novembro 05, 2009

SOS Beiradão

Região das Lajes - Encontro das Águas
Foto: Rogelio Casado - Manaus - Amazonas - Brasil, nov/2009

Racismo ambiental - Não contente em ocupar uma vasta extensão do beiradão da Ponta Negra, o Exército brasileiro quer ocupar definitivamente o beiradão do Jatuarana, às margens do rio Amazonas, numa região onde se pratica aberta e impunemente o que a sociologia conhece como racismo ambiental. Populações tradicionais vem enfrentando a expansão do distrito industrial em direção à Colônia Antônio Aleixo; o assoreamento do lago do Aleixo, com o depósito de metais pesados em suas águas, que certamente já comprometeram a cadeia alimentar; bem como a construção de um terminal portuário na região das Lajes. Nesse cenário de políticas públicas confusas e anti-democráticas, a comunidade do Jatuarana passou a ser pressionada a se retirar da região, para dar lugar à expansão do treinamento de "Guerra na Selva" do glorioso exército nacional. Curiosamente, duas colônias estrangeiras, uma norte-americana, outra japonesa - ambas situadas nos arredores, na região conhecida como Puraquequara -, tem seus empreendimentos preservados, em detrimento dos interesses do povo que reside há mais de um século nessa região. Alguma coisa errada nessa história.

Pelo twitter - A jornalista Elaize Farias, comunica aos tuiteiros uma informação intrigante sobre a audiência pública de hoje para discutir a questão, que me fez perguntar: "a ditadura acabou, ou não?"

Resquícios de outros tempos. Exército proibiu a presença da imprensa na reunião com os comunitários do Puraquequara.
Apenas órgãos oficiais da área fundiária e ambiental puderam participar. Uma parlamentar disse que o clima "tava pesado".
Tão brincando com a paciência popular. Zefofinho de Ogum, consultor deste PICICA, foi peremptório: "Ninguém merece essa escrotidão. Chamem o Lula!".

SOS Encontro das Águas - A propósito desse equívoco, observe a fotografia acima. Estamos no extenso tapete de pedras da região das Lajes, em frente do Encontro das Águas, que surge em toda a sua exuberância durante a seca dos rios Negro, Solimões e Amazonas. É aí que desovam a imensa população de jaraquis que alimenta os manauaras. No fundo pode-se ver a construção da adutora de captação de água para a região leste de Manaus. Ao seu lado, a montante, fica uma empresa nipo-brasileira que fez um belo trabalho de restauração da mata local. Mas é a jusante que mora a preocupação do movimento SOS Encontro das Águas. É na ponta de mata que vira igapó durante a cheia - onde desovam várias espécies da fauna ictiológica, num área de mais de 200 metros -, que se pretende construir um terminal portuário para armazenagem de conteineres do Polo Industrial.

Sob o silêncio dos povos indígenas que moram em Manaus, e que perderam a dimensão do sagrado; da indiferença das classes médias incultas, voltadas para seus umbigos; que comunitários, jornalistas, professores, intelectuais orgânicos e parte da sociedade civil organizada resistem na luta contra o racismo ambiental e pelo respeito aos direitos humanos das populações tradicionais que moram no beiradão de Manaus.
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