PICICA: "Quantas políticas não nascem do medo e quanto políticos não se beneficiam por “colocar a rota de volta na rua”?
Resultado: o número de detentos aumentou, o número de suspeitos, mais
ainda e, finalmente, o número de vigiados já alcança todo espectro da
população. A prisão cresce por dentro e por fora. Somos servos
de um medo social que justifica as mais absurdas formas de segurança.
Uma vez mais, a disciplina se tornou controle: um sujeito amedrontado é
interessante do ponto de vista da torre de vigia; é improvável que ele
saia de sua cela e exija mudanças, que ele descubra sua potência e
recuse ser vigiado.
(...)
A alternativa proposta por Negri e Hardt
para dissolver estas subjetividades é a constituição do comum, onde os
pontos de encontro acontecem. Trocar o medo comum e o individualismo
pelo desejo de liberdade e convivência é o primeiro passo. Transformar o
medo em esperança é só o começo. Devemos derrubar os muros, olhar para o
céu, deixar a vida entrar pela janela, assumir os riscos, cooperar,
coexistir, recuperar a alegria de agir juntos na constituição de uma
vida livre, sem barreiras, sem catracas, sem portas giratórias, sem
cancelas e outras paranoicas parafernálias."
Negri e Hardt – O Securitizado
- por Rafael Lauro e Rafael Trindade
Cada uma das quatro figuras da subjetividade move um afeto principal. O endividado sente-se culpado, o mediatizado está deslumbrado, o representado sempre desinteressado e o securitizado,
amedrontado. O medo social generalizado produz o securitizado –
sujeitos servis de uma sociedade prisional, que assumem ao mesmo tempo o
papel de vigias e vigiados.
Olhe ao redor; veja as grades, os muros,
as câmeras, os portões, as trancas, os cadeados, as lanças, os
blindados, os cercos de arame farpado. Quando é que nós fomos
encarcerados? Por onde passamos deixamos um rastro de medo. Nossa
sociedade fareja muito bem o medo, ela vive deste sentimento.
“Passe pela segurança de um aeroporto, e seu corpo e sua bagagem serão lidos oticamente“.
Usufrua de qualquer serviço (seja público ou privado) e todos os seus
dados serão coletados e armazenados. Adquira algum bem e logo te
empurrarão um seguro. “Por que você aceita ser tratado como um presidiário?“.
A questão é que já nem faz mais sentido
falar em prisão quando a escola, o trabalho, a vida pública seguem a
mesma lógica do sistema carcerário. Estamos todos internados e alistados
num “regime difuso de segurança”. Vivemos em guerra pedindo por… paz?
Não, vivemos com medo pedindo por mais segurança, muros mais altos,
grades de mais alta tensão, arames mais farpados, senhas mais complexas.
O securitizado abraça policiais militares em manifestações onde pede
intervenção militar, sente seu coração disparar em cada esquina mal
iluminada, anda rápido sem olhar para os lados e sempre dá duas voltas
na fechadura.
O inimigo é desconhecido e invisível, e no entanto está sempre presente, como se fosse uma aura hostil” – Hardt e Negri, Multidão, p. 56
Quantas políticas não nascem do medo e quanto políticos não se beneficiam por “colocar a rota de volta na rua”?
Resultado: o número de detentos aumentou, o número de suspeitos, mais
ainda e, finalmente, o número de vigiados já alcança todo espectro da
população. A prisão cresce por dentro e por fora. Somos servos
de um medo social que justifica as mais absurdas formas de segurança.
Uma vez mais, a disciplina se tornou controle: um sujeito amedrontado é
interessante do ponto de vista da torre de vigia; é improvável que ele
saia de sua cela e exija mudanças, que ele descubra sua potência e
recuse ser vigiado.
No regime de segurança, o medo é um significante vazio, no qual todos os tipos de fantasmas podem aparecer” – Negri e Hardt, Declaração, p. 39
A subjetividade em crise gira em falso
até gerar seu próprio oposto. Medo gera mais medo, mas o número de
fechaduras na porta não tende ao infinito. Uma hora ou outra estas
trancas precisam ser abertas. O securitizado descobre o remédio para
seus medos desfazendo a si próprio. É sua própria subjetividade que se
desintegra com o peso de sua armadura de proteção paranoica.
Qual a saída para o securitizado? Vencer o
exército que ele mesmo exigiu é impossível; também não é possível pular
mais alto que os muros que nós próprios construímos. As câmeras filmam o
tempo todo, “para nossa própria segurança“. Qual a saída
então? Tornar-se invisível! Passar por debaixo da cerca, fugir, enganar,
esconder-se, ludibriar. Eles são fortes, nós somos inteligentes. Eles
nos cercam, nós criamos linhas de fuga. As micro-resistências constituem
a nova forma de subversão. Propomos uma micro-coragem contra um
macro-terrorismo. Os pequenos atos de insubmissão contrapõe-se a toda
uma estrutura de opressão. Não admiramos soldados nem policiais e
sabemos o resultado de seus atos de violência.
Tudo o que queremos é desfazer a enorme
distância que existe entre um securitizado e outro. Eles temem a si
mesmos porque se desconhecem. Eles pedem por uma distância que os
atrofia. Na solidão eles têm medo, na comunidade eles podem se sentir
fortes novamente. Levantar a cabeça e olhar para o lado é fazer aliados e
buscar saídas. Estamos tão intimidados olhando para baixo que não
conseguimos encontrar as chaves que podem nos libertar.
A alternativa proposta por Negri e Hardt
para dissolver estas subjetividades é a constituição do comum, onde os
pontos de encontro acontecem. Trocar o medo comum e o individualismo
pelo desejo de liberdade e convivência é o primeiro passo. Transformar o
medo em esperança é só o começo. Devemos derrubar os muros, olhar para o
céu, deixar a vida entrar pela janela, assumir os riscos, cooperar,
coexistir, recuperar a alegria de agir juntos na constituição de uma
vida livre, sem barreiras, sem catracas, sem portas giratórias, sem
cancelas e outras paranoicas parafernálias.
Fonte: Razão Inadequada
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