DESABAFO EM REDONDILHA MAIOR
Anibal Beça
Do abandono todos somos
iguais - respeitando-se as sinas
desde o tal grito primal
que quase não desafina.
Como um coral em uníssono
descobrimos em silêncio
as sombras da solidão
em solitária vivência.
Não que o só seja soldado
da tristeza e do seu fado
talvez um estrategista
com seu rosto mascarado.
Provável resida aí
o “fingidor” de Pessoa
no palco livre da vida
há um ator que se doa.
E daí prossegue o enigma
particular a seu dono
de não saber-se mas sendo
múltiplo em seu abandono.
É preciso que eu confesse
no desabafo sem peias:
não me soube em solidão
mas solitário na teia.
Ó bendito emaranhado
trançado por muitos fios
silêncio com seu barulho
cantoria dos meus rios.
Doce música das águas
lavando o sal da agonia
ainda que me abandonem
eu me adoto em poesia.
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