abril 07, 2011

Deputado petista afronta decisão tomada pelo Conselho Consultivo do Iphan. Era só o que faltava!

PICICA: Infinita é a paciência do Partido dos Trabalhadores no Amazonas. Parlamentares que construiram seus mandatos sobre as mais legítimas aspirações e demandas populares voltam as costas para elas, abraçam o ideário de um desenvolvimento fajuto à custa de falsas noções de sustentabilidade e ferem de morte os princípios que nortearam suas lutas passadas. É o caso do deputado Sinésio Campos, que não aprendeu a lição das urnas depois de perder 15 mil votos na eleição passada por excessiva conduta "governista", segundo avaliação do seu proprio partido. Esperava-se que outros partidos tomassem a iniciativa descabida de pedir a redução da área de tombamento do Encontro das Águas, mas não um parlamentar do PT. De uma só vez o deputado Sinésio Campos resolveu afrontar o parecer de respeitados membros da comunidade científica, a sociedade civil organizada e os interesses comunitários por um desenvolvimento que não nos traga mais impactos socioambientais do que os produzidos por empreendimentos que desrespeitaram e desmoralizaram nossos órgãos de fiscalização ambiental. Do fundo do meu coração petista, desejo ao ex-companheiro que as urnas lhe façam justiça. Volte para as salas de aula, Sinésio. Quem sabe a dialética relação professor-aluno lhe permita resgatar os valores perdidos. Em tempo: acompanhe a leitura crítica deste picicanalista sobre as declarações do parlamentar quanto à audiência com a Ministra da Cultura, que acontece neste momento em que escrevo.

Deputado Sinésio Campos propõe, no MinC, redução de área tombada do Encontro das Águas

A proposta será apresenta nesta quinta-feira (07), pelo deputado Sinésio Campos, em audiência com a ministra Ana de Hollanda

Manaus, 07 de Abril de 2011

Elaíze Farias

Encontro das Àguas, que foi tombado ano passado, pode ter sua área preservada reduzida
Encontro das Àguas, que foi tombado ano passado, pode ter sua área preservada reduzida (Clóvis Miranda)
 
Sob a justificativa de que se trata de uma proposta construída dentro do governo estadual e instituições da Zona Franca de Manaus, o deputado estadual Sinésio Campos (PT) vai propor a redução de 2% da área tombada do Encontro das Águas.

A proposta será apresentada na tarde desta quinta-feira (07) em audiência com a ministra da cultura Ana de Hollanda, em Brasília.

Em entrevista ao acritica.com nesta tarde, o deputado Sinésio Campos afirmou que espera que o pedido seja acatado antes da homologação do tombamento definitivo. A área foi tombada em definitivo em novembro de 2010. (Sinésio, meu caro, é muita pretensão acreditar que uma autoridade do porte de uma Ministra tome uma decisão intempestiva, sem ouvir a área técnica da sua pasta).

Segundo ele, a redução de 2% de uma área tombada de aproximadamente 30 quilômetros quadrados é necessária porque no local já existem ações antrópicas (humanas). (Ações que parlamentares da sua estatura permitiram que acontecessem, sem que esboçassem qualquer resistência contra a agressão ao ambiente e à sociedade ali residente. Aliás, naquelas proximidades morreu um jovem de 16 anos, lá pelos anos 1990, depois de manipular um artefato militar, e que recebeu sua visita no local, quando seus ideais ainda não haviam sido tomados por uma certa embriaguez de poder. Lembra do caso? Este acontecimento trágico é um desdobramento da invasão pelo Exército das áreas de cultivo e pesca da comunidade tradicional do Jatuarana. Não consta que sua solidariedade tenha sido continua. Tampouco houve qualquer pronunciamento sobre o caso nos últimos anos. As comunidades tradicionais do lugar resistem, sem o seu apoio. Lembro-lhe aqui que o PT nasceu em defesa dos oprimidos).

