PICICA: "Como bem observou Gilson Caroni,
a gloriosa aliança entre a mídia e a toga marca o tom do golpismo, uma
vez que a política precisa ser esvaziada. Sem mais juntas militares,
agora é a hora e a vez dos tribunais supremos mediarem a democracia. Uma
mudança tão óbvia que chega a ser caricatural: é como cambia a história
da farsa política coma a passagem do capitalismo industrial para o
cognitivo. É preciso construir uma doce doutrina de dominação e na falta
de conseguir isso por meio de eleições, que seja pela elevação do STF à
instância total. Em grau menor, também vemos o ministério público
assumir uma função policialesca contra os movimentos sociais como no
primeiro exemplo."
A Criminalização da Política na Democracia Brasileira
Dezenas de estudantes da USP foram indiciados pela ocupação da reitoria
daquela universidade. Sinal do nosso tempo. É forçoso crer, pelo
propósito empregado, que estudantes cometam algum crime ao realizarem um
protesto político dessa natureza. No entanto, o sistema estatal precisa
absorver a desobediência civil na forma de ato criminoso para solver a
contestação que lhe extrapola -- e o direito penal é solvente universal
nesse sentido. Por ele, a narrativa da rebelião é recontada, uma vez se
tratar da última linha de defesa da ordem. A criminalização da política,
portanto, está na ordem do dia.
Sim, o Brasil é uma democracia e o regime militar foi derrotado. O que
não quer dizer que o autoritarismo não possa continuar operando,
disputando terreno com a própria luta constituinte de direitos. Seja nas
pequenas arbitrariedades quotidianas -- como a má vontade de uma
cartorária de vara criminal que pode custar a liberdade de alguém -- ou
mesmo nas instância mais altas e visíveis do Estado -- como em decisões
casuístas do STF que, na prática, buscam suspender dispositivos
constitucionais vigentes. Digamos assim, a luta continua, embora em
outra roupagem.
Como bem observou Gilson Caroni,
a gloriosa aliança entre a mídia e a toga marca o tom do golpismo, uma
vez que a política precisa ser esvaziada. Sem mais juntas militares,
agora é a hora e a vez dos tribunais supremos mediarem a democracia. Uma
mudança tão óbvia que chega a ser caricatural: é como cambia a história
da farsa política coma a passagem do capitalismo industrial para o
cognitivo. É preciso construir uma doce doutrina de dominação e na falta
de conseguir isso por meio de eleições, que seja pela elevação do STF à
instância total. Em grau menor, também vemos o ministério público
assumir uma função policialesca contra os movimentos sociais como no
primeiro exemplo.
Isso se vê, por exemplo, na narrativa das recentes eleições dos
peemedebistas Renan Calheiros e Henrique Alves para o comando das duas
Casas do Congresso. Há pouca crítica programática política dos aliados
parlamentares do governo, só moral de ocasião e a insistência em,
sobretudo no que diz respeito a Alves, fazer criticas pelo viés da
"desobediência ao STF" -- em virtude das declarações do deputado de que é
a mesa diretora que declara a perda do mandato, não o STF (como o
próprio tribunal concluiu, ampliando sua própria competência para além
do texto da Constituição). Nada pode arranhar a figura divina do STF.
Em parte, o governo petista, responsável pela constituição de direitos
que ficaram estancados desde a redemocratização, arruma a cama para
aqueles que podem ser, e já estão sendo, seu algozes. Bancar emendas
constitucionais que possibilitaram o STF chegar a esse ponto é um
exemplo disso. Nesse sentido, ele repete uma prática que custou caro à
social-democracia alemã. As conquistas democratizantes dos últimos anos
na área social e econômica precisam vir acompanhadas de uma
democratização política, sem a qual tais avanços podem cair por terra. A
burocratização da sociedade brasileira é uma linha de força que está
posta. É preciso democratizar a democracia.
Fonte: O Descurvo
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