maio 13, 2008

Toada para ninar Drummond

CANTATA DE CABECEIRA
PARA OS QUE SÃO DO MEU CHÃO
E DO CORAÇÃO (I)


Aníbal Beça ©

Toada para ninar Drummond
no berçário das centúrias


Ah, meu anjo Carlos!
Tua linguagem
de ferro
(de rara assepsia)
vai se forjando
nas (im)purezas do branco
moldando encardidos verbos
flechando ventos enviesados
no vôo de asas tortas
de pássaro ferido
para adoçar o milagre
do dia-a-dia ordinário
despiciendo
do mais comum dos teus iguais.

A palavra sempre justa
pousa no peito solitário
por entre paralelas solidárias:

“Existir: seja como for. O essencial é viver”

Teu mar de pedras
lambendo
as ondas altas
da Escócia
escalando rochas de Itabira
(esta cidadezinha qualquer)
abrindo novas
escarpas
No meio delas
te deitas rio
simbiose liquefeita
estado sólido
pedra
que se vai
clareando
argila
magma
enigma
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Um comentário:

Anônimo disse...

Para Casado depois para Beça que faz dormir o poeta(eu em algum lugar me encontro):
“Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.” (Ausência - Carlos Drummond de Andrade)
beijo
Astrid