maio 15, 2008

Bento 16: próxima parada, França

Bento XVI
Mulheres de Olho

Bento 16: próxima parada, França
14 May 2008

Quando iniciou seu pontificado, o papa Bento 16 surpreendeu a comunidade religiosa ao afirmar que não estava preocupado com a acentuada perda de fiéis que a Igreja Católica vem registrando em todo mundo, mesmo em países como o Brasil, em que a tradição de “maior nação católica do mundo” é constantemente evocada. Disposto a recrudescer em relação aos padrões de moral católica, o papa tomou providências nessa direção, como recuperar a celebração das missas em latim.

Apesar desse discurso, as atitudes de Bento 16 vão na direção contrária: sua recente viagem aos EUA e sua já anunciada viagem para a França são sinais de que ele quer, sim, recuperar espaço. Em Paris, ele celebrará uma missa na catedral de Notre Dame e falará para os jovens, público que também foi privilegiado na sua visita ao Brasil, em 2007.

A necessidade de revitalização dos quadros da Igreja Católica existe não apenas no Brasil, mas em diversos países, e levou o Vaticano a investir nessa área, com a recente nomeação de Dom Claudio Hummes para o cargo de prefeito da Congregração do Clero, que trata, entre outras coisas, de educação religiosa.

Nos EUA, Bento 16 foi o segundo papa da História a visitar o país. Com o presidente George W. Bush ele reforçou seu discurso contra a descriminalização do aborto, contra as pesquisas com células-tronco embrionárias e em defesa da família heterossexual. Valeu-se da sintonia de Bush com esses temas – o presidente norte-americano é metodista. Mas sobretudo seu discurso frisou o “grande respeito por esta sociedade vasta e pluralista”.

As repercussões da visita, que incluiu um pronunciamento no plenário da ONU, começam a ser capitalizadas pela mídia católica: o site da agência Zenit noticia que a viagem “teve uma clara influência nos católicos praticantes e não-praticantes.”

A partir de pesquisa realizada pelo Instituto de Opinião Pública do Colégio Marista cuja íntegra pode ser lida aqui, em inglês, Bento 16 está confiante num aumento de popularidade, que seria de 70% antes da visita e passou a 82% depois, considerando os católicos praticantes.

54% dos católicos dos EUA disseram que se sentiam mais próximos de seus valores espirituais como resultado da visita do Papa; 41% disseram que era mais provável que votasse nas eleições de novembro; 64% dos católicos disseram que tinha uma melhor compreensão da postura da Igreja Católica em temas importantes, como resultado da viagem.

Ainda segundo a Zenit, mais de 70% dos católicos passaram a ter uma visão mais positiva da Igreja como resultado da visita, incluindo 82% dos católicos praticantes e 56% dos católicos não-praticantes.

Ou seja, se no discurso o papa afirma que só quer aqueles católicos que sigam as regras da Igreja, na prática tem agido em explícita campanha para recuperar os fiéis perdidos. Nesse sentido, os EUA eram um alvo importante, dado os estragos que os padres pedófilos fizeram na reputação do catolicismo no país, e a França, coração da cultura européia, é outro destino de grande influência no continente em que a IC mais perdeu fiéis.

Diversidade foi novamente o tema do seu discurso na solenidade de Pentecostes, realizada domingo na Basílica de São Pedro.

"A Igreja constitui uma unidade na diversidade, chamada a transmitir a verdadeira paz de Cristo a toda a humanidade. (…) Só o Espírito Santo, que cria unidade no amor e na recíproca aceitação das diversidades, pode libertar a humanidade da constante tentação de uma vontade de potência que quer dominá-lo e uniformizá-lo totalmente. (…) Este Espírito dá vida a uma comunidade que é ao mesmo tempo única e universal, superando assim a maldição de Babel."

Chama a atenção sua evocação de unidade, quando ele diz: “A Igreja Católica não é uma federação de Igrejas, mas uma realidade única: a prioridade ontológica corresponde à Igreja universal. Uma comunidade que não fosse neste sentido católica não seria nem sequer Igreja”.

Segundo seu discurso, o Espírito Santo é essa ligação entre “multiplicidade e unidade”. O que se pode ler nas entrelinhas é o apelo a um tipo de unidade que retoma a questão inicial de seu pontificado: como unir a Igreja Católica e superar a crise que a faz uma religião declarada por muitos, mas seguidas cada vez por menos fiéis?

Anne Resende Braga, colaboradora

Fonte: Mulheres de Olho
Posted by Picasa

Nenhum comentário: