PICICA: "O modelo engendrado por Patrus Ananias é
eficiente justamente devido à sua simplicidade e abrangência. O
objetivo do Bolsa Família é cadastrar todos os miseráveis e garantir um
recurso mínimo para tirá-los da fome absoluta, condicionado a dois
pontos: filho grande na escola, recém-nascido no posto de saúde. Nunca
se pretendeu salvar a atual geração de miseráveis, porque impossível.
Nem colocá-los no mercado de trabalho da noite para o dia, porque
inexequível. O objetivo é simplesmente o de lhes fornecer uma migalha de
cidadania, para tirá-los dessa doença social, da miséria absoluta. E,
em cima dessa base, posteriormente, articular outras políticas sociais."
O TCC sobre o Bolsa Família: uma aula de jornalismo
Atualizado com vídeo
Na sexta participei de uma banca de TCC(Trabalho de Conclusão de Curso) da Faculdade Metodista de Jornalismo.
Trabalho excepcional da moçada sobre o Bolsa
Família, tanto no vídeo de 25 minutos quanto no trabalho escrito,
abordando vários aspectos do programa e da discussão política sobre ele.
A equipe responsável foi composta dos alunos Bruno Martins, Carlos
Simalha, Cintia Alves, Deborah Scarone, Estele Kim, Gessica Cruz e
Rafael Rodrigues, sob orientação do professor Valdir Aparecido Boffetti e
Verônica Aravena Cortes.
O mais relevante, no entanto, é o documentário focado
em senhoras beneficiárias do Bolsa Família, mostrando seu dia-a-dia, os
problemas que enfrentam para atender às condicionantes do programa. Mais
que isso, mostrando de maneira crua o que é a vida de um miserável.
Entrevista a senhora, mãe de sete filhos, que acolhe a
vizinha, mãe de quatro, em um quartinho, em uma comovente demonstração
de solidariedade. Mostra geladeiras vazias, a vergonha da pobreza, a
esperança com o futuro, os problemas para cumprir as condicionalidades
do programa, o filho que não mais frequenta a escola por vergonha de
suas roupas, a economia para comprar uma camiseta para a filha pequena.
A revolução na gestão das empresas brasileiras teve
início quando o foco de toda a ação passou a ser o consumidor. As
empresas se debruçaram para conhecer sua clientela, para analisar de que
maneira seus serviços eram recebidos e percebidos e, a partir daí,
focar seus planos de melhoria.
O mesmo deve ocorrer em qualquer política pública: a
análise do que acontece na ponta. E é isso o que o vídeo mostra de
maneira exemplar.
A exposição do mundo real é temperada com entrevistas
com especialistas, de André Singer a Floriano Pesaro - o vereador tucano
que teve a melhor professora do país sobre políticas sociais, dona
Ruth, e parece não ter aprendido muito com ela.
Confira alguns dos mitos desmontados pelo vídeo.
A cobrança de contrapartidas
Floriano aparece dizendo que a crítica dele é quanto à
falta de acompanhamento das condicionantes do programa. Na sequencia, a
entrevista de duas senhoras contando que perderam parte do BF pelo fato
dos filhos terem abandonado a escola.
Quais os motivos? Em um caso, vergonha do filho de ser
pobre, de ir mal vestido e ser alvo da zombaria dos colegas. Em outro,
falta de roupa de frio, impedindo sua saída de casa em dias de muito
frio. Há o caso de uma mãe que paga 70 reais por mês para a condução que
leva a filha à escola.
A preocupação de Pesaro, que se diz especialista, é apenas com a cobrança, para evitar a malandragem. A do documentário – de jovens de pouco mais de 20 anos, que nunca estudaram políticas sociais - é identificar as dificuldades para cumprir as condicionalidades.
Em outro contraponto, Floriano diz que o objetivo do
programa não pode ser o de meramente transferir dinheiro indefinidamente
para as famílias, mas de fortalecer a livre iniciativa, a economia, o
mercado. Em seguida, a mãe de família miserável, de sete filhos, dizendo
que o objetivo de governo deve ser "olhar para nós". No céu, Dona Ruth
enrubesceu.
Faltou no projeto uma análise melhor sobre a miséria
absoluta, a fome absoluta, a partir dos próprios estudos de Josué de
Castro. A partir dessas análises se poderá avaliar melhor o enorme
significado de tirar alguém dessa situação.
O foco do BF e a falácia do mundo ideal
Assim como Pesaro, o trabalho (escrito) apresentou as
críticas inconsistentes ao programa, por parte de frei Betto e do
ex-Ministro Cristovam Buarque, grandes praticantes da chamada falácia do
mundo ideal.
Como funciona? Apresenta-se um objetivo extraordinário,
ambiciosíssimo, com chance zero de sair do papel, para se contrapor a
um trabalho que, mesmo com resultados excepcionais, jamais conseguirá
chegar perto desse mundo de fantasias. O objetivo é mostrar ao mundo
como o autor da fantasia é muito mais solidário com a pobreza, e muito
mais ambicioso nos seus objetivos do que esses reles mortais sem virtude
e sem ambição.
O trabalho levanta entrevistas de Betto dizendo que o
Fome Zero tiraria todo mundo da miséria e colocaria no mercado produtivo
em dois anos. Para tanto, articularia programas de horta comunitária,
reforma agrária (seria interessante saber como seria a reforma agrária
na periferia das grandes cidades, foco maior da miséria), alfabetização,
recursos hídricos, cooperativismo, capacitação profissional.... O Fome
Zero não conseguiu organizar sequer a distribuição de alimentos e roupas
que chegaram até ele no grande mutirão social que a eleição de Lula
deflagrou.
O modelo engendrado por Patrus Ananias é
eficiente justamente devido à sua simplicidade e abrangência. O
objetivo do Bolsa Família é cadastrar todos os miseráveis e garantir um
recurso mínimo para tirá-los da fome absoluta, condicionado a dois
pontos: filho grande na escola, recém-nascido no posto de saúde. Nunca
se pretendeu salvar a atual geração de miseráveis, porque impossível.
Nem colocá-los no mercado de trabalho da noite para o dia, porque
inexequível. O objetivo é simplesmente o de lhes fornecer uma migalha de
cidadania, para tirá-los dessa doença social, da miséria absoluta. E,
em cima dessa base, posteriormente, articular outras políticas sociais.
A porta de saída
Outro mito que se desmonta - a partir dos depoimentos
colhidos - é a tal da porta de saída. Conta-se uma caso de senhora bem
sucedida, que foi acolhida pelo Bolsa Família, depois tornou-se
empreendedora de uma cooperativa de costureiras em Osasco.
Mas só conseguiu isso porque na ponta, em Osasco, houve
um trabalho social relevante, ajudando a organizar as senhoras para a
tal porta de saída. Ou seja, a porta de saída depende fundamentalmente
das ações das prefeituras na ponta.
A partir daí, há espaço para uma crítica consistente ao
Bolsa Família. De que maneira estão amarrando, com as prefeituras,
programas de inclusão social, de inclusão no mercado de trabalho? De que
maneira outros programas sociais do governo, de transferência de
recursos para prefeituras, podem ser articulados com o BF, à medida em
que o principal já se tem: o cadastro e acompanhamento das famílias
assistidas?
Aqui, o finalzinho do vídeo, com o depoimento da
empreendedora de Osasco e da senhora que mora de favor. Se o grupo
autorizar, coloco a íntegra.
Fonte: Luis Nassif Online
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