abril 30, 2011

Entre Delúbio Soares e Henry Sobel, quem você reabilitaria na cena político-social brasileira?

PICICA: Companheiros(as) do PT. Ao invés de reabilitar a figura  de Delúbio Soares, não seria melhor trabalhar pela reabilitação do rabino Sobel, um dos homens mais corajosos que muito contribuiu na redemocratização da república brasileira? Sei não! Alguma coisa me diz que a direção nacional tá pisando na jaca; se não estiver pisando em ovos.
De: | Criado em: 06/06/2008
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Entrevista com o rabino Henry sobel, falando sobre o seu livro Um Homem, Um Rabino. Na obra, Sobel expõe todas as suas faces: a do representante da cultura e da religião judaica,do incansável defensor dos direitos de pessoas de todos os credos e origens, e do homem acuado e perplexo em busca de respostas. Um livro para ser lido por pessoas de todas as religiões.

Mais uma manifestação de rua contra as alagações em Manaus

PICICA: Administradores públicos rezam pelo fim do regime das chuvas. Mais um dilúvio como o de ontem e as mazelas acumuladas em Manaus por mais de trinta anos transbordarão por todos os cantos. Depois da manifestação dos moradores da Av. Tefé, próximo do bairro do Japiim, agora são os moradores das ruas Magalhães Barata e São Vicente, no bairro do Crespo, que protestam contra os alagações provocadas pela incúria administrativa. Quando esse povo começar a fazer contas e descobrir que o custo da ponte de um bilhão de reais daria pra resolver um "monte" de problemas urbanos, crescerá o sentimento de revolta e indignação popular. E, de nada adiantará culpar os paraenses, pois tais problemas antecedem o exôdo daquele povo. Ademais, eles nunca foram problema. O problema é a competência dos administradores públicos e privados. Os primeiros tem responsabilidades inegáveis sobre os transtornos vividos pelo cidadão comum. Os segundos, ao se valer da promiscuidade com os primeiros, agem impunemente. Como exemplo: uma empresa jornalística, amparada na conivência do poder público, resolveu fazer um muro nos fundos da sua propriedade alagando os imóveis situados acima dessa construção irregular. Na próxima chuva, o PICICA trará imagens do lugar e o nome da empresa.

Moradores do Crespo interditam ruas após alagamentos, em Manaus


Ao atear fogo em móveis e espalhar eletrodomésticos em vias públicas, aproximadamente cem manifestantes interditaram as ruas Magalhães Barata e São Vicente no Crespo, Zona Sul de Manaus, no início da noite desta sexta-feira (29).

A Polícia Militar esteve no local para evitar maiores transtornos. As vias já foram liberadas.

A ‘barricada’ foi um protesto por conta das alagações causadas pela chuva intensa que castigou a cidade durante todo o dia de hoje, atingindo várias residências e gerando prejuízos aos moradores da área.

Segundo morador do bairro Gilsomar Cordeiro, o problema é antigo, ocorre há 30 anos. “Toda vez que chove isso acontece, já pedimos providência das autoridades, mas, até agora, nada foi feito”, desabafou.

Ainda segundo os moradores, as alagações são ainda piores quando o ‘Igarapé do Grilo’ transborda. Eles disseram que, caso a Prefeitura de Manaus não tome providências, vão quebrar as ruas para que a água possa escoar.


Fonte: Amazonas em Tempo

Perderam o senso do ridículo

PICICA: O aniversário do Secretário Municipal de Educação e o anúncio de um aumento pífio no salário dos professores foram comemorados, ontem à noite, no melhor estilo provinciano. Com a suspensão das aulas desde as 15h00, professores mal remunerados foram convidados a acompanhar diretores de escola que, sabidamente, não tem legitimidade junto à comunidade escolar. O aumento é insignificante e a festa é fruto do que os manauaras chamam de um fenômeno social conhecido como leseira "baré", conceito muito caro a um renomado escritor amazonense. Ao que parece uma tendência em alta com a proximidade das eleições municipais. Vixe!

Professores são liberados para participar de aniversário do secretário de educação

A estimativa é que mais de 400 alunos da rede de ensino do município deixaram de ter aulas no turno da noite por conta da festa de aniversário

Manaus , 29 de Abril de 2011

Audrey Bezerra

A festa de aniversário do secretário foi realizado no clube Cassam
A festa de aniversário do secretário foi realizado no clube Cassam (Marcelo Cadilhe )
 
Professores da rede pública municipal foram liberados nesta sexta-feira (29) do trabalho para participar da festa de aniversário do secretário municipal de Educação (Semed), Mauro Lippi. A informação foi dada pelos próprios professores.

O evento, que começou deste às 16h, foi realizado no Clube Cassam, bairro São Lazaro, zona Sul da cidade.  A reportagem foi até o local e entrevistou quatro professores que não quiseram se identificar, mas confirmaram a informação.

Uma das professoras disse que no horário da manhã houve aula normal. No turno da tarde, segundo a professora, a aula foi até as 16h e o turno da noite, todos os professores foram liberados.

O secretário municipal Mauro Lippi ao ser entrevistado disse que não sabia informar sobre a liberação dos professores. “Eu não sei disso. Que eu saiba não”, afirmou. Questionado sobre o custo da festa, Lippi se negou a falar com a reportagem e repassou para a assessoria de imprensa dar esclarecimentos sobre a denúncia.

De acordo com assessoria, a Semed não liberou os professores para participar da festa. A secretaria, segundo assessoria, apenas enviou o convite aos professores e diretores das escolas. A assessoria informou ainda que a festa foi realizada com recursos dos próprios diretores das escolas e que a Semed não desembolsou nenhuma verba.

No evento, bebidas e salgados foram distribuídos aos professores. Um dos professores disse que Mauro Lippi anunciou o reajuste de 8% no salário da categoria e o pagamento, para este mês, da carga dobrada que está em atraso há quatro meses.   

Uma terceira professora entrevista informou que cada diretor desembolsou R$ 45 para realização do evento. No total, a rede pública possui 480 escolas.

A assessoria de imprensa da Semed não soube informar quantas escolas funcionam no turno da noite e nem a quantidade de alunos que deixaram de participar das aulas.

Fonte: A Crítica

"Revolución"

PICICA: "Revolución", de Martin Rosete, basado en un relato de Slawomir Mrozek.
De: | Criado em: 19/02/2009
Dir: Martin Rosete / España / 2002
Basado en un relato de Slawomir Mrozek.

Oficinas - VI Prêmio Arthur Bispo do Rosário

Caso não esteja visualizando este e-mail, clique aqui!
 
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  São Paulo, 29 de abril de 2011
  Oficinas
VI Prêmio Arthur Bispo do Rosário 2011

 
A Sede e as Subsedes do CRP SP estão programando uma série de oficinas artísticas com temáticas ligadas às categorias do VI Prêmio Arthur Bispo do Rosário.
Essas oficinas, que são gratuitas e ministradas por profissionais das diversas áreas, têm por objetivo estimular o lado artístico das pessoas, candidatas ou não ao prêmio.

Relacionamos a seguir as oficinas que serão realizadas em São Paulo, nos Centros de Convivência e Cooperativa da Secretaria Municipal de Saúde – Cecco e na Sede do Conselho. Em relação àquelas que serão no Interior, informe-se na Subsede do CRP de sua região.
 
