Fazedor de história - Zé Dirceu passou o final de semana em Manaus. O enfant terrible do Partido dos Trabalhadores continua exercendo um irresístivel fascínio por onde passa. Era nítido o frisson causado pela sua presença na sala do Conselho Universitário da Universidade do Estado do Amazonas entre o batalhão de repórteres e cinegrafistas presentes. Pena que a acuidade do pensamento de um dos principais articuladores do PT desapareceu das páginas dos jornais, interessados que estavam no conteúdo das conversas do visitante com o governador Eduardo Braga e o prefeito Serafim Corrêa. Sobre elas, Zé Dirceu fez "boquinha de siri".
O momento de maior emoção ocorreu quando uma jovem repórter perguntou se a instauração do processo de cassação do mandato parlamentar tinha como objetivo por um fim à sua aspiração ao maior cargo da república: a presidência do país. Com a fleugma de sempre, e o forte sotaque paulista, Zé Dirceu argumentou que era pensar pequeno quem assim o fizesse; os que articularam e os que apoiaram todo o processo sabiam o que estavam fazendo: atingir o principal símbolo de uma geração que chegara ao poder, de uma geração que enfrentara o regime militar, de uma geração comprometida com o destino da grande maioria do povo brasileiro. Para interromper esse processo, nada melhor do que atingir suas principais lideranças. Zé Dirceu representava essa esperança. Sua desgraça - acusam seus algozes - foi operar no marco de um modelo ultrapassado de legislação eleitoral. Sabem todos que nenhuma candidatura se sustenta sem recurso financeiro. Sabe disso, inclusive, o nosso "Dorian Gray do cerrado", também conhecido como "Tartufo delirante", que já usou e abusou do famigerado "caixa dois" em suas campanhas no Amazonas, conforme matéria da revista Carta Capital . La merd é que o PT não podia fazê-lo. Santa hipocrisia! Pergunte dos especialistas em eleições quanto custa a eleição de um deputado, de um senador etc. Uma nova legislacão se impõe, ora pois! Esse pacto sinistro só foi rompido para conter o avanço do Partido dos Trabalhadores. A manipulação midíatica não perdoa, ma(ltra)ta!
História antiga - Há quase trinta anos atrás, quando Zé Dirceu esteve no Amazonas - salvo engano pela primeira vez -, fui designado para buscá-lo no Hotel Amazonas, onde estava hospedado, para levá-lo até a sede do Sambão (que deu lugar a uma das dezenas das construções da Uninorte, que enferniza o trânsito do centro da cidade), então sede do Partido dos Trabalhadores. Os encontros ali acontecidos foram memoráveis, como a do poeta Tiago de Melo que resolveu defender o lendário Boto Tucuxi - ex-governador e ex-senador Gilberto Mestrinho -, antes mesmo da criatura ter se apropriado do mito em benefício de uma engenhosa engenharia política. Só deu pro dele, como lembra Zefofinho de Ogum, colaborador deste blog.
Ao chegar no hotel com minha motocicleta 400 four, da Honda, Zé ficou encantado. "Cara, que prazer você está me proporcionando! Na ilha (Havana) só andava de motocicleta. É o veículo do trabalhador!" E lá fomos nós para o Sambão onde nos aguardava a militância do PT.
Olhando o que a civilização do automóvel está fazendo com nossas cidades, o Zé tem razão, bem que as motocicletas poderiam ser nossos principais veículos. Sonhar não paga imposto. Mas tire o cavalinho da chuva, nessa briga só entram as mídias alternativas, e olhe lá! O automóvel ainda é o grande desejo de consumo de uma sociedade que caminha para o buraco. Alguém aí é capaz de vislumbrar o cenário dos próximos cinquenta anos, com os automóveis entupindo nossas ruas e avenidas?
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