PICICA: "Aprender a amar nosso destino, encontrar
beleza no necessário, esta é a grande lição de Nietzsche já no fim de
sua produção intelectual; talvez seu último grande ensinamento. Dizer
sim à vida, porque só ela que existe e somente ela traz valor em si
mesma. Esta lição serve tanto para momentos de felicidade como para
momentos de desespero. Transformar o “foi assim” em “eu quis assim” dá um sentido próprio ao que aconteceu (ver Zaratustra – Da redenção).
O controle do passado implica aceitar o
que lhe foi dado e tirado. Todos os acontecimentos se inserem numa ordem
causal da natureza, assim como você, portanto, nada poderia ter
acontecido de outra forma, nada poderia ter sido diferente, não adianta
lamentar-se. É preciso afirmar até mesmo o erro, afinal de contas, ele
não é um erro! Ele era absolutamente necessário naquele momento e só
pode ser interpretado como um erro se tomarmos formas superiores para
nos guiar (mas Deus está morto)."
Nietzsche – amor-fati
Minha fórmula para a grandeza no homem é amor-fati: não querer nada de outro modo, nem para diante nem para trás, nem em toda eternidade. Não meramente suportar o necessário, e menos ainda dissimulá-lo – todo idealismo é mendacidade diante do necessário -, mas amá-lo” – Nietzsche, Ecce Homo, Porque sou tão esperto, §10.
As implicações do eterno retorno
levarão inevitavelmente a outro conceito muito importante que Nietzsche
chamou de amor-fati (do latim, amor ao destino). Se tudo retorna
eternamente, e exatamente como é agora, então é imprescindível ao homem
seu destino. Se não existe nada além desta existência, há de se concluir
que apenas ela merece nosso amor.
Aprender a amar nosso destino, encontrar
beleza no necessário, esta é a grande lição de Nietzsche já no fim de
sua produção intelectual; talvez seu último grande ensinamento. Dizer
sim à vida, porque só ela que existe e somente ela traz valor em si
mesma. Esta lição serve tanto para momentos de felicidade como para
momentos de desespero. Transformar o “foi assim” em “eu quis assim” dá um sentido próprio ao que aconteceu (ver Zaratustra – Da redenção).
O controle do passado implica aceitar o
que lhe foi dado e tirado. Todos os acontecimentos se inserem numa ordem
causal da natureza, assim como você, portanto, nada poderia ter
acontecido de outra forma, nada poderia ter sido diferente, não adianta
lamentar-se. É preciso afirmar até mesmo o erro, afinal de contas, ele
não é um erro! Ele era absolutamente necessário naquele momento e só
pode ser interpretado como um erro se tomarmos formas superiores para
nos guiar (mas Deus está morto).
A exortação de apropriar-se do que
aconteceu nos torna capaz de seguir adiante. O bom e o ruim, a dor e o
prazer, são inerentes à vida, amar o que lhe acontece e acontecerá é o
primeiro passo para tornar-se quem é. “Em vez de esperar que um
poder transcendente justifique o mundo, o homem tem de dar sentido à
própria vida; em vez de aguardar que venham redimi-lo, deve amar cada
instante como ele é” (Marton, Nietzsche e a transvaloração dos valores).
“O homem é algo que deve ser superado” (Zaratustra, prólogo).
A forma homem é velha e caduca, ela vai errar sempre porque ainda está
presa em ídolos metafísicos, presa à forma. É preciso deixar a
forma-homem para trás para afirmar aquilo que passou e mais, amar aquilo
que passou, porque assim deveria ser, por toda a eternidade. Redimir o
passado, desatar os nós do ressentimento, dissolver a má-consciência,
para que mais serviria o amor-fati? Existe tarefa maior?
Devemos afirmar a vida, negando toda
calúnia, toda desvalorização, toda acusação que possa ser feita contra
ela. Mas este ensinamento foi muito mal compreendido. O amor-fati
não implica em resignação, sua lição não é de aceitação passiva, muito
menos acovardar-se. Não devemos abaixar a cabeça e aceitar, muito
menos virar a outra face (Mt 5,39). O amor-fati diz para o
indivíduo amar a vida, porque só ela existe e fora do todo não há nada.
Significa afirmar o que tinha que ser sem deixar de afirmar a vontade de potência, em si e no mundo.
E negar os negadores é uma forma de
afirmar! Por isso a luta também faz parte deste amor; não se pode apenas
entender que existem paradoxos e contradições, é necessário amá-los.
Devemos amar a luta, a revolta, a insubmissão. E que dizer “Não” seja
apenas um passo para se dizer “Sim” cada vez mais alto! Porque temos
cada vez mais vontade de dizer “Sim!”. Vontade de estar no mundo!
Vontade de amar! Amor-fati…
Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores, Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!” – Nietzsche, Gaia Ciência, §276.
Fonte: Razão Inadequada
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