 
SÃO PAULO

Oficina: Pinturas e Ilustrações
Data: 10/05/11 - quarta-feira
Horário: 14h às 16h
Cecco Santo Amaro Endereço: Avenida Padre José Maria, 555, Santo Amaro, ao lado do Terminal Santo Amaro
Coordenação: Beto Guilger
 
Oficina: Fotografias
Data: 11/05/11- quarta-feira
Horário: 14h às 16h
Cecco Parque Raul Seixas Endereço: Rua Murmúrios da tarde, 211, Itaquera (esquina com a Av. Sábado D´angelo).
Coordenação: Salomon Cytrynowsky

Oficina: Poesias
Data: 11/05/11 - quarta-feira
Horário: 14h às 16h
Cecco Eduardo Leite Bacuri Endereço: Av. Sumaré, 67, Perdizes, esquina com a Rua Turiassú
Coordenação: Dr. Filipe Doutel
 
  
Oficina: Esculturas e Instalações
Data: 13/05/11- sexta-feira
Horário: 10h às 12h
Cecco Mooca.
Endereço: Rua Taquari, 549, Mooca (dentro da Subprefeitura da Mooca)
Coordenação: Salete Mulin

Oficina: Vídeo
Data: 24/05/11- terça-feira
Horário: 15h às 17h
Auditório CRP SP Endereço: Rua Arruda Alvim, 89, Jd. América, (próx. à Estação Clínicas do Metrô)
Coordenação: Cristian Uribe
Inscrições:
No local, no mesmo dia de cada oficina
Informações:
Depto. de Eventos do CRP SP
Tel.: (11)3061-9494 ramais 111, 130, 137 e 317.
Sobre o VI Prêmio Arthur Bispo do Rosário:
www.crpsp.org.br/premio

Mônica Salmaso - Alma Lírica

"Bom dia, Princesa"

PICICA: "Hoje só se falou do casamento do Príncipe William e Kate Middleton: o casamento real. Porém, no mundo real, não o real deles (cheio de luxo, realeza e de dinheiro público), na nossa realidade, nem todos os casamentos têm um desfecho feliz. O tédio e o desencantamento podem surgir com o tempo. Alguns relacionamentos descambam para a falta de respeito e interesse, outros tantos para a violência." Em tempo: Aproveite para ver dois vídeos sobre o sufoco de vida dos súditos pobres de Sua Majestade - "High energy prices fuel UK poverty"; "Poverty hits British families". / Este post é dedicado à minha querida amiga Rita Chaves, cinéfila dos bons tempos em que Dona Yayá nos recebecia no Cine Avenida, época em que a cidade ainda não havia perdido a delicadeza.

Bom dia, Princesa

VIOLÊNCIA. Nem toda princesa é feliz / foto Pedro Vikingo
Hoje só se falou do casamento do Príncipe William e Kate Middleton: o casamento real. Porém, no mundo real, não o real deles (cheio de luxo, realeza e de dinheiro público), na nossa realidade, nem todos os casamentos têm um desfecho feliz. O tédio e o desencantamento podem surgir com o tempo. Alguns relacionamentos descambam para a falta de respeito e interesse, outros tantos para a violência.

É disso que trata o curta-metragem espanhol Buenos días Princesa, sobre a opressiva rotina de uma mulher que percebe que seu casamento está falido. Aborrecida e cheio de desgosto por seu companheiro, ela se dá conta de como ainda é jovem e bonita, essa percepção parece incomodar seu violento marido. O interessante deste curta, realizado pelo fotógrafo Pedro Vikingo, é que ele foi montado através de fotos em sequência, o incrível é que essa narrativa realça ainda mais o sofrimento da personagem. O som é perfeito e ajuda a compor a crueza do filme. Este tema é universal, infelizmente a violência doméstica é parte do cotidiano de muitas mulheres, nossa Lei Maria da Penha poderia servir de exemplo pra outros países. Um dado pertinente pra quem gosta de fotografia, Vikingo fotografou com uma Nikon FM2, que é uma câmera profissional que utiliza filmes de 35 mm.

Buenos días Princesa


Sinopse
Uma mulher jovem e bonita, além de ter uma vida triste e tediosa, vez em quando ainda recebe o peso da mão de seu companheiro, decide fazer justiça com as próprias mãos.

Gênero Ficção
Diretor Pedro Vikingo
Elenco Clara Bilbao, Sergi Pons
Ano 2010
Duração 3'30''
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Espanha


    SUGESTÕES

  • Pra ver outro curta sobre o tema violência doméstica, assista Por quê?

http://outrocine.blogspot.com/2008/04/violncia-contra-mulher-tema-de-animao.html

  • Se você gostou de Buenos días Princesa, talvez você goste de Vinil Verde, curta brasileiro que utiliza técnica similar de sequência de fotos.

http://outrocine.blogspot.com/2008/01/nunca-oua-o-disco-verde.html

Fonte: Outro Cine

[Boletim Diplo] Outras Palavras - Boletim 56 - 29/4/2011 - Luiza Erundina: "desprivatizar as metrópoles brasileiras"

PICICA: "Ex-prefeita paulistana relembra luta pela tarifa zero nos ônibus, condena apartheid urbano e sustenta: a sociedade está fortalecida; outro projeto de cidade já é possível".
bibliotecadiplô e OUTRASPALAVRAS
Boletim de atualização de Outras Palavras e Biblioteca Diplô - Nº 56 - 29/4/2011


Luiza Erundina: "desprivatizar as metrópoles brasileiras"
Ex-prefeita paulistana relembra luta pela tarifa zero nos ônibus, condena apartheid urbano e sustenta: a sociedade está fortalecida; outro projeto de cidade já é possível

José Luís Fiori escreve: caráter verdadeiro da intervenção na Líbia já aparece, assim como a contradição de guerrear pelos "direitos humanos"...

O Equador (muito além) de Rafael Correa

Livro de Tadeu Breda desfaz mitos sobre governo, destaca movimento indígena e ajuda a decifrar processo de transformação no país e América Latina. Lançamento em 5 de maio, em São Paulo
Ao encerrar sua carreira nos campos, craque que encantou torcidas vestiu figurino pesado do futebol-mercadoria: mega-lucros para poucos e jogo medíocre. Por Irlan Simões

O Ministério da Saúde francês decidiu financiar curtas-metragens para lutar contra a homofobia e o suicídio entre os jovens. Mas como criar imagens capazes de um tal feito? Por Bruno Carmelo

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OUTRAS MÍDIAS
Uma seleção de textos publicados na blogosfera brasileira


Por que estratégia econômica de Dilma está ameaçada
Mudanças no cenário internacional frustraram plano de combate gradual aos estragos provocados pela taxa de juros. Governo precisa definir novo caminho, mas hesita em fazê-lo. Por Luís Nassif, em seu blog

Reforma agrária: hora de novos caminhos?
Estudioso do MST nega crise do movimento, mas julga necessário repensar a forma de luta, baseada no acampamento. Ele acrescenta: é hora de debater modelo agrícola, que inviabiliza pequena produção e devasta natureza. No IHU online

O (livre) comércio das armas de destruição em massa
Revólveres, pistolas e rifles produzem, só no Brasil, equivalente a oito tragédias de Realengo por dia. Mas tentativas de proibir ou regular sua produção esbarram em poderoso lobby internacional. Por João Carlos Charleaux, no Opera Mundi

Europa fecha o cerco contra os imigrantesAlemanha junta-se à França e Itália para que Velho Continente proíba livre tráfego de não-europeus entre suas fronteiras terrestres. Em Esquerda.net

O menino de Guantánamo
Escritora inglesa cria, baseada em fatos reais, romance que denuncia indústria de delações montada pelos EUA para alimentar prisão infame. Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Quarta literária com Thiago de Mello na Valer

PICICA: “Faz escuro, mas eu canto / Porque a manhã vai chegar”.


