PICICA: Um dia, numa
sessão, contei a Lacan um sonho que tive. Eu disse: ‘Acordo todo dia às
5h’, e acrescentei: ‘Era às 5h que a Gestapo vinha procurar os judeus em
suas casas.’ Nesse momento, Lacan se levantou como uma flecha de sua
poltrona, veio na minha direção e me fez um carinho muito doce no rosto.
Eu entendi: ‘geste à peau’, o gesto…“
Gesto
Suzanne Hommel: “Sou
da Alemanha e nasci em 1938. Portanto, vivi os anos da guerra com todos
os horrores, as angústias, o pós-guerra, a fome, as mentiras. Sempre
quis deixar a Alemanha por causa disso. E, desde o início das primeiras
sessões, eu perguntei a Lacan: ‘Posso me curar desse sofrimento?’… e
dizendo isso, entendi que não. Eu havia pensado que podia arrancar essa
dor de mim com a análise. Não, havia uma maneira de me olhar que me fez
perceber: ‘Não. Será preciso fazer isso a vida toda.’ Um dia, numa
sessão, contei a Lacan um sonho que tive. Eu disse: ‘Acordo todo dia às
5h’, e acrescentei: ‘Era às 5h que a Gestapo vinha procurar os judeus em
suas casas.’ Nesse momento, Lacan se levantou como uma flecha de sua
poltrona, veio na minha direção e me fez um carinho muito doce no rosto.
Eu entendi: ‘geste à peau’, o gesto…“
Gerard Miller: “Ele transformou a ‘Gestapo’ em ‘geste à peau’.“
Suzanne Hommel: “Em
um gesto carinhoso. Um gesto extremamente carinhoso. E essa surpresa
não diminuiu a dor, mas fez outra coisa. A prova, agora, 40 anos depois,
é que eu ainda conto esse gesto, eu ainda o tenho no rosto. É um gesto
também… é um apelo à humanidade, qualquer coisa assim.“
Fonte: Psicotramas
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