reconhece a proliferação de produtores de
informação que a era digital criou e vaticina com propriedade: “O que
está desaparecendo é principalmente o jornalismo de investigação”. A
primeira parte do livro é encerrada pela necessária discussão de Pascual
sobre liberdade de imprensa, uma temática que nunca se esgota e é
apontada por ele dentro do cenário do “coronelismo”, dos fluxos
financeiros, mas também das possibilidades de produção
contra‑hegemônicas.
A partir do reconhecimento das mutações
comunicacionais na internet, expostas na segunda parte do livro, os
autores avaliam premissas e práticas em rede e possibilidades de
reversão do sistema a partir da digitalização que, ao mesmo tempo,
priorizam conteúdos vinculados à justiça social, aos direitos humanos e à
diversidade cultural. Para eles, é imperativo exercitar, por meio do
jornalismo crítico e colaborativo, um contrapoder na produção e na
difusão alternativas, como os projetos promissores das agências virtuais
de notícias latino‑americanas, consolidados como o portal Rebelión, de
Madri, ou instigantes como o WikiLeaks.
A professora associada
de comunicação da UFRJ, Raquel Paiva, avalia o livro como obra
necessária por sua qualidade crítica. “Hoje, um sem‑número de livros
sobre jornalismo é publicado regularmente. A maioria é interessante, mas
poucos necessários, porque, para tanto, é preciso ir além da mera
análise acadêmica para exercer plenamente a capacidade crítica e, acima
de tudo, inscrever‑se como um material capaz de, a partir da
hermenêutica traçada, perscrutar com cuidado o que se situa como
perspectiva”, diz no prefácio.
Trecho do livro
“A
cumplicidade do quarto poder com os poderes dominantes faz com que ele
deixe de funcionar como tal, o que representa um grave problema para a
democracia, pois não é possível concebê‑la sem o autêntico contrapoder
da opinião pública. (...) Minha proposta é que todos nós participemos da
criação de um quinto poder, que se expressaria mediante a crítica ao
funcionamento dos meios de comunicação, papel que antes cabia ao quarto
poder. O que um cidadão mais ou menos ativo numa sociedade democrática
deve fazer? Questionar a forma como a mídia dá conta da realidade. Essa
função crítica consiste em informar sobre a informação, que não é
neutra, sempre é construída a partir de um ponto de vista. Portanto,
revelar a quem pertence essa informação, quem ela está ajudando, em que
medida ela é a expressão dos grupos privados que são seus proprietários
já é uma maneira de se dizer para quem os meios de comunicação estão
trabalhando. Isso é criar um quinto poder, ressignificando o que a
opinião pública deve ser.” – Ignacio Ramonet em “A explosão do
jornalismo na era digital”.
Sobre os autores
Dênis
de Moraes, jornalista, é professor do Departamento de Estudos Culturais e
Mídia da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do CNPq e da
FAPERJ. Autor de Vozes abertas da América Latina: Estado, políticas
públicas e democratização da comunicação (Mauad/Faperj, 2011), La
cruzada de los medios en América Latina (Paidós, 2011) e Mutaciones de
lo visible: comunicación y procesos culturales en la era digital
(Paidós, 2010). Pela Boitempo, publicou O velho Graça: uma biografia de
Graciliano Ramos (2012).
Ignacio Ramonet, jornalista, foi
diretor de redação do Le Monde Diplomatique (1990-2008) e atualmente
dirige a edição espanhola do mesmo jornal. Um dos idealizadores do Fórum
Social Mundial, é presidente de honra da organização ATTAC. Publicou A
explosão do jornalismo: das mídias de massa à massa de mídia (Publisher
Brasil, 2012), Fidel Castro, biografia a duas vozes (Boitempo, 2006) e A
tirania da comunicação (Vozes, 1999).
Pascual Serrano,
jornalista, é diretor de redação do portal Rebelión, de Madri. Foi
assessor editorial do canal multiestatal latino-americano Telesur. Autor
de Periodismo canalla: los medios contra la información (Icaria, 2012),
Contra la neutralidad. Tras los pasos de John Reed, Ryzard Kapuściński,
Edgar Snow, Rodolfo Walsh y Robert Capa (Península, 2011) e
Desinformación. Cómo los medios ocultan el mundo (Península, 2009).
Dênis de Moraes, Ignacio Ramonet e Pascual Serrano assinam a seis mãos os ensaios que integram o livro Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação, a ser lançado pela Boitempo Editorial.
Organizada por Moraes, a obra reúne seis textos que fazem uma reflexão crítica sobre o poder mundial da mídia, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, o jornalismo contra-hegemônico em rede, as políticas públicas de direito à comunicação e a democratização da informação na América Latina.
A partir da convergência de afinidades dos jornalistas na análise sobre o complexo mundo da mídia e nas preocupações com o fluxo informacional do nosso cotidiano – após um debate do qual participaram juntos no Rio de Janeiro no final de 2011 –, surgiu para Moraes a ideia de um livro a três. “O ponto de partida de Mídia, poder e contrapoder é o compromisso comum de interpelar a contemporaneidade, cada vez mais midiatizada, tecnologizada e mercantilizada”, explica o organizador na introdução.
