maio 01, 2008

Moradia assistida (IV)

Foto: Rogelio Casado - Grupo de Agricultura do HP Eduardo Ribeiro, Manaus-AM, anos 1980
O futuro chegou - As terras agricultáveis do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro foram invadidas nos anos 1990. Houve, no mínimo, omissão da direção da época. Mesmo sabendo que ninguém nasceu para morar em gaiola - por isso mesmo-, foram organizadas experiências agrícolas por todo os anos 1980. Nessa época ainda não existia a presença de terapeutas ocupacionais na instituição. O fato é que o trabalho agrícola abriu uma nova perspectiva para a construção da cidadania das pessoas em sofrimento psíquico. Melhor ainda: abriu uma brecha na cultura de uma cidade, que como todas as outras no mundo contemporâneo, foi habituada com a idéia de que aos loucos não podia ser permitido outro espaço do que o do confinamento, embora tolerasse o convívio social com Carmen Doida, Sapo, Antonio Doido, Nega Maluca e outros.

A TO Márcia Maria Gomes de Souza resgata esse elo da história da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, depois que os cuidadores do futuro abriram caminho para novos eventos. Desta vez, um dos eventos mais aguardados é a criação das moradias assistidas, dispositivos que, aliados a outros, permitirão ao estado o resgate de uma dívida social histórica para com 46 internos-residentes do único hospital psiquiátrico amazonense. Que venham as moradias assistidas, os centros de convivência...!


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Moradia assistida (IV)

Desde março de 2006, a Terapeuta Ocupacional Márcia Maria Gomes de Souza e equipe cuida para que 46 internos-residentes do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro ocupem o dispositivo conhecido como moradia assistida ou residência terapêutica. Seguindo a ordem, entre outras atividades estratégicas trabalhadas no cotidiano estão:

4- Medicação – neste item foram reavaliadas tanta a medicação psiquiátrica quanto a clínica. O treinamento teve como objetivo promover a independência para tomá-la sozinho. Só os que sabem ler e identificar seu remédio deixaram de ser auxiliados e supervisionados. Uma vez na moradia – com no máximo até 8 pessoas – o treinamento será mais fácil devido ao menor número de usuários e do tempo disponível naquele espaço;

5- Sala de Estar – no laboratório-residência, situado no Maria Damasceno – pavilhão aberto do hospital psiquiátrico –, foi criado um ambiente para gozo do lazer, composto por sofá, mesa e televisão, com o objetivo de oferecer um ambiente que estimule a sociabilidade. O mesmo espaço, dotado de uma grande mesa, serve como sala de refeições, que incentiva mais ainda o sentimento de pertencimento comunitário.

6- Atividade externas (saídas): a) Consultas na Rede de Saúde: USB José Rayol para exames complementares, odontológicos e outros; Hospital Tropical para exames complementares e outros; Policlínica Codajás; Pronto Socorro 28 de Agosto; Ambulatório Rosa-Blaya para consulta de rotina e clínica psiquiátrica; outros; b) Atividades de vida prática: Bancos, Supermercados, outros. c) Social e Lazer: festas no CAPS, Shopping, passeios, outros.

7- Documentação (CPF, RG) – foram providenciados os principais documentos exigidos dos cidadãos brasileiros; nesse caso, necessário aos benefícios a que têm direito, inclusive para futura inclusão no programa do governo federal “De volta para Casa”, pelo qual receberão cerca de um salário mínimo.

Acompanhe a seqüência do trabalho da Terapeuta Ocupacional Márcia Maria e equipe no artigo da próxima semana.

Manaus, Abril de 2008.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota: Artigo publicado no Caderno Raio-X, do jornal Amazonas em Tempo, onde escrevo às quartas-feiras. Brevemente, será publicado no Portal Amazônia, onde tenho uma coluna.
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Um comentário:

Dulce disse...

Lindo Rogélio! Nossos parabéns por mais essa maravilhosa conquista. Dulce