PICICA: “A felicidade só é real quando é compartilhada”.
Na Natureza Selvagem – “A felicidade só é real quando é compartilhada”
Poucos dias antes de cometer o erro que o levou à morte, Alex escreveu em cima de um dos livros que estava lendo: “A felicidade só é real quando é compartilhada”.
O sentido desta frase pode soar ambíguo e
abre margem para vários tipos de interpretação. Afinal, o próprio
trecho do livro que Alex grifou, Doutor Jivago, fala de mergulhar no
cotidiano e viver uma vida com seus semelhantes. Será então que Alex
estava arrependido de suas andanças e queria voltar para o aconchegante
seio familiar? Olhando para toda a trajetória de Alex, acredito que a
resposta seja não.
Em uma carta para seu amigo Ron Franz, Alex escreve:
A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente sol […] Não se acomode nem fique sentado em um único lugar. Mova-se, seja nômade, faça de cada dia um novo horizonte. Você ainda vai viver muito tempo, Ron, e será uma vergonha se não aproveitar a oportunidade para revolucionar sua vida e entrar num reino inteiramente novo de experiências” – Carta de Alex para Ron
Se no filme, a última cena de Ron é
chorando pela perda do neto que nunca teve (e nunca teria), no livro, ao
voltar para entrevistá-lo, Jon Krakauer descobre que Ron, com 81 anos,
levou à sério os conselhos de seu mais novo amigo e saiu pela estrada.
Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda nossa volta. Está em tudo e em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de viver não convencional” – Carta de Alex para Ron
Este outro trecho da carta está muito bem
adaptado para o filme onde Ron e Alex conversam no alto de um monte,
observando a paisagem. A felicidade está em todas as possibilidades que
estão à nossa volta, só é preciso abri-se para elas, experimentar e
vivê-las. Alex compartilhou sua felicidade andando por florestas,
correndo com cavalos, remando pelos rios, dormindo em um ônibus
abandonado no Alasca. Ele compartilhou a felicidade ao olhar o sol se
pondo, tirar fotos, escrever em seu diário. A felicidade é algo que
extravasa, segue sempre um passo à sua frente.
Alex Supertramp também, compartilhou sua
felicidade com as pessoas que encontrava pelo caminho e com quem fazia
questão de manter contato: Wayne Westerberg, Jan e Rainey, e o próprio
Ron Franz. Mandou-lhes notícias, vários postais, mensagens de feliz
natal e até uma edição especial de “Guerra e Paz” para Wayne. Isso não é
compartilhar a felicidade? Talvez este seja o modo mais sincero de ser
feliz: ao ponto em que a felicidade simplesmente transborda.
Muitas vezes nos agarramos e ficamos
presos a experiências passadas sem perceber que apodrecemos junto com
elas. Compartilhar a felicidade é também aprender a deixá-la ir.
Abrir-se para o novo, ouvir o chamado da sua natureza e da natureza ao
seu redor. Onde encontrar esta felicidade? Em um cotidiano cinza que
constantemente nos constrange e aperta? Alex encontrou esta felicidade
nos encontros que fazia pelos lugares que passava.
Claro que ele sentia saudades, talvez de
sua irmã mais do que ninguém, mas ele sempre seguia em frente. A
felicidade esta à nossa volta, Deus as colocou lá, ou, como nós
(inadequadamente) preferimos dizer, é o próprio deus que colocou-se lá,
como natureza.
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