A Livraria Valer tem a satisfação de convidá-lo(a) para a Quarta Literária que acontecerá dia 04 de maio, no Espaço Cultural da Livraria Valer, situado na Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro. O evento tem início às 16h, com a exibição do filme O carteiro e o poeta. Em seguida, às 18h30, terá início a palestra sobre a obra Canto Geral, de Pablo Neruda, ministrada pelo poeta Thiago de Mello.

A Quarta Literária é um encontro mensal entre escritores, professores, estudantes e leitores, em que são discutidos temas ligados à literatura, às artes e a cultura em geral, firmando-se como um espaço para geração de novos conhecimentos e diálogo intelectual. Após as discussões há sorteio de livros e é servido o Chá Poético. Os encontros acontecem sempre na primeira quarta-feira de cada mês no Espaço Cultural Valer (altos da Livraria Valer) situado na Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro. A entrada é franca.
Promovida há doze anos pela Livraria e Editora Valer, a Quarta Literária de 2011 é especialmente dedicada aos clássicos da literatura com o ciclo de palestras intitulado Série Clássicos: Obras que mudaram o mundo. O ciclo é composto de dez palestras ministradas ao longo do ano sobre obras como Divina Comédia, de Dante, Dom Quixote, de Cervantes, Os Lusíadas, de Camões, Hamlet, de Shakespeare, entre outros. Neste ano, além das exposições e das palestras, serão apresentados documentários e filmes que abordam o tema do mês.
O encontro de maio acontecerá no dia 04, às 16h30, com a abertura da exposição “Amazônia” e exibição do filme O carteiro e o poeta. Em seguida, às 18h30, terá início a palestra sobre a obra Canto Geral, de Pablo Neruda ministrada pelo poeta Thiago de Mello. Haverá ainda a apresentação de Dois duetos de Mozart, com Enâ Wilson Reis Nogueira e Heloísa Judite Izel Costa, do Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas (Caua), alunos de Margarita Mihaylova Crthereva e Benício Helber Pinheiro de Barros, músicos da Orquestra Filarmônica do Amazonas.

Sobre a obra Canto Geral e seu autor Pablo Neruda

Canto Geral é uma obra atípica e representa uma reviravolta na poética de Neruda. O livro foi escrito em circunstâncias adversas, quando Neruda, sofria forte perseguição pela polícia do presidente chileno González Videla, sendo obrigado a transpor a Cordilheira dos Andes e refugiar-se no exterior. Lançado em 1950, o livro teve duas primeiras edições quase idênticas - uma oficial, e pública, no México; e outra, clandestina, no Chile. Obra de caráter enciclopédico, Canto Geral reúne os mais variados temas, gêneros e técnicas, dividindo-se em 15 seções e 231 poemas. O livro nasceu marcado pelo sofrimento, tendo o poeta testemunhado, por intermédio dele, o seu grande amor pelo Chile pelos povos oprimidos da América Latina.
Pablo Neruda nasceu em 1904, no Chile. Considerado um dos mais importantes poetas do século XX, estreou na literatura com apenas vinte anos, com a obra Crepusculário (1923). Por muito tempo, conciliou a vida literária com a diplomática: foi cônsul do Chile na Espanha e no México e embaixador chileno na França. Em 1971, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e o Prêmio Lênin da Paz. Morreu em 1973. Em sua vasta obra destacam-se Residência na Terra (1933), España en el corazón (1937), Canto GeralCem sonetos de amor (1959), Memorial de Isla Negra (1964), A espada incendiada (1970) e Confesso que vivi (1974). (1950),

Sobre o palestrante

Amadeu Thiago de Mello nasceu na cidade de Barreirinha, no Amazonas, em 30 de março de 1926. Refugiado no Chile foi quase fuzilado, mas sobreviveu à base de poesia. E dela vive até hoje, aos 85 anos. Thiago de Mello é tradutor de Pablo Neruda, T.S. Eliot, Ernesto Cardenal, entre outros. Pablo Neruda lhe disse certa vez: “Não facilita o trabalho do inimigo”. Essa indignação moral se deu quando Thiago viu a ditadura militar (1964-1985) depois de já ter vivido a ditatura de Vargas (1934-1945), no Estado Novo. Ficou espantado em ver o Brasil com outra. Foi quando escreveu o poema Os Estatutos do Homem, em resposta ao primeiro ato institucional do governo militar. Esse poema foi traduzido em mais de 30 línguas e continua mais vivo do que quando o escreveu. Em 1965, um verso seu foi usado numa passeata depois da morte de um estudante no Rio de Janeiro. O verso era o seguinte: " Anos mais tarde Thiago foi jogado numa cela do Quartel da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Estava abatido. Era uma solitária: um quartinho apertado e muito alto. Quando a manhã foi surgindo, viu riscos nas paredes e depois viu palavras e lá estava escrito. “Faz escuro, mas eu canto / Porque a manhã vai chegar”. Alguém havia estado naquele lugar antes e usou os versos de Thiago para ganhar força e Thiago ganhou forças com ele também.



Evento: Quarta Literária (exibição de filme, palestra e abertura de exposição)
Palestra: Canto Geral, de Pablo Neruda
Palestrante: Thiago de Mello
Abertura da exposição: Amazônia
Promoção: Livraria Valer
Data: 04 de maio de 2011
Horário: A partir das 16h30
Local: Espaço Cultural Valer – Av. Ramos Ferreira, 1195 – Centro
Contatos: Valer – (92) 3635-1324
Entrada: Franca

abril 29, 2011

"Os 10 anos da reforma psiquiátrica no Brasil", por Bruno de Pierro

PICICA: "Apesar de discutida há mais de duas décadas no Brasil, a reforma psiquiátrica completa, neste mês, apenas 10 anos. Formalizada em 2001, a lei nº 10.216 estabeleceu as diretrizes da saúde mental no país, moldurando uma nova estratégia, fundada na humanização do tratamento e na formação de uma rede, cujo núcleo deixou de ser o hospital." Em tempo: A instituição da Lei de Saúde Mental não define, do ponto vista metodológico, o início da reforma psiquiátrica brasileira. Ao estabelecermos a periodização da reforma psiquiátrica,  a Lei deve ser entendida como parte de um processo que se inicia muito antes da sua sanção. Em 1989, por exemplo, lá estava Roberto Tykanori, atual Coordenador Nacional de Saúde Mental, na equipe que desativou um manicômio em Santos e criou a primeira rede de serviços substitutivos ao modelo manicomial então vigente, e que se disseminou por todo o país. A partir de 1993, seria a vez de Belo Horizonte, iniciar o processo de implantação da sua rede. Ali se constituiu uma das mais importantes iniciativas na luta por uma sociedade sem manicômios. Descontado este pequeno deslize no texto jornalístico, a matéria é de interesse para que o leitor compreenda porque a militância antimanicomial defende uma reforma psiquiátrica antimanicomial. Para isso são necessários recursos financeiros e pessoal qualificado, de modo que o funcionamento pleno da nova rede de atenção diária à saúde mental possa criar novas possibilidades no cotidiano dos usuários dos serviços. É preciso, definitivamente, deixar para trás o deserto ético dos manicômios em prol de novas formas de sociabilidade.
Roberto Tykanori - Foto: Rogelio Casado - Belo Horizonte-MG, Julho/2006

Os 10 anos da reforma psiquiátrica no Brasil


Por Bruno de Pierro, para o Brasilianas.org

Apesar de discutida há mais de duas décadas no Brasil, a reforma psiquiátrica completa, neste mês, apenas 10 anos. Formalizada em 2001, a lei nº 10.216 estabeleceu as diretrizes da saúde mental no país, moldurando uma nova estratégia, fundada na humanização do tratamento e na formação de uma rede, cujo núcleo deixou de ser o hospital.


