março 21, 2008

A 15 minutos de Parintins um casarão histórico está sendo degradado


Querida Norma Araújo, essa carta é de chorar, indignar-se e ir à luta. Tô contigo, manazinha!
Manaus, 17 de março de 2008

Assunto: Depauperarão do majestoso Casarão J. G. Araújo da Vila Amazônia – Parintins AM – denúncia e solicitação de apoio para preservação.

Anexos:

1 - Deliberações e Reivindicações da Comunidade do Assentamento Vila Amazônia, incluindo a transformação do Casarão em um Museu, realizadas em 2006 ao INCRA, IPHAM, IBAMA, SDS , MPFe MPE.
2 - Fotos do casarão ( estão em PDF para diminuir o tamanho do arquivo, estas e as originais estão disponíveis para livre uso).

Prezado Joaquim Marinho e demais amantes da arte e da história do Amazonas

Continuarmos nos subjugando ao colonizador ao reverenciar o bicentenário da chegada da família real portuguesa ao Brasil e ao realizar escambo com impérios financeiros portugueses como o que a Secretaria do Meio ambiente de Manaus - SEMMA fez com a SONAE SIERRA, licenciando a destruição de um fragmento florestal urbano para construção de um shopping em troca de “espelhinhos”.

Enquanto estas bajulações desnecessárias e maléficas ao bem público acontecem, em Parintins-AM um patrimônio que representa o legado cultural e econômico da história Amazonense deixado pelo Português Joaquim Gonçalves Araújo está sendo dilapidado e degradado. O belo conjunto arquitetônico da Vila Amazônia, conhecido como Casarão J. G. Araújo está localizado a 15 minutos da sede de Parintins na margem direita do Rio Amazonas e ao lado do porto de entrada do Assentamento do INCRA Vila Amazônia. O esplendido casarão que foi cenário de filmes de Silvino Santos e do Romance Cinzas do Norte de Milton Hatoum, é hoje um símbolo do descaso do poder público aos recursos históricos, culturais, arqueológicos ambientais e do próprio estado de abandono das famílias rurais daquela região.

O Casarão teve quase todos seus azulejos portugueses roubados ou destruídos, portas foram arrancadas para formar as paredes de um bar, porcos e caprinos são criados no seu interior e apesar da fortaleza da edificação, as intempéries durante os últimos 20 anos em que o casarão permaneceu como propriedade do INCRA sem nenhuma manutenção contribuíram para degradar mais ainda o depauperado palacete. A imponente e histórica propriedade não foi sequer valorizada pelo INCRA para servir pelo menos de escritório, o que facilitaria a atuação deste órgão no Assentamento.

Breve histórico da Vila Amazônia

Índios como os Parintintins ocupavam a região chamada hoje de Vila Amazônia, que apesar de ser cercada por lagos de várzea é a maior extensão de terra firme do Município de Parintins. Em 1922 início-se a exploração econômica extrativista e agrícola mais intensiva na área pelo chamado Coronel Batista que requereu as terras da União. Em 1927 o Governo Amazonense Efigênio Salles com aval de Getúlio Vargas concedeu terras do Amazonas para o Governo Japonês para serem transformadas em colônia agrícola Japonesa e assim criar alternativas para a crise econômica oriunda do termino do ciclo da borracha. Em 1931 chegou o primeiro grupo de migrantes japoneses que eram formados por Koutakusseis, jovens estudantes de agronomia da escola Superior de Emigração do Japão, que vinham sob juramento de se fixarem permanentemente na Amazônia. A região passou a ser chamada Vila Amazônia e iniciou-se um ambicioso projeto agroindustrial e que entre outras alternativas criadas pelos japonese, foi introduzido a juta na Amazônia e um novo ciclo econômico se originou. A sede da Vila Amazônia foi transformada em uma pequena cidade com templos Japoneses, hospitais, escolas, armazens e pequenas indústrias de beneficiamento. Com a Segunda Guerra Mundial os japoneses, foram em sua maioria presos e expulsos pelo exercito e as terras da Colônia Agrícola Japonesa foram desapropriadas em 1942 pelo governo brasileiro. As terras e a sede da Vila Amazônia da ex-colônia de japoneses foram compradas por J. G. Araújo por 50 contos de réis em um leilão governamental em 1946. J. G. Araújo construiu na vila deixada pelos japoneses o belo Casarão, que passou a ser sua residência e escritório regional de sua firma. Intensa atividades agropecuárias e extrativista bastantes diversificadas foram desenvolvidas por J. G. Araújo na Vila Amazônia impulsionando a economia na região e devido ao caráter do empreendedor, bastante humanista para a época, atividades culturais e melhoria da qualidade de vida foi propiciada para a população local e os trabalhadores. Foi no Casarão da Vila Amazônia, em companhia de J. G. Araújo, que o primeiro cineasta do Amazonas Silvino Santos viveu durante alguns anos. Após o termino do período da juta em 1967 e o retorno da firma de J. G. Araújo para Manaus, as terras foram repassadas a proprietários de Belém como Luiz Vale Miranda e Antônio Carlos Cabral, até que em 1986 foram desapropriadas para reforma agrária pelo INCRA. Em 1988 o Ministro da Reforma Agrária Jader Barbalho indenizou os herdeiros da Vila Amazônia através de processo de desapropriação fraudulento que supervalorizou em 50 vezes o valor da terra e fez com que os cofres públicos desembolsassem 15 milhões de reais (valores atualizados em 2006). Se não bastasse o valor exorbitante e irreal pago pela desapropriação e o fato que a ocupação agrícola da áreas poderia ser mantida por pequenos agricultores através de usucapião, em 1990 Jader Barbalho reivindicou novo pagamento pelas terras de 78 mil hectares no Amazonas alegando que a reforma agrária desvalorizou os restante 220 mil hectares restantes da propriedades que estão em área contígua no Pará.