“Há vários empreendimentos no local, como o porto Cemex, o porto Encontro das Águas, o Porto Bertolini, o tomada d´água do Proama. E tem a proposta de construir o Porto das Lajes”, disse o deputado. (É vergonhoso, meu caro Sinésio, que voce queira passar por cima do desejo das comunidades, depois de provado e comprovado o impacto socioambiental que provocaria a construção de mais um terminal portuário. Pior! Construção pretendida no coração das pedras das Lajes onde desovam os jaraquis, prato das famílias mais pobres. Os demais empreendimentos poderiam ser desmontados e a área reflorestada. Assim como o lago do Aleixo pode ser recuperado, se houver legislação que puna com rigor empresas como a SOVEL, que despeja resíduos tóxicos no lago, comprometendo a cadeia alimentar).

Segundo Sinésio, a proposta é “eminentemente técnica” e foi construída em discussão dentro da esfera governamental. (Não iluda, meu caro Sinésio, a opinião pública leiga. Não nada técnico na discussão aludida. Há, sim, forte pressão do capital predatório, que consegue, inclusive, fazer de alguns parlamentares instrumento de seus interesses).

Ele disse que a proposta tem respaldo de órgãos governamentais como a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam),  além de entidades como Federação da Indústria do Estado do Amazonas (Fieam) e Superintendência da Zona Franca Manaus (Suframa). (Não chega a surpreender. Deixo-lhe como tarefa de casa pesquisar as entidades que apoiaram uma outra aberração pela qual pagamos um alto preço: a usina hidrelétrica de Balbina. Lula, nosso presidente, afirmou num discurso em Manaus - discurso esquecido por você -, que esse foi um dos maiores erros da política energética no Amazonas. Ela mal gera 200 megawatts firmes para a cidade de Manaus. No entanto, tais entidades afirmavam que era nossa obra do século. Quanta coisa cabe no pântano enganoso das bocas!).

De acordo com o deputado federal, a redução do perímetro tombado pode ser viável porque se trata de uma área “já desmatada”, referindo-se à margem do rio onde já existem empreendimentos, a maioria deles compostos por portos de carga. (Ajude a reflorestá-la, Sinésio. Devolva a qualidade de vida que está ameaçada para sempre, se não formos capazes de construir projetos socioeconômicos que respeitam nossa vocação).

A assessoria de comunicação do Ministério da Cultura confirmou a realização desta reunião, que contará ainda com o assessor da ministra, José Ivo Vannuchi, e o diretor de patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Dalmo Vieira Filho. (Desejo que nesta altura do campeonato, eles tenham lhe comido o fígado, por uma ousadia que nada agrega à sua outrora história de luta. Se eles não o fizeram, certamente foi por educação. Deixe então que faremos nós, ao melhor estilo dos nossos antepassados antropófagos).

Homologação

Para o antropólogo Ademir Ramos, integrante do movimento S.O.S Encontro das Águas, a proposta da redução, além de contrariar o interesse público, “fere de morte a integridade da área” e mostra ser uma afronta à decisão do Conselho Consultivo do Iphan.

“A ministra da Cultura deverá ouvir o Deputado Sinésio e quando muito encaminhar a propositura do líder do governo do Amazonas para ser apreciada pela direção do Iphan, que de acordo com o seu regimento deverá referendar o que o Conselho decidiu, como já fez, manifestando de imediato a homologação do tombamento para que tanto o Estado quanto à sociedade possam propor algum enpreendimento para a região”, disse.

Para Ademir, a proposta de redução também denuncia o não compromisso com a responsabilidade ambiental, já que, destaca ele, o ato do Tombamento não inviabiliza ação dos empreendedores, desde que respeite as regras instituídas em beneficio dos comunitários e em favor da preservação dos recursos ambientais. 
        
“O deputado poderia separar o 'joio do trigo', primando pelo interesse público, que é a proteção do nosso Encontro das Águas, seguido de formulação de projetos que atendessem a demanda local em atenção à vocação do complexo do Encontro das Águas centrada no turismo, no entretenimento e na pesquisa científica.

Fonte: A Crítica

Um comentário:

Reciclando Hábitos, Mudando Atitudes disse...

Excelentes consideracoes caro Rogelio, chego a conclusao de que se o corcovado e o pao de acucar fossem em Manaus nossos governantes ja os teriam tranformado em pedra brita e alegariam que os mesmos atrapalhavam a paisagem!

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