PICICA: "Epicuro é um raio de sol que atravessa
toda uma nuvem espessa de superstição, medo e insegurança. Sua filosofia
não se perde no meio do longo caminho que leva da tristeza do ignorante
à sabedoria do filósofo. “É possível obter prazer” é o quarto e último remédio de seu tetrapharmakon, prova de que os filósofos podem ser felizes e realistas ao mesmo tempo.
Depois de neutralizar a cólera dos deuses (veja aqui), zombar da morte (veja aqui)
e mostrar a possibilidade de suportar a dor (veja aqui), Epicuro nos
mostra o caminho final: a possibilidade de obter prazer. Mas o que é o
prazer?"
Epicuro – é possível obter prazer
Epicuro é um raio de sol que atravessa
toda uma nuvem espessa de superstição, medo e insegurança. Sua filosofia
não se perde no meio do longo caminho que leva da tristeza do ignorante
à sabedoria do filósofo. “É possível obter prazer” é o quarto e último remédio de seu tetrapharmakon, prova de que os filósofos podem ser felizes e realistas ao mesmo tempo.
Depois de neutralizar a cólera dos deuses (veja aqui), zombar da morte (veja aqui)
e mostrar a possibilidade de suportar a dor (veja aqui), Epicuro nos
mostra o caminho final: a possibilidade de obter prazer. Mas o que é o
prazer?
Epicuro faz a distinção em três tipo:
naturais necessários, naturais não necessários e não naturais não
necessários. Claro, tudo é natureza, mas esta separação nos ajuda a
entender que alguns prazeres vêm do corpo, nascem de nossa própria
existência e outros são frutos de ilusões e nos são empurrados garganta
abaixo.
- Naturais necessários: sem eles, a harmonia de nosso corpo se desfaz. Os desejos naturais e necessários permitem que o corpo continue afirmando-se na existência. Nós não os desejamos porque são bons, eles são bons porque os desejamos. Água, para não morrer de sede; comida para não morrer de fome; calor; para não morrer de frio.
- Naturais não necessários: são prazeres, mas não necessários no sentido em que excedem a simples manutenção da existência. Mais do que conservar-se a vida quer o prazer de viver, e ela pode obter isso através da natureza. Faz-se aqui a passagem da existência para uma estética da existência. Mais do que apenas comer, é possível criar a culinária, arte de cozinhar. Mais do que ver, e ouvir, é possível pintar e fazer música, arte das cores e dos sons.
- Não naturais e não necessários: entramos no terreno das ilusões e da superstição. Aqui nascem os deuses e os demônios. Desejos não naturais e não necessários são aqueles que se descolam cada vez mais da terra e atingem reinos que não existem. Dinheiro, nosso novo deus, fama, glória, santidade. Curtidas no facebook, por que não? Estes objetos são vazios, alienam, nos impedem de atingir uma vida natural e de prazeres. Enfim, causam mais aflição que prazer, o dispêndio de energia para obtê-los não vale o que nos trazem em retorno. Copos sempre meio vazios, estas ilusões são a cenoura na frente do burro, elas conduzem a humanidade em sua longa marcha irracional…
Não precisamos temer os deuses nem a
morte, é possível suportar a dor e mais, é possível obter prazer. Como?
Para criar estas quatro lições, Epicuro só teve que tomar uma atitude
simples, ouvir seu corpo, fazê-lo pensar, obrigá-lo a tomar certas
posições em relação a certos problemas. Quando meu corpo está vivo, eu
não estou morto, então não preciso me preocupar. Quando sinto dor, posso
suportá-la e usá-la para melhor agir no mundo. Quando escuto o que meu
corpo tem a dizer, aprendo a selecionar os melhores prazeres. A única
felicidade maior que ouvir as lições de Epicuro é segui-las.
– detalhe de “Jardim das Delícias” de Bosch
Fonte: Razão Inadequada
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