PICICA: "Os depoimentos
colhidos retratam em especial episódios de violência e tortura sofridas por
profissionais da psicologia, relatados pelas próprias vítimas ou por
familiares. Há ainda depoimentos de profissionais que atenderam vítimas de
tortura."
Direitos Humanos
30.09.2013
[ Brasil ]
Depoimentos de psicólogos afetados pela ditadura serão
entregues à Comissão da Verdade
Adital
Depoimentos de
psicólogas, psicólogos e estudantes de psicologia afetados direta e/ou
indiretamente pela ditadura brasileira contribuirão com o trabalho da Comissão Nacional da Verdade
(CNV). O projeto "Testemunhos e memórias de psicólogas e psicólogas sobre
a ditadura civil e militar (1964-1985)”, realizado pelo Conselho Federal de
Psicologia (CFP), já concluiu a coleta dos depoimentos, totalizando 63
testemunhos em 15 estados do país. A previsão é de que, até o fim de novembro
próximo, o CFP publique os depoimentos em dois volumes e faça a entrega oficial
à CNV, em Brasília. Esta, criada em maio do ano passado, tem o objetivo de
apurar as graves violações de direitos humanos praticadas por agentes públicos,
ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 05 de outubro de 1988.
Em entrevista a
Adital, a coordenadora do projeto e membro da Comissão de Direitos Humanos do
CFP, Ana Luiza Castro, explica que a ideia surgiu da constatação de que a
psicologia deveria contribuir com questão da verdade sobre a ditadura.
"Sabemos que pessoas que viveram e mesmo as que nasceram durante aquele
período tiveram, de alguma forma, interferências do regime, até mesmo o simples
hábito da obrigatoriedade de cantar o hino
nacional na entrada das escolas”, assinala. Os depoimentos
colhidos retratam em especial episódios de violência e tortura sofridas por
profissionais da psicologia, relatados pelas próprias vítimas ou por
familiares. Há ainda depoimentos de profissionais que atenderam vítimas de
tortura.
Apesar de preferir
não antecipar detalhes antes do lançamento da publicação, Ana Luiza conta que
entre os relatos que chamaram sua atenção há o de pessoas, que, na época da
ditadura, eram crianças, mas que
relembram detalhadamente o que aconteceu com seus pais. "São fatos que
ficaram nitidamente marcados na memória depois de 40 anos, inclusive para
surpresa dos pais, que foram as vítimas diretas das violações”, observa,
salientando que o CFP também está organizando um concurso de artigos
científicos sobre a relação da psicologia com a ditadura, d que também serão
entregues à CNV.
Ana Luiza destaca
que a criação da CNV foi de fundamental importância para que se faça o resgate
de um passado tão obscuro da história brasileira e faz um paralelo ao que
acontece na Argentina, cujo trabalho de recuperação da memória do período
ditatorial encontra-se bem mais desenvolvido. Questionada sobre o fato da
Comissão não alterar em nada a não punição dos acusados de torturas e outras
violações de direitos humanos, ela não defende, em sua opinião pessoal, a
criminalização e perseguição como formas de compensar o mal que foi feito.
"Recuperar a memória daquele período já é um grande avanço”.
A discussão sobre
o direito à memória e à verdade teve início no âmbito da Comissão Nacional de Direitos Humanos do CFP a
partir da nomeação da Comissão da Verdade. "Chamamos, então, as comissões
regionais de direitos humanos dos conselhos de Psicologia e construímos o
projeto; fizemos uma oficina de dois dias em Brasília, onde nos preparamos para
as tomadas de depoimentos”, acrescenta Ana Luiza.
Desde que foi
criada a CNV vem colhendo documentos e informações por meio de pesquisa
documental, audiências, cooperações e perícias ou diligências. As audiências
para coletas de informações são públicas e reservadas, pois a manutenção do
sigilo sobre alguns depoimentos é fundamental para que se possa dar os passos
seguintes, uma vez que um depoimento sempre traz indicativos de outros que
podem ser colhidos. Os membros e assessores da Comissão se dividem em três
grandes grupos temáticos: Subcomissão de Pesquisa, Geração e Sistematização de
Informações; Subcomissão de Relações com a Sociedade Civil e Instituições; e
Subcomissão de Comunicação Externa.
Para acompanhar os
trabalhos da CNV acesse a página no
Facebook.
Fonte: Adital
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