Defensor desse modelo, o governo federal criou, em 2003, o programa De Volta Para Casa, que hoje atende mais de 3,7 mil brasileiros em 614 municípios, sendo 19 habilitados pelo Ministério da Saúde. Baseado na lógica da descentralização, o programa concede um auxílio de R$ 320 aos pacientes que receberam alta da internação psiquiátrica. Segundo informações do ministério, em 2010, foram investidos R$ 13,8 milhões no De Volta. Para a atenção especializada, foram consolidados os Centros de Atenção Psicossocial (os CAPS), que atualmente são 1.620 – número quatro vezes maior que em 2002, quando se registravam 424 centros.


O modelo, entretanto, é ainda questionado por muitos profissionais da área de saúde, que não concordam com o processo de “des-hospitalização”, que estaria sendo provocado pela desistitucionalização – bandeira da reforma.


Em entrevista ao Brasilianas.org, o novo coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori explica porque o modelo atual é o melhor e qual os problemas que ainda devem ser enfrentados. “A questão de des-hospitalizar, dentro da reforma, é uma etapa para você atingir os objetivos mais importantes”, afirma.


Confira abaixo os principais momentos da entrevista.


Brasilianas.org – A desistitucionalização, promovida pela reforma psiquiátrica no país, diminuiu o número de leitos da saúde mental, tirando o hospital do centro do tratamento de pacientes. Mas esse processo não tem caminhado para uma “des-hospitalização”?


Roberto Tykanori – São duas coisas diferentes. Des-hospitalizar é realmente um processo que ocorre de retirar as pessoas dos hospitais. Essa idéia tem vários aspectos, sendo que o principal é mudar o eixo do atendimento e o eixo do investimento. Isso tem a ver com a mudança de modelo, porque significa sair do raciocínio centrado no hospital, e construir outro tipo de modelo. Existe uma dimensão, dentro da palavra “des-hospitalizar”, que é a seguinte: descentralizar o recurso que concentrado no sistema hospitalar. Ou seja, tem o aspecto de des-hospitalizar o dinheiro.


Do ponto de vista do desenvolvimento da política, é crucial você conseguir transferir recursos de um sistema, que já está aplicado e concentrado num sistema hospitalar, para outro sistema, que tem outro modo de raciocinar. A questão de des-hospitalizar, dentro da reforma, é uma etapa para você atingir os objetivos mais importantes. Estamos saindo de um modelo que era concentrado, tanto de recursos, como de pessoas. Havia uma distribuição de recursos para poucos lugares, e as pessoas que tem acesso a esses lugares ficam super-concentradas num mesmo ponto. O modelo novo descentraliza o recurso, para facilitar o acesso e torna os espaços de atendimento não concentracionários. Os pontos passam a ser de convívio.


Passa-se, também, a mudar o foco, para cada vez menos nas situações extremas, para cada vez mais olhar e apoiar os pacientes no seu cotidiano. Passa a haver a possibilidade de atendimento nas situações cotidianas. Em 2002, houve 460 mil atendimentos; em 2010, com essa descentralização e esse processo de transferência de recursos para uma rede nacional, aumentando o acesso e a oferta, fizemos 21 milhões de atendimento.


Mas apesar dessa descentralização, o que se verifica, em outros países, é que modelos desse tipo esbarram nos contingentes de doentes mais graves, que não conseguem viver sem supervisão institucional. Não há esse problema aqui?


Por que temos 21 milhões de atendimentos? Não significa 21 milhões de pessoas; significa o conjunto de atendimentos muito mais denso e intenso. Tem pessoas, que precisam passar pelo atendimento apenas uma vez por mês, mas outros precisam de atendimento cotidiano, de cuidados intensivos. Antes, como eu disse, havia uma concentração muito grande de recursos e de pessoas, mas pouquíssimos profissionais na rede. Hoje, temos uma quantidade enorme de pessoas ofertando atendimento. No aspecto concentracionário, você tinha parentes para tomar conta das pessoas e pouquíssimos funcionários. No modelo atual, cada vez mais fazemos um rede de pessoas.


Em entrevista a este blog, o ministro Alexandre Padilha falou da necessidade de se organizar as redes de atenção do SUS, promovendo a regionalização do sistema. Como tem sido trabalhado o atendimento básico em saúde mental nas redes interfederativas do SUS, uma vez que o foco de muitas delas tem sido a alta complexidade?


Este é um ponto importante. Estamos numa fase em que o sistema está crescendo, mas ainda depende de processos de investimentos. De fato, precisamos avançar na integração de conceitos e práticas junto à atenção primária. Porque, assim como a atenção primária vai ser um reposicionamento, este reposicionamento envolve estabelecer colaboração e sinergia com o sistema de saúde mental, para que a gente atinja, capilarmente, cada vez mais pessoas. Quando o atendimento à saúde mental e a atenção básica estão bem próximos das pessoas, você pode lidar com as situações de conflito da vida cotidiana e real das pessoas. Isso significa ter uma estratégia de atender preventivamente. É um aprimoramento do sistema.


Um ponto que alguns especialistas criticam do sistema de saúde mental brasileiro se refere à ausência da prevenção secundária. O ministério tem se preparado para esta etapa do atendimento?


Quando pensamos em prevenção secundária, é só de trabalho ambulatorial, e isso se mostra, historicamente, ser insuficiente. Como já falei aqui, deve-se colocar o foco no dia-a-dia do paciente, e não apenas no transtorno mental agudo. E o dia-a-dia é difícil. Então, a rede, além de atender principalmente casos graves e de ruptura, o fundamento mais importante é a continuidade do atendimento e da atenção. E isso só se dá em rede.


Por isso que se pensa que, além dos gastos, você tem procedimentos terapêuticos, centros de convivência, você busca ter oficinas de trabalho. Essa composição garante trabalho, renda, lazer e tratamento. Esse tipo de coisa é que vai gerar aquilo que se chama de prevenção secundária, ou seja, a sustentabilidade das pessoas, evitando recaídas ou crises mais prolongadas.


O Brasil possui um sistema básico de prevenção de doenças mentais? Há doenças que, apesar de mentais, podem ser evitadas, como depressão pós-parto ou alguns quadros maníacos.


