novembro 12, 2009

Ambiente manicomial

Oswaldo di Loreto e compas da Comunidade Terapêutica Enfance
Foto: Rogelio Casado - Diadema-São Paulo, 1979


Da esq. para a dir.: Oswaldo di Loreto, Tânia, Lelé, Michael Schwartzchild, ..., Joinho, Baixinha, Oséas Duarte, ..., Marisa, ..., Fernando Casadei.
Nota do blog: Dedico essa postagem à memória do inesquecível Oswaldo di Loreto. Basaglia, em visita à Comunidade Terapêutica Enfance, em 1978, perguntou-lhe, no meio da sala de reuniões, qual o propósito da formação ali vigente. Homem de espírito amável, di Loreto respondeu candidamente: "Deixar as pessoas menos sedutoras". Ao que Basaglia respondeu: "Mas como... tu és um homem sedutor!". È vero. Di, como era conhecido, "seduziu" dezenas de profissionais de saúde a embarcar no sonho de construção da sua comunidade terapêutica. Em verdade, um sonho coletivo, cujo modelo Basaglia fazia restrições, na medida em que o poder contratual dos loucos continuava contido por uma sociedade que discrimina os comportamentos desviantes da norma. Atualmente, a antiga comunidade terapêutica cedeu lugar a um centro de atenção psicossocial, não mais em Diadema, mas em Sorocaba. CAPS para infância; infância - registre-se -, especialidade do grande di Loreto. Na fotografia acima, estávamos em Sorocaba procurando uma área para mudança de endereço.

Ambiente manicomial

Aos poucos tornei-me especialista em meio ambiente. Depois de estagiar no hospício de Manaus, fui estudar, no final dos anos 1990, na Comunidade Terapêutica Enfance, em Diadema-SP, do saudoso Oswaldo di Loreto.

Ali retomei meus estudos sobre o ambiente antimanicomial, após conhecer Franco Basaglia em sua visita ao Brasil, principal articulador das práticas de desinstitucionalização da loucura.

No meu tempo de estudante, aprendi em ciência política que a prática era o critério da verdade. Mas não uma prática qualquer.

Práticas que não reconheçam a existência do conflito, que anulam o reconhecimento da distância entre o discurso que afirma a igualdade e a materialização dos direitos de cidadania negados aos loucos ainda são comuns entre nós.

Essa prática alienada é típica dos que trabalham com a idéia de naturalidade embutida nos acontecimentos, verdadeiros inimigos das ideologias transformadoras, sempre dispostos a contemporizar com a ideologia da prática possível, mesmo que isso sacrifique toda a história de luta de familiares, usuários e trabalhadores de saúde.

Ora, não há nada natural nessa história quando se olha criticamente a luta contra a instituição totalitária e a implantação de serviços substitutivos ao manicômio.

Ao negar a história da luta antimanicomial, os que se esforçam em adornar manicômios para romper com a monotonia das suas práticas douram pílulas e passam ao largo da história da construção de novos espaços coletivos de cuidados em saúde mental. Suas práticas nada lembram as características propiciadoras da diversidade de vínculos e experiências que fazem do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) um local de vida, diferente do que o manicômio evoca no imaginário popular.

Manaus não é o melhor exemplo para demonstrarmos a distância que separa o modelo manicomial do psicossocial. Ainda assim, as diferenças saltam aos olhos. Entre o CAPS e o hospício (ainda que ele não lembre os horrores do passado recente), num é possível ver a alegria e a criatividade na base do tratamento. Noutro a tristeza, a feiúra e o mau atendimento fazem parte do cotidiano da instituição, como se estivesse a nos lembrar que há algo de errado com esse tipo de ambiente.

Só se contribui com a cultura, deixando um belo legado para as futuras gerações, se formos capazes de promover uma radical inserção no mundo do portador de sofrimento psíquico. Não temos necessidade de adaptação submissa a uma realidade criada pela psiquiatria conservadora. A menos que a intenção, como dizem os jovens, seja “ficar bem na foto”.

Manaus, Novembro de 2009.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no caderno Bem Estar & Saúde do jornal Amazonas em Tempo.
Posted by Picasa

5 comentários:

fernanda penkala disse...

Eitcha companheiro! Muito bom...è vero, è vero...proprio cosi!
Ah! que tanto ainda há a radicalizar, a transformar nesse mundo manicomial....
abçs distantes,
fernanda penkala

Anônimo disse...

Nesse ano eu era paciente na CTE, e deixo meu testemunho da importancia que esse lugar teve na minha vida, saudades de todos, Lele, baixinha, faltou citar o nome da Wanda que esta do lado da baixinha, tania, joaozinho, Waldir, Jose, Ivana, enfim pessoas que ficarão no meu coração para sempre obrigado a todos estejão onde estiver quem sabe um dia possa reve-los e vocês terão a oportunidade de ver resultado de um bom trabalho feito com amor e carinho.

Anônimo disse...

Nesse ano eu era paciente na CTE, e deixo meu testemunho da importancia que esse lugar teve na minha vida, saudades de todos, Lele, baixinha, faltou citar o nome da Wanda que esta do lado da baixinha, tania, joaozinho, Waldir, Jose, Ivana, enfim pessoas que ficarão no meu coração para sempre obrigado a todos estejão onde estiver quem sabe um dia possa reve-los e vocês terão a oportunidade de ver resultado de um bom trabalho feito com amor e carinho.

Edu Faim disse...

Olá, meu nome é Eduardo G F, fui interno da comunidade no começo de 1981. No meu tempo de interno tinhamos a Vera, Tânia, Tili, Teresa, um coordenador que chamávamos de Véio e outras pessoas que não me lembro os nomes. Quero agradecer a todos pelo tempo impar que passei ao lado de voces. Se vc foi interno da CTE no ano de 1981 entre os meses de janeiro e março e se lembra de mim, deixarei meu e-mail pra contato... daddo_gomes@hotmail.com (edu da toca)... Abraços

Silvia Bonassi disse...

Que maravilha! Um espaço para publicar junto aos adoráveis feitos do Di, grande pensador "psi".
Silvia Bonassi Psicologa/professora UFMS - cria do GEP/Londrina PR.Saudade do DI!!!