Hoje, da civilização indígena resta sítios arqueológicos depredados por atividades agrícolas e pela comercialização de peças pelo turismo predatório. Da passagem dos Japoneses resta jazigos no cemitério, sendo que os últimos vestígios de um bangalô foi destruído para aproveitar o alicerce para construção de uma escola municipal.

No Amazonas há dezenas de galpões e construções do J. G. Araújo que estão em franca depauperação e têm enorme potencial para serem recuperados e transformados em centros culturais e até cinemas (e preferencialmente não supermercados) para as comunidades aos longo de diversos rios, mas nenhum deles concentra tanta beleza arquitetural, cênica e histórica como o Casarão da Vila Amazônica.

Denúncia sobre a depauperação do Casarão realizada pela comunidade em 2006

As comunidades do Assentamento da Vila Amazônica em conjunto com organizações não governamentais ligadas a questão ambiental e agricultura familiar, como GRANAVE e Gavião Real e instituições como INPA (Projeto Gavião Real), Embrapa e UFAM assinaram moção de reivindicações para proteção e transformação do Casarão em Museu (Anexo 1 – item 2.7) em dezembro de 2006 durante a III Mostra de Ciências da Vila Amazônica, financiada pela FAPEAM ao Projeto Gavião Real, e que objetivava a troca de saberes entre ciência e comunidades da Vila Amazônia para favorecer a sustentabilidade. Esta denúncia do abandono e do mau uso deste patrimônio histórico foi levada aos Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, INCRA, IBAMA, SDS e IPHAM. Esta denuncia foi reiterada na IV Mostra de Ciências da Vila Amazônica em dezembro de 2007, no entanto até o momento nenhuma atitude concreta foi realizado para cessar a depredação que o Casarão sofre diariamente, ou ao menos retirar as criações que defecam nos cômodos internos e o roubo de azulejos portugueses (fotos no Anexo 2).

Tornando mais crítico o quadro da carência de assistência técnica, da depredação ambiental e do mau uso dos recursos naturais e culturais no Assentamento, o INCRA fechou o escritório de Parintins e repassou para a Prefeitura Municipal em dezembro de 2007 o Casarão J.G. Araújo depredado, juntamente com a favela desordenada que este Instituto de Reforma Agrária durante os 20 anos de gestão do Assentamento permitiu que fosse instalada ao redor da histórica sede da Vila Amazônia.

Portanto solicitamos que urgentes providências sejam tomadas para a preservação do Casarão J. G. Araújo a fim de que se vier a ser viabilizado sua transformação em Museu de Cultura, História e Ciências Naturais e a ser um agregador do Turismo Ecológico Comunitário do Assentamento Vila Amazônia, como alguma instituições começam a analisar, que este patrimônio não tenha sido totalmente perdido. Para isso solicitamos o imediato tombamento do Casarão J. G. Araújo do Assentamento da Vila Amazônia, Parintins AM, pelo IPHAM.

Elisa Wandelli - bióloga

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara Ekisa Wandelli, fico feliz em existir pessoas como você, que ainda se preocupa com o nosso
patriomônio cultural. Despretenciosamente estou levantanto informações sorbe esse fabuloso comerciante que esteve entre os nossos antepassados desbranvando nossa Amazônia, de forma humanitária, até onde sei, o Sr, Comendador J. G. Araújo sempre paltou suas ações de empreendedor respeitandomo ser humano, o que me chamou a atenção. Inclusive,no sitio http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702007000500002&script=sci_arttext&tlng=pt,
Yahoo 230408 23:56, Os cientistas brasileiros visitam a Amazônia: as viagens científicas de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas (1910-1913), vê-se a preocupação da firma J.G. Araújo que fazx um reclamo junto ao governo do estado sobre medidas médicas destinadas a atenuar os efeitos da malária, que fazia grande número de vítimas nos seringais deste rio. Cara pesquisadora, o que mais você poderia me auxiliar em relação a esse grande empreendedor da nossa Amazônia, principalmente em termos econômicos, foco do meu interesse?
iiioisesantos@yahoo.com.br, 9114-4252

Anônimo disse...

Comcordo plenamente com Elisa Wandelli, realmente é uma perda consideravel a Depauperarão do majestoso casarão de j.g Araújo. Já estive lá é como futura históriadora confesso que fiquei indignada e extremamente sentida com o que pude observar do antigo casarão de j.g. Araújo,há verdadeiramente um descaso em relação a um lugar que poderia se tornar um dos maiores patrimonios do Amazonas.
Mas infelismente continua sem o reconhecimento e reparos que tanto necessita.