PICICA: "Foi Chico de Oliveira, o oscilante sociólogo uspiano, quem afirmou ser
Lula um "homem sem caráter". De minha parte, não descarto a análise de
extração psicanalítica, mas considero a caneta presidencial o indicador
mais confiável sobre o caráter de qualquer presidente. No entanto, antes
que o rasteiro moralismo burguês dominante torça o nariz para meu
desprezo inicial pela perspectiva moral, reafirmo que, na política, é
claro que o caráter conta, mas a prova final sobre a conduta
presidencial será sempre o Diário Oficial."
A alma de Lula
Foi Chico de Oliveira, o oscilante sociólogo uspiano, quem afirmou ser
Lula um "homem sem caráter". De minha parte, não descarto a análise de
extração psicanalítica, mas considero a caneta presidencial o indicador
mais confiável sobre o caráter de qualquer presidente. No entanto, antes
que o rasteiro moralismo burguês dominante torça o nariz para meu
desprezo inicial pela perspectiva moral, reafirmo que, na política, é
claro que o caráter conta, mas a prova final sobre a conduta
presidencial será sempre o Diário Oficial.
Ainda assim, não cometo engano em afirmar que, entre os petistas, poucos
conhecem Lula na intimidade - e, portanto, seu caráter - tão bem quanto
Gilberto Carvalho, o ex-ministro chefe do gabinete presidencial entre
2004-2010. A propósito das investigações sobre a edição de medidas
provisórias criadas para benefício das multinacionais do setor
automobilístico, Gilbertinho - como é conhecido nas suas bases - afirmou
que "o estímulo à indústria automobilística era a alma do presidente
Lula". Arrematou dizendo que "dada a importância do setor
automobilístico no Brasil, essa coisa de estímulo ao setor era, digamos,
a alma do presidente Lula. Ele sempre teve muita preocupação com
isso."(Valor, 26 de janeiro).
Há, nas fileiras onde me encontro, uma espécie de interpretação marxista suficientemente tosca para afirmar que nenhum presidente seria louco em negar apoio ao "setor automobilístico", ou seja, as montadoras multinacionais. Esta sorte de "marxismo" considera a correlação de força sempre desfavorável aos trabalhadores e, em consequência, qualquer medida mais ousada é sempre expressão de aventura ou aberta irresponsabilidade, razão pela qual não vacilam em emprestar apoio ao governo petista como se, de fato, o petismo fosse o horizonte histórico possível para as classes subalternas no capitalismo dependente. Não deixa de ser curiosa a situação, pois precisamente este "marxismo" domesticado aparece, involuntária e melancolicamente, como a mais importante manifestação de orgulho burgues entre nós. Enfim, enquanto a lumpemburguesia brasileira retrocede em termos industriais como nunca após 1994, ainda podemos ver "marxistas" em defesa do "setor industrial" como se esta fosse uma barricada real na defesa da industria nacional.
Há, nas fileiras onde me encontro, uma espécie de interpretação marxista suficientemente tosca para afirmar que nenhum presidente seria louco em negar apoio ao "setor automobilístico", ou seja, as montadoras multinacionais. Esta sorte de "marxismo" considera a correlação de força sempre desfavorável aos trabalhadores e, em consequência, qualquer medida mais ousada é sempre expressão de aventura ou aberta irresponsabilidade, razão pela qual não vacilam em emprestar apoio ao governo petista como se, de fato, o petismo fosse o horizonte histórico possível para as classes subalternas no capitalismo dependente. Não deixa de ser curiosa a situação, pois precisamente este "marxismo" domesticado aparece, involuntária e melancolicamente, como a mais importante manifestação de orgulho burgues entre nós. Enfim, enquanto a lumpemburguesia brasileira retrocede em termos industriais como nunca após 1994, ainda podemos ver "marxistas" em defesa do "setor industrial" como se esta fosse uma barricada real na defesa da industria nacional.
No entanto, o tempo da indústria nacional automobilística no Brasil
acabou há tempos. O golpe de 1964 foi fatal para qualquer pretensão
nacionalizante, enterrada juntamente com a deposição do governo nacional
reformista de João Goulart. Após a democratização, o Plano Real
consolidou um pacto de classe que, na prática, tornou impossível fazer a
indústria automobilística nacional. Não se trata de uma lei de bronze,
uma consequência necessária da "globalização" como costumam alegar os
idiotas conformistas e, com mais enfase, economistas interessados. A
Coreia do Sul e a China, para dar apenas dois exemplos recentes,
construíram esta industria com capacidade de competir com os Estados
Unidos e a Europa. A engenharia nacional poderia fazer o mesmo não
fossem nossas universidades um poço de desejo pelas multinacionais,
origem do academicismo alienante que ali predomina. Mas não vivemos o
epílogo da História e, portanto, o renascimento da indústria nacional
dependerá da força de um governo revolucionário e nacionalista disposto a
enfrentar as multinacionais no Brasil. Mas esta possibilidade demanda
reflexão mais profunda e o tema aqui é a alma do Lula
Hoje o Estadão informa que a operação Lava Jato aprendeu carta do lobista Mauro Marcondes Machado dirigida ao então presidente da Scania na América Latina, um tal Sven Harald Antonsson, na qual Marcondes - ex-funcionário da Wolkswagen no setor de recursos humanos - exibia suposta intimidade com Lula, a quem conhecia desde os esquecidos anos 70. Na Polícia Federal, Lula negou qualquer relação com o empresário e menos ainda com qualquer de suas empresas. Creio que neste caso Lula diz a verdade. Lula, sem pressão alguma, já sabia que o que fazer pelo "setor" antes mesmo de chegar a presidência com poder para editar medidas provisórias. Marcondes provavelmente mentiu na carta enviada ao executivo da Scania. Afinal, qual o poder de um reles lobista diante de um sujeito que traz as multinacionais na alma?
Hoje o Estadão informa que a operação Lava Jato aprendeu carta do lobista Mauro Marcondes Machado dirigida ao então presidente da Scania na América Latina, um tal Sven Harald Antonsson, na qual Marcondes - ex-funcionário da Wolkswagen no setor de recursos humanos - exibia suposta intimidade com Lula, a quem conhecia desde os esquecidos anos 70. Na Polícia Federal, Lula negou qualquer relação com o empresário e menos ainda com qualquer de suas empresas. Creio que neste caso Lula diz a verdade. Lula, sem pressão alguma, já sabia que o que fazer pelo "setor" antes mesmo de chegar a presidência com poder para editar medidas provisórias. Marcondes provavelmente mentiu na carta enviada ao executivo da Scania. Afinal, qual o poder de um reles lobista diante de um sujeito que traz as multinacionais na alma?
Fonte: NILDO OURIQUES
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