fevereiro 06, 2011

A questão da usina de Belo Monte: entre o antigo cinismo e a moderna hipocrisia

PICICA: Astrid Lima, este post é uma homenagem a você e sua frase - via Facebook - "A expressão "Plano de Aceleração Economica" é inquietante. Amazônia? Foi um prazer ter te conhecido...". Ela gerou um debate acalorado, onde foi feita pelo menos uma acusação de maniqueísmo, através de uma sofisticada lógica aristotélica,  por um interlocutor que pretendia levar a suposta "burrice" de quem é contrário ao desenvolvimento da Amazônia ao seu extremo para expo-la (racicionio ad absurdum). De quebra, ainda sobrou a  acusação de cinismo a este piciqueiro inveterado. Aceito o rótulo, por uma questão didática. Mas advirto que a velha doutrina socrática, criada por Antístenes de Atenas, nunca foi acusada de modo tão descarado. Afinal os cínicos, no sentido trivial do termo, tem por alvo unicamente a eficácia. No caso, a do discurso contrário à construção da usina de Belo Monte. Curiosamente esta parecia reinar, no discurso do opositor, soberana  e isolada de outras sessenta hidrelétricas que estão sendo projetadas para a Amazônia. Ou seja, não dá para discuti-la isoladamente. Significa dizer que discutir a partir do desconhecimento "é soda", como dizia Fócrates. Ora, o cínico não se preocupa nem com a moral, nem com as ideologias. Ele não reconhece virtude que não seja livre e liberdade que não seja virtuosa. Portanto, o discurso contrário a Belo Monte, acusado de cinismo, costuma ter origem em um discurso que confude seus desejos (de desenvolvimento da região amazônica, baseado em conceitos problemáticos) com a realidade (do impacto socioambiental, a serviço de interesses transnacionais). Viva o cinismo, que um dia já foi virtude, hoje é defeito. Na consulta feita pelo sociólogo Emir Sader aos seus leitores, encontrei dois discursos exemplares. Um marcado pela lucidez. Um outro, pelo contrário. O primeiro se contrapõe a Belo Monte. O segundo é favorável e usa como defesa um texto da ex-ministra do Meio Ambiente, cujo discurso os cínicos certamente repudiariam. Marina deixa de lado a lucidez para flertar perigosamente com a hipocrisia. Em causa o dilema entre o dever e a eficácia; entre  a virtude moral e a eficácia política. E la nave va!

Consulta sobre a usina de Belo Monte

Apresentamos aqui mais uma consulta para nossos leitores e leitoras: na sua opinião, deve ou não ser concedida a licença para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte?

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José A. de Souza Jr. diz:
03/02/2011
E o pior é que a energia gerada por uma suposta Belo Monte poderia muito bem ser substituída por outras formas de geração/corte de desperdícios, sem os impactos socioambientais que serão gerados por Belo Monte. O projeto desta usina se inscreve, a meu ver, numa lógica de incorporação subordinada da Amazônia brasileira ao mercado internacional através da exportações de commodities semi-manufaturadas, altamente intensivas em energia elétrica. Uma espécie de exportação dos danos ambientais dos centros internacionais de acumulação de capitais para periferias como o Brasil. Infelizmente, o governo brasileiro está neste esquema até o pescoço. Hora de acordarmos e darmos uma resposta cidadã e firme a esta questão.

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Mirabeau Bainy Leal diz:
01/02/2011
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APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DO RIO XINGU É INEVITÁVEL,
DIZ MARINA SILVA

Por Fabíola Munhoz, do Amazônia.org.br
29/10/2009

A senadora e pré-candidata à Presidência da República pelo Partido Verde (PV), Marina Silva, disse desta quinta-feira (29) que não há como o Brasil fugir da exploração sustentável de seus recursos hídricos, dentre os quais o do rio Xingu, no Pará, onde se pretende construir a usina hidrelétrica de Belo Monte.

A afirmação foi feita durante participação da senadora no lançamento de um produto da Serasa Experian, que pretende reunir informações sobre empresas e produtores rurais, quanto ao cumprimento da legislação ambiental.

Considerando as usinas hidrelétricas como fonte de energia limpa, Marina afirmou que o País tem que aproveitar seus rios, já que precisa apresentar ao mundo metas de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa.