No caso específico das mulheres grávidas, foi lançada recentemente a chamada Rede Cegonha, que é uma proposta ampla de reorganização da atenção às mulheres grávidas. Um dos componentes é o investimento na qualificação e aprimoramento e passa exatamente por isso. Um dos critérios, que vai ser adotado daqui para frente na rede, é que mulheres que tenham passado histórico de problema mental devem ter histórico de depressão. Ou casos de saúde mental, passam a ser considerados um risco. Ela [a mulher] passa a ser observada durante a gravidez e depois do parto com um protocolo diferenciado.


Isso no caso da depressão na gravidez. Mas casos mais graves de outras psicoses recebem a mesma atenção? A internação hospitalar de urgência, por exemplo, é realizada?


A situação da prevenção é a seguinte: quando você vai atender as pessoas, e está cada vez mais perto, a ação é intervir de fato nos conflitos menores, nas situações de menor complicação…


E as de maior complicação?


É como se fosse o efeito de cascata. Interferindo num problema menor, você evita que ele cresça. Tem problemas que vão crescendo, à medida que elas pedem atendimento. Prevenção é você ajudar a superar essas dificuldades no cotidiano. Faz parte das novas diretrizes qualificar os prontos-socorros – em casos de ruptura, o paciente é encaminhado para lá. Atualmente, temos centrado nos prontos-socorros especializados. Nesse primeiro atendimento, o paciente é atendido por especialistas ou não-especialistas. E ali, a gente precisa qualificar, de fato, esse processo. Vai haver um processo de reorganização das portas de emergência, o que envolve uma qualificação de todos os pontos de atendimento dos casos mais agudos.


Pode-se dizer que um dos obstáculos do tratamento da saúde mental é a dificuldade de se definir diagnósticos quando a doença ainda está na fase inicial?


Na questão específica da depressão, é importante colocar, pois há mudanças de aspectos da doença, que atualmente merecem uma inflexão. Nos últimos meses, diversas pesquisas, particularmente americanas, que mostram que a grande parte da população que atualmente está sendo medicada com esse discurso preventivo, nos EUA, tem os efeitos equivalentes a um placebo. Não significa que seja inócuo, mas se trata de placebo. Isso começa a jogar luz na necessidade você reorganizar o sistema, pois são milhões de pessoas (da população e de parte dos profissionais também) que, culturalmente, entendem que basta tomar um remédio, pois ele ou previne ou trata rapidamente.


Essas pesquisas mostram equívocos, porque os remédios custam caro para as pessoas. A eficácia desses remédios é questionada. A rigor, estamos retomando paradigmas de atendimentos mais antigos, que eram mais fracos, na verdade.


Hoje, em alguns casos, a primeira medida é passar 30 dias de apoio psicossocial, e não entrar com médico. Porque aí outras pesquisas mostram que essas abordagens sociais tem mais efetividade e eficácia do que o procedimento de medicação. Por outro lado, existem outras indicações de que introduções de remédios, em situação em que são desnecessários, acabam gerando, ao longo do tempo, crises piores. Isso é uma mudança de eixo que vem sendo feita com amplos debates.


Qual a base conceitual da reforma brasileira? Ela é totalmente influenciada pelo movimento italiano, de Franco Basaglia?


A boa coisa do Brasil é que, como ele entrou na reforma bem a posteriori, depois da reforma nos EUA, da França e da Itália, isso permitiu à gente fazer um amálgama daquilo que tem de interessante e positivo dessas diversas experiências. A experiência italiana é análoga, de certa forma. Ela é tardia, se comparada com os outros países. O que o Basaglia promoveu foi, de certa forma, o que o Brasil fez, ou seja, tirou o que havia de interessante das experiências anteriores. Aprender com o Basaglia é “vamos aprender com todo mundo”. Aprendemos a copiar assim como os italianos aprenderam.


Qual a contribuição do movimento psicanalítico na formação da reforma? Consegue-se pensar na psicanálise dentro das políticas de saúde mental?


O campo da psicanálise é bastante heterogêneo. Mesmo dentro da psicanálise existem muitas “psicanálises”, o que abre espaço para muitas incongruências dentro dela. As contribuições que foram sendo absorvidas foram, ao longo da história, mostrando a importância de que o psiquismo não é uma coisa a ser deixada de lado – as pessoas possuem uma vida interior, tem idéias, desejos, e isso é um ponto para tratarmos de alguém. No âmbito geral, a psicanálise enriquece a cultura do cuidado e do atendimento. Como tecnologia, há vários tipos de profissionais – o lacaniano, o freudiano etc. – não necessariamente é uma ferramenta a ser utilizada como estratégia única para o planejamento da saúde mental.


O ministério sabe onde estão os loucos, genéricamente falando, do Brasil? Aqueles que estão nas ruas e nas cadeias, como podem ser identificados e tratados?


Para se ter idéia, 3% da população teria algum tipo de problema grave. No Brasil, temos cerca de seis milhões de pessoas nas ruas. 3% de 200 milhões de brasileiros é seis milhões. Então seria quase metade de São Paulo distribuída por aí, sé de casos graves. Dos casos leves, seriam mais 9%, ou seja, aproximadamente 20 milhões. Assim, um em cada dez brasileiro, talvez, está na rua, louco. Então, essa é uma imagem equivocada, dizer que a maior parte dos loucos está nas ruas.


Muita gente que está na rua tem problema, isso é verdade. Certamente, de modo grosseiro, 90% tem problema com álcool. Só o fato de estar na rua, aumenta a vulnerabilidade, e a pessoa piora bastante. Mas, do ponto de vista de uma política pública, primeiro as pessoas precisam sair da rua. Nesse sentido, o governo está desenvolvendo uma estratégia, com a coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social, de combate à miséria. Existe o Plano Nacional para a população de rua, cuja implementação está sendo feita gradualmente.

Brasilianas.org

Fonte: Carta Capital

Serviço Social & Saúde Mental

PICICA: "Vai daí que só se desperta interesse público, via mídia, se formos ao encontro de novas formas de vida, novos agenciamentos, nova comunhão entre homens e mulheres na construção da cidadania seqüestrada dos “loucos”, da subjetividade que lhes foi negada, da luta contra ultrapassadas formas de racionalidade e da transitoriedade do conhecimento. Alguns caducam em pouco tempo."
Angela e Vanderléia - Foto: Rogelio Casado, Manaus, Abril 2011

Serviço Social & Saúde Mental

         Com o generoso convite de Vanderleia e Angela, estagiárias do Serviço Social do Projeto Nós & Voz, do qual sou coordenador técnico – projeto a ser abordado noutro artigo –, fui ao complexo universitário da ESBAM numa destas noites da semana que passou. Foram três horas de palestra, com direito à leitura crítica das políticas públicas de saúde mental, e incursão sobre a história da aventura da humanidade no convívio com o mais trágico dos saberes: a loucura.

         Fui recebido por duas turmas de estudantes num enorme salão, acompanhados de suas professoras, cujas disciplinas trabalham os conteúdos das políticas públicas. Pouco mais de sessenta alunos ouviram atenciosamente o palestrante, no que pese apenas duas delas manifestaram interesse pelo campo da saúde mental. Uma delas, curiosamente, sobre a associação entre Saúde Mental e Economia Solidária, em torno do qual giram as atividades do Projeto Nós & Voz, acima mencionado.

