PICICA: "“… a morte
está sempre no caminho, porém o fato de nunca se saber quando ela
chegará, parece amenizar o caráter finito da vida. É aquela precisão
terrível que odiamos tanto. E como não sabemos, temos a tendência a
encarar a vida como um poço inesgotável. Entretanto, tudo só acontece
uma determinada quantidade de vezes e, na realidade, uma quantidade
muito pequena. Quantas vezes mais lembrar-se-á de uma certa tarde em sua
infância, alguma tarde que faz tão profundamente parte de seu ser que
não conseguiria imaginar sua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes
mais. Talvez nem isso. Quantas vezes mais assistirá ao nascimento da lua
cheia? Talvez vinte. E, no entanto, tudo parece não ter limites.”"
O céu que (não) nos protege
O inapreensível, tá sempre aí, por trás de tooooda a aparência do mundo, coladinho ao mundo mes-mo – y no entanto nós insistimos em num vê-lo:
Kit: ‘But what is behind?’
Port: ‘Nothing, I suppose. Just darkness. Absolute night.’
“The Sheltering Sky” (Bernardo Bertolucci, 1990)
“… a morte
está sempre no caminho, porém o fato de nunca se saber quando ela
chegará, parece amenizar o caráter finito da vida. É aquela precisão
terrível que odiamos tanto. E como não sabemos, temos a tendência a
encarar a vida como um poço inesgotável. Entretanto, tudo só acontece
uma determinada quantidade de vezes e, na realidade, uma quantidade
muito pequena. Quantas vezes mais lembrar-se-á de uma certa tarde em sua
infância, alguma tarde que faz tão profundamente parte de seu ser que
não conseguiria imaginar sua vida sem ela? Talvez quatro ou cinco vezes
mais. Talvez nem isso. Quantas vezes mais assistirá ao nascimento da lua
cheia? Talvez vinte. E, no entanto, tudo parece não ter limites.”
Trêsvi o belíssimo filme do Bertolucci y trêsli o excelente romance do Bowles editado há anos, enxuto&denso, muitíssimo bem escrito.
O céu que (não) nos protege: a metáfora do calor opressivo do deserto remete à opressão interna dos personagens, porque pra onde vamos, levamos nossos tormentos. Esta proposta básica é magnífica. No início daquela viagem, os personagens dão a impressão de serem simples-mente jovens, aventureiros&invulneráveis. Pero… é essa mesmíssima juventude irriquieta que os impele à 1 – digamos – estranho fascínio pelo imponderável! Aos poucos, transparecem toooodas as angústias y eles são catapultados a situações-limite. A morte de Port é uma lenta agonia, em que a cumplicidade de Kit, cuidando do marido, dá a medida de que a cumplicidade existe mesmo em relações destroçadas… desde que tenham sido relações fortes, ainda que fortes em… dor. O (?)bom&véio desamparo… e cá estamos diante de toooodo o arsenal de nossas insuficiências básicas… diante do primal fear.
E nesse sentido o Bowles brinca com Avessossss, pois o tal “céu que nos protege” o faz de intangíveis periculosidades céu acima…
[Boa descrição do Ubiratan ("O deserto sem oásis de Paul Bowles") no link aí, ressalto a brincadeira bem colocada do Bowles com o nome "Tunner" do personagem cataliza-dor do casal central... http://migre.me/d94Fp]
Tudo nesse filme é ex-ce-len-te, segue a trilha sonora-merguuuulho do Ryuichi Sakamoto de presente pra vocês:
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