maio 13, 2008

Parto normal: será que agora vai?

Parto normal: será que agora vai?

11 May 2008

Há décadas se percebe no Brasil um aumento preocupante do número total de cesarianas realizadas, sobretudo entre mulheres que usam planos privados de saúde. No final da década de 1990 foi ao ar uma tímida campanha que tinha como slogan “Natural é parto normal”. A iniciativa vinha de Brasília envolvendo Ministério da Saúde e Conselho Federal de Medicina. Na época, organizações de mulheres participaram de uma ampla comissão que assessorou o delineamento desta campanha, e houve embates quando insistíamos que o público-alvo deveria ser a classe médica, principal responsável pelo fenômeno. Não houve acordo.

De lá para cá o Brasil tornou-se campeão mundial de cesarianas, realizadas por solicitação das mulheres, mas, muitas vezes, por falta de opção, devido à postura de muitos médicos/as que preferem a “praticidade”, a dar tempo à espera do trabalho que desemboca no parto normal. Na semana que passou anunciou-se nova campanha, a ser veiculada a partir deste domingo, 11, Dia das Mães.

Dados de 2006 apresentados em matéria da Folha da última teça-feira, 06, apontam que as cesarianas já correspondiam a 26% dos partos no Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, ao considerar os partos realizados no setor público e privado o percentual sobe para 43%, e atinge 80% ao se considerar apenas as mulheres que usam planos de saúde. Os estados do Sudeste são os campeões, com 52% do número total de partos. Na região Norte o percentual é de 35%. O Amapá teria a situação que mais se aproxima da ideal, com uma prevalência de partos normais de 75%. A OMS recomenda que o percentual de cesarianas não ultrapasse os 15%.

Na reportagem da Folha Online, o depoimento do ministro Temporão:

“Nós sabemos que o parto cesárea não indicado adequadamente pode gerar sérios problemas de saúde ao bebê e à mãe além de atrasar e interferir no processo de aleitamento materno, que é fundamental para a saúde do bebê”.

Quem ouve esses conselhos?

A campanha distribuirá panfletos, cartazes, filmes para TV e gravações para as rádios com mensagens sobre o processo do parto normal e a sua importância. Com o apoio das entidades médicas e científicas, está prevista a sensibilização de profissionais de saúde, universidades:

“queremos incentivar as mulheres a reivindicar o direito de dar à luz por meio do parto normal, com autonomia, humanização no seu acompanhamento e segurança” (Adson França/ MS, na Folha).

Nossa leitora Ana Luiza Avellar, que estimulou esta pauta, apontou como é importante saber que existem grupos de mulheres que “prendem rédea do seu poder de dar à luz” e estão organizando o parto em casa, na falta de opção e do respeito merecido a este ato. Para Avellar a campanha atual se anuncia como a luz no final do túnel a favor das mulheres e da sociedade.Tomara que sim, pois a batalha é árdua, haja vista as barreiras colocadas por setores médicos à instalação, no município do Rio de Janeiro, da experiência com Casas de Parto, uma alternativa paralela ao sistema hospitalar, mas em outro ambiente e tendo como parte importante da equipe as enfermeiras obstétricas, acostumadas à paciência necessária a um acompanhamento adequado e estimulante ao parto normal.

Voltaremos ao assunto. Feliz Dia das Mães!

Angela Freitas/ Instituto Patrícia Galvão

Fonte: Mulheres de Olho
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