         Seria precipitação afirmar que o desinteresse coletivo sobre o tema é exclusivo da comunidade acadêmica. Certamente, há aí algo a pensar. O fato extrapola a academia, embora ali tenha feito morada. O que ocorre pouco difere do silêncio que reinou na sociedade, após os fecundos anos 1980, quando colocamos o Amazonas no mapa da Reforma Psiquiátrica. Penso que o silêncio e a mudez tem entre outras fontes a perda de rumo do setor na década seguinte, ainda que alguns aleguem que estavam envolvidos numa prosaica tarefa caseira: desospitalizar os internos. É pouco, para um real compromisso com a principal bandeira da reforma: desinstitucionalizar a loucura. Tanto que o significado e prática deste novo paradigma ficou inteiramente desconhecido até o início deste século.

         Mesmo o silêncio da mídia tem relação com a ausência de obra que sucedeu o início da década de 1980, marcada pelo fim da associação entre violência e corrupção no único hospício de Manaus, até o fim daquela década, quando se deu a desarticulação da equipe que iniciou a experiência de reorientação do modelo de atenção em saúde mental. Se ela não atingiu pleno êxito, deve-se aos mesmos fatores que impediram a continuidade do processo da desinstitucionalização desejada, encarnados em agentes interessados na manutenção do velho status quo. Não eram poucos. Vai daí que só se desperta interesse público, via mídia, se formos ao encontro de novas formas de vida, novos agenciamentos, nova comunhão entre homens e mulheres na construção da cidadania seqüestrada dos “loucos”, da subjetividade que lhes foi negada, da luta contra ultrapassadas formas de racionalidade e da transitoriedade do conhecimento. Alguns caducam em pouco tempo. Mantê-los tem-nos custado uma grande tensão no campo dos afetos e uma enorme coação à potencia de nossos intelectos e à liberdade de ação. 

          É a potência da informação, da circulação da palavra que pode nos levar em direção ao saber que liberta, abrindo caminho para a retomada dos princípios que norteiam o modelo de atenção de saúde mental vigente no país, e que ainda é muito incipiente no estado do Amazonas. 

Manaus, Abril de 2011.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
www.rogeliocasado.blogspot.com

PICICA: Artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, no caderno Saúde & Bem Estar, que sai aos domingos.

"Bullying e judicialização das relações pessoais", por Rita de Cássia de A Almeida

PICICA: "Freud dizia que a fonte de maior sofrimento para nós é resultante de nossas relações com os outros já que, inevitavelmente e invariavelmente elas produzem alguma espécie de fracasso ou mal-estar. Vivemos, no entanto, numa era onde fracassos e mal-estares são completamente abominados. Então, se não há espaço para os mal-entendidos tudo precisa ficar sempre bem-entendido e, uma das formas que encontramos para aplacar os mal-entendidos da atualidade tem sido convocar rotineiramente o discurso judiciário para mediar nossas relações. A isso chamamos judicialização das relações pessoais. Mas, o perigo de sempre recorrer a este tipo de discurso para solucionar nossos problemas interpessoais é o de nos colocarmos sempre em lugares estanques e cristalizados; ou somos as vítimas ou somos seus algozes."
Angeli

Bullying e judicialização das relações pessoais

por Rita de Cássia de A Almeida
psicanalista


Bullying é o tema do momento. A palavra é inglesa e originária da palavra bully cuja tradução é valentão. Naturalmente que valentões e valentonas sempre existiram. E acredito que todos nós pelo menos em algum momento na vida fomos vítimas de algum valentão e/ou já nos comportamos como um. Mas porque será que o bullying se tornou um problema com tanto destaque nos últimos tempos, a ponto de parecer que ele só surgiu recentemente? Não tenho respostas formuladas para esta questão, mas acredito que haja um caldeirão favorável que faz com que o bullying esteja tão em voga.

Freud dizia que a fonte de maior sofrimento para nós é resultante de nossas relações com os outros já que, inevitavelmente e invariavelmente elas produzem alguma espécie de fracasso ou mal-estar. Vivemos, no entanto, numa era onde fracassos e mal-estares são completamente abominados. Então, se não há espaço para os mal-entendidos tudo precisa ficar sempre bem-entendido e, uma das formas que encontramos para aplacar os mal-entendidos da atualidade tem sido convocar rotineiramente o discurso judiciário para mediar nossas relações. A isso chamamos judicialização das relações pessoais. Mas, o perigo de sempre recorrer a este tipo de discurso para solucionar nossos problemas interpessoais é o de nos colocarmos sempre em lugares estanques e cristalizados; ou somos as vítimas ou somos seus algozes.

Permeado por um discurso fortemente judicializado torna-se preocupante a maneira como tem sido tratada a questão do que aprendemos a chamar de bullying. A exploração do tema tem se ocupado em dar voz a um exército infindável de pessoas que afirmam sofrerem ou terem sofrido esta forma de violência e que não se cansam de reafirmarem o lugar que foi definido para elas; o de vítimas. Os algozes por sua vez são os demônios do momento, execrados em suas condutas violentas e opressoras, mas que, afinal, apenas reproduzem as relações de poder que nossa sociedade semeia e reforça.

Tenho um filho adolescente. Certa vez, quando ele contava com uns 8 anos de idade, me relatou que havia um garoto em sua sala que o intimidava constantemente, com palavras e pequenas agressões. A meu pedido, ele me apontou o garoto na saída da escola que, como eu já suspeitava, tinha o dobro seu do tamanho. Me lembro que na hora em que vi o garoto, tive ímpetos de abordá-lo e tirar satisfações ou procurar os pais dele ou ainda me reportar à direção da escola. Ao contrário do que a grande maioria das pessoas pensa, mães psicólogas ou psicanalistas não pautam suas intervenções em teorias e fórmulas científicas. Educam como a maioria dos pais, baseados em seus saberes inconscientes, ou seja, saberes não teorizáveis e que foram adquiridos ao longo da vida. Sendo assim, com meu coração apertado e sem saber se estava tomando a melhor decisão, apenas disse ao meu filho algo mais ou menos assim: – Sei que este garoto tem o dobro do seu tamanho e sei que você está com medo dele, eu também teria se estivesse no seu lugar, mas também sei que você é muito mais inteligente que ele e vai saber resolver este problema. Passaram-se os dias e meu filho não se queixou mais do valentão. Certo dia, perguntei a ele se o garoto ainda o importunava e ele me disse: - Tudo bem, mãe. Eu já resolvi. Agora somos amigos. Perguntei como isso tinha acontecido e ele me disse com simplicidade: - Eu perguntei se ele queria ser meu amigo e ele aceitou.

Obviamente que ao fazer esta intervenção com meu filho eu jamais poderia imaginar o seu desdobramento, ainda mais um tão inusitado. Minha fantasia de solução transitava entre o final do filme Karatê-kid (onde o menino franzino finalmente dá uma surra no valentão) e uma revolução coletiva dos magrelos contra os fortões, liderada pelo meu filho, é claro. Hoje eu sei que a maneira que ele encontrou para resolver sua diferença com o valentão da sala foi invenção dele, mas também sei que ela só pôde acontecer porque eu, mesmo sem saber, permiti com minha maneira de intervir, que ele deixasse de ser apenas uma vítima dessa cena para também protagonizá-la. Se eu tivesse abordado o tal valentão, por exemplo, poderia até conseguir que ele deixasse de ser o algoz do meu filho, mas este jamais deixaria de ser a vítima.

