maio 14, 2008

Moradia assistida (VI)

Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro

Nota do blog: O Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro foi fundado no final do século XIX. Até hoje é o único hospital público do gênero. Não há, em Manaus, hospitais psiquiátricos particulares. A desativação do hospital psiquiátrico faz parte da política estadual de saúde mental, o que só ainda não foi feito pela ausência de uma rede de atenção diária às pessoas em sofrimento psíquico, cuja responsabilidade é municipal desde 2003, quando finalmente foi assinada a municipalização da saúde em Manaus. Esse ato contou com a assinatura do Ministro da Saúde Humberto Costa, Governador do Estado do Amazonas Eduardo Braga e Prefeito Alfredo Nascimento. Até a presente data o Ministério Público não interpelou o poder municipal acerca do atraso na implantação da rede de Centros de Atenção Psicossocial.

Moradia assistida (VI)

Entre as atividades estratégicas trabalhadas no cotidiano pela Terapeuta Ocupacional Márcia Maria Gomes de Souza e equipe para que 46 internos-residentes do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro ocupem as moradias assistidas, temos por fim:

8- Escuta dos internos-residentes – os questionamentos sobre moradias assistidas (ou residências terapêuticas), ocorreram em conversas descontraídas na mesa de refeição e nos bancos dos jardins do hospital psiquiátrico. Grande era a curiosidade sobre esses assuntos: quem vai pagar a conta de luz, água, aluguel da casa, supermercado? Quem vai cozinhar, lavar a roupa, limpar a casa? Terão direito de levar seus pertences: roupas, armários etc.?

9- Mudanças de normas e rotinas para a residência – foram elaboradas fichas com o objetivo de melhorar e facilitar as futuras rotinas: a) Ficha de encaminhamento ambulatorial, b) Ficha de Consulta e Exames, c) Escala de consulta no ambulatório psiquiátrico; d) Ficha para entrega de material nas residências; e) Ficha para rol de roupa para lavanderias, f) Ficha de cronograma de medicação, g) Lista com os itens: compras de supermercado, número de calçados dos residentes, telefones dos técnicos de referência e cuidadores, outros.

10- Mudanças de comportamento – receio quanto ao futuro foi o sentimento manifestado nesse período, o que era esperado de uma população sequelada pelos hábitos empobrecidos do ambiente manicomial. Diante da nova situação, os questionamentos e dúvidas foram acolhidos, abrindo espaço para passagem da insegurança à confiança e cooperação entre os internos-residentes e os membros da equipe.

Márcia Maria produziu competências ali onde havia impasses provocados por uma visão distorcida dos pressupostos da Reforma Psiquiátrica, que gerou confusão e descrédito entre funcionários e internos-residentes. A recuperação destes últimos foi mais rápida do que a dos funcionários antigos.

Na próxima semana, Márcia Maria nos dá um depoimento amoroso e solidário do trabalho da sua equipe.

Manaus, Maio de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota: Artigo publicado no Caderno Raio-X, do jornal Amazonas em Tempo, onde escrevo às quartas-feiras. Brevemente, será publicado no Portal Amazônia, onde tenho uma coluna.

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