O momento histórico para Moraes é perturbador, permeado pelos fascínios compulsivos por objetos digitais que se conectam instantaneamente a “nuvens de computação” capazes de armazenar volume imensurável de informações. No entanto, em contraposição a esse quadro, o livro desenvolve reflexões que incorporam a dimensão da esperança, projetando‑a como elemento essencial nas disputas de sentido frente aos enfoques tendenciosos das máquinas midiáticas.
Na primeira parte, os jornalistas analisam formas e efeitos da colonização do imaginário social pela mídia corporativa; a configuração atual do sistema midiático, sob forte concentração monopólica em torno de megagrupos e dinastias familiares; as estratégias de comercialização de produtos culturais e manifestações artísticas; a subordinação de informações de interesse coletivo a ambições lucrativas; a retórica em favor da “liberdade de expressão”, que dissimula a intenção de fazer prevalecer a liberdade de empresa sobre as aspirações coletivas e a perda de credibilidade da imprensa. Ramonet não se furta a discorrer sobre o fazer jornalismo, reconhece a proliferação de produtores de informação que a era digital criou e vaticina com propriedade: “O que está desaparecendo é principalmente o jornalismo de investigação”. A primeira parte do livro é encerrada pela necessária discussão de Pascual sobre liberdade de imprensa, uma temática que nunca se esgota e é apontada por ele dentro do cenário do “coronelismo”, dos fluxos financeiros, mas também das possibilidades de produção contra‑hegemônicas.
A partir do reconhecimento das mutações comunicacionais na internet, expostas na segunda parte do livro, os autores avaliam premissas e práticas em rede e possibilidades de reversão do sistema a partir da digitalização que, ao mesmo tempo, priorizam conteúdos vinculados à justiça social, aos direitos humanos e à diversidade cultural. Para eles, é imperativo exercitar, por meio do jornalismo crítico e colaborativo, um contrapoder na produção e na difusão alternativas, como os projetos promissores das agências virtuais de notícias latino‑americanas, consolidados como o portal Rebelión, de Madri, ou instigantes como o WikiLeaks.
A professora associada de comunicação da UFRJ, Raquel Paiva, avalia o livro como obra necessária por sua qualidade crítica. “Hoje, um sem‑número de livros sobre jornalismo é publicado regularmente. A maioria é interessante, mas poucos necessários, porque, para tanto, é preciso ir além da mera análise acadêmica para exercer plenamente a capacidade crítica e, acima de tudo, inscrever‑se como um material capaz de, a partir da hermenêutica traçada, perscrutar com cuidado o que se situa como perspectiva”, diz no prefácio.
Trecho do livro
“A cumplicidade do quarto poder com os poderes dominantes faz com que ele deixe de funcionar como tal, o que representa um grave problema para a democracia, pois não é possível concebê‑la sem o autêntico contrapoder da opinião pública. (...) Minha proposta é que todos nós participemos da criação de um quinto poder, que se expressaria mediante a crítica ao funcionamento dos meios de comunicação, papel que antes cabia ao quarto poder. O que um cidadão mais ou menos ativo numa sociedade democrática deve fazer? Questionar a forma como a mídia dá conta da realidade. Essa função crítica consiste em informar sobre a informação, que não é neutra, sempre é construída a partir de um ponto de vista. Portanto, revelar a quem pertence essa informação, quem ela está ajudando, em que medida ela é a expressão dos grupos privados que são seus proprietários já é uma maneira de se dizer para quem os meios de comunicação estão trabalhando. Isso é criar um quinto poder, ressignificando o que a opinião pública deve ser.” – Ignacio Ramonet em “A explosão do jornalismo na era digital”.
Sobre os autores
Dênis de Moraes, jornalista, é professor do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense e pesquisador do CNPq e da FAPERJ. Autor de Vozes abertas da América Latina: Estado, políticas públicas e democratização da comunicação (Mauad/Faperj, 2011), La cruzada de los medios en América Latina (Paidós, 2011) e Mutaciones de lo visible: comunicación y procesos culturales en la era digital (Paidós, 2010). Pela Boitempo, publicou O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos (2012).
Ignacio Ramonet, jornalista, foi diretor de redação do Le Monde Diplomatique (1990-2008) e atualmente dirige a edição espanhola do mesmo jornal. Um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, é presidente de honra da organização ATTAC. Publicou A explosão do jornalismo: das mídias de massa à massa de mídia (Publisher Brasil, 2012), Fidel Castro, biografia a duas vozes (Boitempo, 2006) e A tirania da comunicação (Vozes, 1999).
Pascual Serrano, jornalista, é diretor de redação do portal Rebelión, de Madri. Foi assessor editorial do canal multiestatal latino-americano Telesur. Autor de Periodismo canalla: los medios contra la información (Icaria, 2012), Contra la neutralidad. Tras los pasos de John Reed, Ryzard Kapuściński, Edgar Snow, Rodolfo Walsh y Robert Capa (Península, 2011) e Desinformación. Cómo los medios ocultan el mundo (Península, 2009).
Mídia, poder e contrapoder :: Acervo Antropofágico & Outras Palavras
Da concentração monopólica à democratização da comunicação Autor: Dênis de Moraes (org.), Ignacio
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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