Este é o problema das intervenções baseadas no discurso judicializado, elas apenas reforçam os papéis que já foram estabelecidos, sendo assim, as mudanças só ocorrem numa provável inversão de posições – como aconteceu no caso de Casey Haynes o menino gordinho que se tornou febre na internet depois de cansar de ser saco de pancadas e revidar em seu agressor – o que não modifica em nada o produto da relação, neste caso, violência.

Não pretendo de maneira nenhuma fazer deste relato uma receita para lidar com o bullying, pois, não acredito em receitas para educar e muito menos em receitas para resolver nossos mal-estares quotidianos. Mas, creio que devemos evitar intervenções que sirvam apenas para cristalizar e reforçar as pessoas em determinados lugares, dando a falsa impressão de que estamos tratando do problema. Sendo assim, coibir e punir os agressores pode até inibi-los em determinadas situações, mas não os fará questionar suas atitudes e sua posição perante o outro. Da mesma maneira, ter piedade e proteger as vítimas, não as fará experimentar posições subjetivas mais potentes e proativas.

Meu filho me ensinou muito em nossa experiência com o tal bullying, que na época nem tinha esse nome. Aprendi que muito além de agressores e agredidos, de vítimas e algozes, esta forma de mal-estar pode produzir algo muito mais interessante e positivo: amigos. E porque não? Sem esquecer que mesmo os amigos às vezes se desentendem. 

"A cidade onde a Reforma Psiquiátrica não ocorreu", por Ricardo Carvalho

PICICA: O modelo de atenção psicossocial às pessoas com transtorno mental ainda convive com o modelo manicomial de atenção em saúde mental em vários estados da federação, e se constitui num dos desafios do governo Dilma Roussef. Ampliar e consolidar a reforma psiquiátrica antimanicomial é decisiva na restituição das relações entre a sociedade e a loucura, de modo a garantir para esta última possibilidades de marcar sua presença e participação na cultura, como nos lembram Ana Marta Lobosque e Miriam Abou-Yd. Afinal o modelo psiquiátrico tradicional tornou-se índice de marginalização e exclusão sociais. Queremos modelos abertos e dispositivos reabilitadores. Definitivamente, temos de desmontar o modelo de Sorocaba. E, na sua cidade, como vai a reforma psiquiátrica antimanicomial?  Em tempo: Este post é dedicado à psicóloga Deusdeth Martins, incansável militante antimanicomial de Goiânia-GO, e aos demais companheiros da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila) que, em parceria com o Conselho Federal de Psicologia, sustentaram a manifestação de mais de 2 mil usuários na "Marcha à Brasília," no final do governo Lula, reivindicando a radicalização da reforma psiquiátrica, assegurado, assim, o compromisso com a efetiva inserção social dos loucos na cultura dos nossos tempos. Em 1987, quando o movimento dos trabalhadores de saúde mental radicalizou com o lema "Por Uma Sociedade Sem Manicômios", gerando como consequência a mais importante mudança nos rumos da saúde mental brasileira, é chegada a hora de aprofundar esta radicalização. "Por Uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial" é a proposta da Renila. Mais e melhores frutos virão por aí.

A cidade onde a Reforma Psiquiátrica não ocorreu



Sorocaba tem a maior concentração de leitos psiquiátricos do País, centralizados em hospitais de grande porte. Movimento social denuncia abusos. Por Ricardo Carvalho. Foto: José Eduardo Cunha

Daniela Gonçalves, de 30 anos, deu entrada na Santa Casa de Sorocaba no dia 1º de junho de 2008. O exame clínico apontava estado febril e desidratação e ela foi diagnosticada com pneumonia. Portadora de um transtorno mental genético, Daniela estava internada há dois meses no Hospital Mental, instituição psiquiátrica localizada no mesmo município e que tem cerca de 350 leitos. Diante do quadro, ela foi transferida à uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e faleceu 12 dias depois. Sua mãe, Jane Gonçalves, acusa o hospital de negligência. “Quando eu cheguei na Santa Casa, a minha filha já estava em coma. Uma enfermeira do Mental me disse que ela começou a passar mal numa terça-feira, e a internação só aconteceu no domingo. Em dois meses, eles acabaram com ela”, lamenta.

Um levantamento organizado pelo Fórum de Luta Antimanicomial de Sorocaba (Flamas), coordenado pelo professor de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Marcos Garcia, aponta que o caso de Daniela não é uma exceção. Segundo o estudo, entre 2006 e 2009, foi registrado um total de 233 mortes nos quatro hospitais psiquiátricos do município. O maior deles, o Hospital Vera Cruz, com 512 leitos, registrou no período 102 óbitos. Se comparado com os dois maiores hospitais psiquiátricos do Estado de São Paulo, o Vera Cruz registrou 20 mortes para cada cem leitos, enquanto que o Instituto Américo Bairral, em Itapira (820 leitos), e a Clínica Sayão, em Araras (808 leitos), tiveram, no mesmo período, seis e sete óbitos para cada cem leitos, respectivamente. A média de mortes da região de Sorocaba, que engloba outros três hospitais psiquiátricos de grande porte nos municípios de Salto de Pirapora e Piedade, é de 16,5 mortes para cada 100 leitos nesses três anos, segundo a pesquisa.

Leia aqui o Levantamento de indicadores sobre os manicômios de Sorocaba e Região, de autoria do professor Marcos Garcia

A explicação mais provável para o alto número de óbitos, segundo o fórum, é o quadro de funcionários insuficiente para dar assistência à população internada. A legislação brasileira estabelece um número de horas trabalhadas em função do número de leitos. Numa análise dos sete hospitais psiquiátricos de Sorocaba e região, o levantamento de Garcia indica clara deficiência. São previstas, por exemplo, 2.216 horas semanais de assistência para enfermeiros e médicos, além 980 horas para psicólogos. Os hospitais da região disponibilizam apenas 37%, 72% e 43% da assistência prevista, respectivamente.

Lúcio Costa integra o Fórum de Luta Antimanicomial. Ele estagiou por um ano, em 2006, no Hospital Mental e relata situações de descaso e negligência. “Eu percebia um quadro de funcionários muito inferior ao necessário para atender os pacientes. O Mental é um hospital feminino, e eu via uma quantidade grande de mulheres nuas, muitas vezes urinadas e sentadas em cima das próprias fezes. Além de um excesso de medicação, o que impossibilitava essas mulheres de participar de grupos terapêuticos”.

Na quarta-feira 27, uma vistoria surpresa realizada pelo Núcleo de Saúde Mental e Combate à Tortura da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência esteve no Mental. Segundo o coordenador geral do núcleo, Aldo Zaiden, que participou da operação, havia apenas três enfermeiras e uma médica quando a vistoria chegou ao local, por volta das 11 horas da manhã. Elas estavam responsáveis por 350 pacientes. Zaiden afirma que foi encontrada uma paciente completamente nua e três seminuas, além de uma em situação de isolamento. Os peritos devem permanecer no hospital até o final de maio, quando um relatório da auditoria será produzido.