Para ela, é preciso, porém, que a construção de hidrelétricas preveja um Programa de Desenvolvimento Sustentável (PDS) que dê governança sustentável a esses empreendimentos.

"Belo Monte é um projeto complexo. Se já tivesse sido feito um estudo sobre a necessidade de energia e de conservação do meio ambiente na região, seria possível a implantação da usina de forma sustentável", afirmou.

De acordo com a senadora, a elaboração de um PDS para a obra, prevendo a mitigação e a prevenção de possíveis impactos socioambientais da usina de Belo Monte, deve ser vista, não como entrave à realização do empreendimento, mas como exigência e necessidade.

"Não temos como preterir os recursos hídricos. Temos que resolver o problema no mérito, com planos de desenvolvimento sustentável, criação de unidades de conservação e criação de ferramentas que permitam implantar tudo isso", disse.

Nessa mesma linha de raciocínio, a senadora também defendeu as obras na BR-163, entre Santarém (PA) e Cuiabá (MT), dizendo que, embora o PDS do projeto ainda não tenha sido efetivado, está prevista a criação de áreas de conservação da floresta amazônica na região de abrangência da estrada.

"Não se pode pegar o que ainda não foi feito dentre o previsto no plano e generalizar, dizendo que ele não será cumprido", argumentou.

http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2009/10/aproveitamento-energetico-do-rio-xingu.html
Fonte: Carta Maior - Blog do Emir

Um comentário:

Teorias disse...

Possível solução de toda essa guerra gerada pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Qualquer atividade que for ser realizada dentro do país, que cause grandes impactos, sejam quais forem, deve ser discutida e aprovada pelo Congresso Nacional, se a mesma envolver todo o país ou se ela estiver relacionada a áreas que estejam sobre os cuidados, proteção e administração da União. Caso não passe pelo Congresso Nacional, exorbita o poder regulamentar do País. Dependendo da gravidade, dos impactos e da possível comoção nacional do povo, o Congresso Nacional pode fazer jus de um plebiscito ou de um referendo (se for o caso).

Dependendo do caso, o plebiscito e o referendo podem ser pedidos ao Congresso Nacional por meio de um abaixo-assinado vindo do povo, mostrando assim o ensejo do povo em ser ouvido e consultado sobre o tema tratado ou que irá ser tratado pelo Congresso Nacional.

* Plebiscito é uma consulta ao povo antes de uma atividade ou projeto que vai ser discutido no Congresso nacional ou de uma lei ser constituída, de modo a aprovar ou rejeitar as opções que lhe são propostas.

* Referendo é uma consulta ao povo após a lei ser constituída (atividade ou projeto), em que o povo ratifica ("sanciona") a lei já aprovada pelo Estado ou a rejeita.

A Usina Hidrelétrica de Belo Monte vai estar interligada ao Sistema Nacional de Energia Elétrica, ou seja, caso precise da energia dela para se distribuída pelo país, será usada e caso haja um problema de funcionamento nela, como ocorreu na Usina Hidrelétrica de Itaipu, todo o sistema energético do país pode ser comprometido ou deixa de funcionar (todo ou certa parte deste sistema) temporariamente, para evitar possíveis danos e sanar as falhas de tal Usina Hidrelétrica. Isso envolve diretamente a vida de todos os Brasileiros que depende da Energia Elétrica do Sistema Nacional de Energia Elétrica do país.

Além disso, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte envolve Terras Indígenas que estão sobre os cuidados, proteção e administração da União.

Resumindo:

Basta o povo se organizar e fazer um abaixo-assinado pedido ao Congresso Nacional que seja feito um Referendo, para que o povo possa ser consulta. No referendo, o povo irá ratificar ("sancionar") a lei já aprovada de autorização da Construção de Belo Monte ou rejeitar a mesma.

Belo Monte dizer a vocês: "...piada no exterior... vamos faturar milhões. Quando vendermos todas as almas dos nossos índios num leilão."

"A natureza é fonte inesgotável de saber e vida. Quem a destrói comete o genocídio dos pensamentos e ensinamentos que foram dados por ela."

(Cientista e Pensador Herbert Alexandre Galdino Pereira)