maio 12, 2008

A maconha estragada de Merval Pereira

Dilma Roussef
A maconha estragada de Merval Pereira
11 May 2008

Em sua coluna de hoje no Globo, Merval Pereira volta a seu jogo preferido. Manipulações chinfrins, ilações forçadas, acusações veladas. "Enfim, o dossiê", diz Merval, como se tratasse de assunto de grande novidade. O texto torce e retorce notícias requentadas para colocar Dilma e governo dentro de uma moldura com a legenda: criminosos.

Imprensa e oposição apostaram alto demais no dossiê. Quer dizer, primeiro apostaram no escândalo dos cartões corporativos. O negócio respingou no governo Serra, cujos gastos com cartão revelaram-se superiores ao do governo federal, e na gestão FHC, que também gastou mais, através das contas tipo B, que não prevêem transparência e são mais difíceis de serem investigadas. Por fim, grande parte das denúncias de mau uso dos cartões revelou-se leviana ou vazia. Conforme declarou Jorge Hage, chefe do CGU, Controladoria Geral da União, houve uma espetacularização do nada.

Aliás, é com orgulho que lembro da minha defesa da mesa de sinuca, comprada com cartão corporativo. Foi um caso ao qual me dediquei com especial paixão. Gosto muito de sinuca e revoltou-me assistir a criminização lacerdista de um objeto tão inocente. O Globo estampou a foto da mesa na capa, e um manchetão na página 3: "Até mesa de sinuca".

Pois bem, eu defendi arduamente a mesa de sinuca. E não é que, após a investigação da CGU, descobriu-se que a mesa era propriedade da União, usada por funcionários e seguranças do Ministério da Comunicação em suas horas de lazer, e o seu conserto fora, portanto, totalmente conforme as leis? Não houve crime algum. No entanto, funcionários, instituições e a própria sinuca foram caluniados por um dos jornais de maior circulação e prestígio no país. Não se pediu desculpas e só fiquei sabendo do resultado da investigação sobre a sinuca pela internet, não pelo mesmo jornal que havia (falsamente) denunciado o caso.

Voltando ao Merval, ele constrói uma verdadeira ficção policialesca para falar de Dilma e o dossiê. Leiam esse trecho:

"Mas e se a Dilma estiver mesmo mentindo desde o início e o dossiê foi confeccionado a mando dela, para contra-atacar a oposição, que denunciava o uso abusivo de cartões corporativos pelo governo Lula e havia conseguido a demissão de uma ministra?

Essa possibilidade foi deixada em aberto pela própria ministra, segundo relato de Elio Gaspari, não desmentido: ´Quem ouviu a ministra Dilma Rousseff no jantar do Iedi de 20 de fevereiro, numa sala reservada do restaurante DOM, em São Paulo, não teve a menor dúvida: ela informou que o governo estava coletando dados para incriminar o governo de FFHH na farra dos cartões corporativos. Como já se passou mais de um mês, não é possível assegurar qual foi a palavra exata da comissária. (...) O tom era policial."

Merval agride a inteligência dos leitores porque omite pontos essenciais: 1) Não era preciso lembrar de reunião em restaurante para saber que Dilma estaria reunindo informações sobre o governo FHC. A ministra repetiu, em diversas ocasiões, para todo mundo ouvir, que a coleta de dados faz parte do trabalho de sua secretaria. A CPI dos Cartões aprovou a investigação dos cartões desde 1998, portanto era necessário que a Casa Civil procedesse a reunião do material. 2) Não é crime coletar material de FHC ou de qualquer governo. Dilma está no poder e pode reunir material de quem quiser. Foi nomeada pelo presidente da República e tem autoridade, autonomia e o direito legítimo e democrático para executar a pesquisa que lhe der na telha. 3) Os dados de FHC, no fim das contas, nem sigilosos são, porque ele não é mais presidente e o sigilo vale mesmo para o cargo, não para a pessoa. 4) Mesmo entendendo que os dados fossem sigilosos, os membros da CPI teriam acesso aos mesmos, o que desmonta a tese de chantagem.

Por fim, Merval defende o senador Alvaro Dias de forma canina, no caso do vazamento das informações para imprensa, no qual ele está envolvido até o pescoço. A Polícia Federal descobriu que José Aparecido, funcionário da Casa Civil, vazou o dossiê para o assessor de Dias. Merval não faz, todavia, a ilação mais lógica: Aparecido teria sido subornado pelo senador? Pereira aventa hipóteses sobre as mil e uma motivações de Aparecido para vazar o dossiê, mas não fala do mais simples: a milenar e tradicional venalidade humana, que pode ter concorrido para convencer Aparecido a executar um vazamento que traria, como trouxe, graves danos à sua chefe, Dilma Rousseff.

Francamente, eu não dou mais bola para o que Merval escreve. Eu rebato apenas para participar, à minha maneira, da luta política no país. Mas é sempre a mesma ladainha, já tá cansando.

Fonte: Óleo do Diabo
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