Outro caso de suposta negligência ocorreu na cidade de Salto de Pirapora, município próximo a Sorocaba. Familiares do jovem Rodrigo da Silva, encontrado morto aos 25 anos no final do ano passado, acusam o hospital psiquiátrico Santa Cruz, com cerca de 500 leitos, de não prestar assistência adequada. Rodrigo sofria de esquizofrenia e estava na sua 13ª internação. Segundo a irmã do jovem, Francieli, a família foi informada de que Rodrigo fugira do manicômio e fora encontrado por dois enfermeiros nas proximidades, porém eles não conseguiram contê-lo. Eles teriam deixado o local para pedir auxílio à Polícia Militar, mas quando regressaram, não encontraram o jovem. Rodrigo foi achado morto em um córrego poucos dias depois. Sua irmã, Francieli, reclama do procedimento adotado pela instituição. “O meu irmão foi encontrado vivo e os enfermeiros não tiveram competência para conter um paciente agressivo. Eles deixaram o Rodrigo fugir novamente”. Francieli diz que a fuga do irmão só foi possível porque um dos enfermeiros esqueceu de fechar uma porta do hospital, procedimento padrão em instituições desse tipo.

Financiamento

Os quatro hospitais do município são privados e recebem, anualmente, 20,7 milhões de reais do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS repassa a prefeitura que, por sua vez, encaminha a verba aos hospitais. Se incluídas as outras instituições da região, o valor chega a 39,7 milhões de reais anuais. A quantia é considerada insuficiente pelos responsáveis por hospitais psiquiátricos.


Perguntado por CartaCapital sobre como o hospital consegue manter o quadro de funcionários previsto pela legislação, levando em conta que o repasse do SUS é considerado insuficiente pelos próprios hospitais, David Haddad, diretor do Mental, disse que desde o início de sua gestão na administração, em 2009, os três sócios da instituição optaram por abdicar dos lucros, mantendo apenas seus salários fixos de acordo com os cargos médicos que ocupam no hospital. Isso foi feito, diz o diretor clínico, para não prejudicar “o serviço de qualidade do hospital”. Haddad relata que os sócios do hospital aguardam a conclusão de uma ação movida contra o Ministério da Saúde por um repasse maior às instituição psiquiátricas, o que “deve triplicar a verba por paciente dos hospitais”.

O Hospital Vera Cruz, por sua vez, argumentou que todos os hospitais dependentes do SUS não conseguem cumprir o determinado pela legislação. Apesar disso, na avaliação deles, o hospital conta com um quadro suficiente para oferecer um tratamento “com qualidade”. Sobre o número de óbitos contrastado com o do instituto Américo Bairral, o Vera Cruz argumenta que, por tratar-se de uma instituição com mais da metade de leitos particulares, “com diárias que chegam a mais de 200 reais por paciente”, o comparação com a instituição de Itapira é inválida.

Política de des-hospitalização

A denúncia do Flamas acendeu um debate sobre as políticas de assistência que devem pautar o tratamento de doentes mentais na cidade e no País. O assunto chegou à Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que vai investigar os dados. “A situação de Sorocaba é peculiar e preocupante, com uma alta concentração de grandes manicômios, um modelo ultrapassado de isolamento total. Isso quem diz é a legislação brasileira”, relata a defensora pública Daniela Skromov, que acompanha o caso.


Ela faz referência à lei 10.216, de 2001, a chamada Lei da Reforma Psiquiátrica. Essa legislação prevê a substituição progressiva dos hospitais de grande porte por uma rede substitutiva, em que o paciente é tratado em instituições extra-hospitalares, também conhecidos por “hospitais dias”. Na rede pública, o tratamento nesse modelo é feito principalmente em Caps (Centros de Atenção Psicossocial), menores do que os hospitais psiquiátricos e que trabalham principalmente com grupos terapêuticos. Neles, os pacientes chegam pela manhã e são dispensados ao longo do dia para voltar a seus locais de moradia. Em casos de surtos, os pacientes podem ficar internados por, no máximo sete dias. A lei também prevê que as internações sejam feitas, preferencialmente, em alas especializadas de hospitais gerais.

A legislação, entretanto, não proíbe a existência de hospitais psiquiátricos nos moldes dos de Sorocaba. O artigo que estabelecia o fechamento dessas instituições em 10 anos foi retirado do texto. O que ocorre é o direcionamento gradativo dos investimentos da área de saúde mental do Ministério da Saúde para a rede substitutiva em detrimento dos repasses aos hospitais psiquiátricos. Para se ter uma ideia, há cerca de 10 anos, 85% do financiamento de saúde mental ia para os hospitais psiquiátricos. Em 2010, esse valor foi de 35%, e o restante foi investido na rede substitutiva. Além do mais, a lei estabelece que o repasse por paciente internado aos hospitais seja menor em caso de hospitais com grande número de leitos. As diárias por paciente em hospitais menores (de até 160 leitos) são, por exemplo, de 49,7 reais por dia. Já em hospitais com mais de 400 leitos, como o Vera Cruz, a diária é de 35 reais por paciente.

Para a defensora pública Daniela, Sorocaba é uma das regiões mais atrasadas do País nesse quesito. O coordenador do estudo do Flamas, Marcos Garcia, complementa: “Sorocaba é uma cidade em que a reforma psiquiátrica, gradualmente incentivada desde os anos 80 e obrigatória por lei desde 2001, não ocorreu”. Ele afirma que o modelo manicomial estimula a segregação e o preconceito com a população internada. Além do mais, o coordenador do estudo explica que os modelos de segregação foram, ao longo da história, substituídos por um princípio de inclusão. “Isso aconteceu com o modelo de separação racial norteamericano nos anos 60 e com os leprosários, e foram superados”.

Como dado, ele aponta uma concentração de leitos psiquiátricos na região (2,3 leitos para mil pessoas) quase cinco vezes maior do que o preconizado pela legislação brasileira (0,45 leitos para mil pessoas). Com 2406 leitos conveniados pelo SUS, o Rio de Janeiro é a única cidade no Brasil com mais leitos do que Sorocaba. Com a ressalva, é claro, de ter mais de seis milhões de habitantes, frente a 580 mil do município do interior de São Paulo.

Outro dado que chama atenção é o grande número de pessoas institucionalizadas nesses hospitais. Também na quarta-feira 27, iniciou-se uma auditoria no Hospital Vera Cruz, que deve estender-se até maio. Segundo o coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, quase 70% dos pacientes moram no local. “Muitos estão há anos internados”, diz. O coordenador participou de uma reunião com o prefeito da cidade, Vitor Lippi, que contou também com a presença da Defensoria Pública e do Núcleo de Saúde Mental e Combate a Tortura da Secretaria de Direitos Humanos. Ficou acertado que será elaborado um plano de atuação para adequar a cidade no contexto da Reforma Psiquiátrica. Uma primeira medida será a desospitalização gradual dos pacientes institucionalizados.

Leia a entrevista de Roberto Tykanori sobre a política de saúde mental ao site Brasilianas.org

Roberto Tykanori ressalta que a Reforma Psiquiátrica prevê um deslocamento do eixo de atendimentos, priorizando estabelecimentos menores e descentralizados. A adequação do município depende, nesse sentido, da construção de residências terapêuticas, ampliação e capacitação da rede Caps existente na cidade e a implantação de programas que reaproximem os internos institucionalizados de seus familiares. Até lá, entretanto, Sorocaba continuará a ser uma cidade obrigada a conviver com um modelo centralizador, arcaico e que permite situações de abandono como as constadas pela vistoria no Hospital Mental.

Ricardo Carvalho


Fonte: Carta Capital