março 06, 2015

"Epicuro – é possível obter prazer", por Rafael Trindade

PICICA: "Epicuro é um raio de sol que atravessa toda uma nuvem espessa de superstição, medo e insegurança. Sua filosofia não se perde no meio do longo caminho que leva da tristeza do ignorante à sabedoria do filósofo. “É possível obter prazer” é o quarto e último remédio de seu tetrapharmakon, prova de que os filósofos podem ser felizes e realistas ao mesmo tempo.

Depois de neutralizar a cólera dos deuses (veja aqui), zombar da morte (veja aqui) e mostrar a possibilidade de suportar a dor (veja aqui), Epicuro nos mostra o caminho final: a possibilidade de obter prazer. Mas o que é o prazer?"

Epicuro – é possível obter prazer

 
- Detalhe de "Jardim das Delícias" de Bosch

– Detalhe de “Jardim das Delícias” de Bosch

Epicuro é um raio de sol que atravessa toda uma nuvem espessa de superstição, medo e insegurança. Sua filosofia não se perde no meio do longo caminho que leva da tristeza do ignorante à sabedoria do filósofo. “É possível obter prazer” é o quarto e último remédio de seu tetrapharmakon, prova de que os filósofos podem ser felizes e realistas ao mesmo tempo.


Depois de neutralizar a cólera dos deuses (veja aqui), zombar da morte (veja aqui) e mostrar a possibilidade de suportar a dor (veja aqui), Epicuro nos mostra o caminho final: a possibilidade de obter prazer. Mas o que é o prazer?


Epicuro faz a distinção em três tipo: naturais necessários, naturais não necessários e não naturais não necessários. Claro, tudo é natureza, mas esta separação nos ajuda a entender que alguns prazeres vêm do corpo, nascem de nossa própria existência e outros são frutos de ilusões e nos são empurrados garganta abaixo.

  • Naturais necessários: sem eles, a harmonia de nosso corpo se desfaz. Os desejos naturais e necessários permitem que o corpo continue afirmando-se na existência. Nós não os desejamos porque são bons, eles são bons porque os desejamos. Água, para não morrer de sede; comida para não morrer de fome; calor; para não morrer de frio.
  • Naturais não necessários: são prazeres, mas não necessários no sentido em que excedem a simples manutenção da existência. Mais do que conservar-se a vida quer o prazer de viver, e ela pode obter isso através da natureza. Faz-se aqui a passagem da existência para uma estética da existência. Mais do que apenas comer, é possível criar a culinária, arte de cozinhar. Mais do que ver, e ouvir, é possível pintar e fazer música, arte das cores e dos sons.
  • Não naturais e não necessários: entramos no terreno das ilusões e da superstição. Aqui nascem os deuses e os demônios. Desejos não naturais e não necessários são aqueles que se descolam cada vez mais da terra e atingem reinos que não existem. Dinheiro, nosso novo deus, fama, glória, santidade. Curtidas no facebook, por que não? Estes objetos são vazios, alienam, nos impedem de atingir uma vida natural e de prazeres. Enfim, causam mais aflição que prazer, o dispêndio de energia para obtê-los não vale o que nos trazem em retorno. Copos sempre meio vazios, estas ilusões são a cenoura na frente do burro, elas conduzem a humanidade em sua longa marcha irracional…

Não precisamos temer os deuses nem a morte, é possível suportar a dor e mais, é possível obter prazer. Como? Para criar estas quatro lições, Epicuro só teve que tomar uma atitude simples, ouvir seu corpo, fazê-lo pensar, obrigá-lo a tomar certas posições em relação a certos problemas. Quando meu corpo está vivo, eu não estou morto, então não preciso me preocupar. Quando sinto dor, posso suportá-la e usá-la para melhor agir no mundo. Quando escuto o que meu corpo tem a dizer, aprendo a selecionar os melhores prazeres. A única felicidade maior que ouvir as lições de Epicuro é segui-las.

Hieronymus-Bosch-The-Garden-of-Earthly-Delights-detail-24-

– detalhe de “Jardim das Delícias” de Bosch

Fonte: Razão Inadequada

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