março 07, 2015

"Uma definição de Terror", por Rafael Lauro

PICICA: "“[…] uma subjetividade interminável imposta aos outros como objetividade: é a definição filosófica do terror. […]” O homem revoltado, Albert Camus p.280"

Uma definição de Terror


 
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Nos livros de filosofia, há momentos de definição. Seja antes da análise ou como uma conclusão dela, são nestes momentos que nos deparamos com a ação própria do pensamento filosófico: a organização das ideias na forma de conceitos. L’homme révolté, eis um livro cheio destes momentos. Ao longo do “ensaio” (como o autor se refere ao livro), vários conceitos me chamaram atenção, mas um deles em especial:
“[…] uma subjetividade interminável imposta aos outros como objetividade: é a definição filosófica do terror. […]” O homem revoltado, Albert Camus p.280
Se o Terror é a imposição de termos subjetivos tomados como objetivos, estamos muito mais acostumados a conviver com “terroristas” do que imaginamos. No sentido filosófico em questão, a realidade, tomada como plena, só pode ser objetivada se for recortada. Explico: apenas a escolha de um determinado aspecto e a consequente recusa de outro pode fazer surgir uma objetividade de uma realidade plena de significações possíveis. Como toda escolha é interpretação, é portanto subjetiva, pessoal. Camus vai além:
“[…] Esta objetividade não tem sentido definível, mas o poder lhe dará um conteúdo quando declarar culpado tudo aquilo que não aprova.”
Ao tomar a subjetividade e elegê-la como objetividade, dá-se o primeiro passo no sentido do terror, da opressão, da negação. O segundo passo, muito mais cruel, é usar do poder instituído (pelo Estado, pela Família, pela Igreja por exemplo) para afirmar essa nova objetividade, declarando “culpadas” todas as outras escolhas possíveis.

Nesse sentido, qualquer privação deliberada de informação é um ato terrorista, pois recorta a realidade sob a alcunha de defini-la. A Mídia monetarista, elitista, interesseira, excludente, parcial de nosso país é uma ótima institucionalização desse conceito de terror. Isso sem nem comentar os anúncios que ela veicula!

Quem define (definir não deixa de ser objetivar) o que é bonito e o que é feio?  Qualquer um! Veja que o problema não é tornar objetivo para si, mas empurrar aos outros. Fazer o outro engolir sua ideia acerca do real. Ou será que as capas de revista de estética discutem com a população qual a referência de beleza feminina da vez?

Peguemos o exemplo mais corriqueiro de terrorismo de nosso tempo: o atentado às Torres Gêmeas de 11 de setembro. Há alguma relação do fato com o conceito exposto? Lembremos o básico do conceito de Jihad para o Islã: no alcorão, o conceito está associado ao empenho, mediante vontade pessoal, na busca por uma fé perfeita. O processo que levou da interpretação das palavras no alcorão aos aviões se chocando contra as torres pode ser considerado terrorista na medida em que se percebe o quanto a lógica da objetivação foi necessária. Para alcançar o fim último, “empenho” tornou-se “sacrifício”, o poder armamentista foi o meio para afirmar esta objetividade inquestionável. Se, apenas por um momento, os pilotos dos aviões questionassem aquela visão construída arbitrariamente sobre os textos, provavelmente eles não teriam escolhido o suicídio e o assassínio em massa como os caminhos para a salvação. Eis o poder da interpretação.

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Fonte: Razão Inadequada

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