NAS ÁGUAS DA AMIZADE:
UM PARANÁ DE RAMOS DO RIO ANDIRÁ
Aníbal Beça *
Nascida com a vocação de inspirar, a bucólica “Terra das arirambas”, Barreirinha, faz, na próxima segunda-feira, 127 anos de sua fundação. Fui levado até ela, nos idos de 1983, para abraçar o poeta Thiago de Mello e conhecer a bela casa “Porantim do Bom-Socorro” projetada pelo arquiteto Lúcio Costa, filho de mãe amazonense.
Dessa primeira vez, passei somente 15 dias. O bastante para ser fisgado pela generosidade de sua gente.
Ainda lembro, com doce nostalgia, do banho-de-cheiro, preparo secreto de dona Coló, derramado sobre minha cabeça à beira do Andirá, na velha Freguesia, onde voltei em 1996 para receber novo banho de ervas da floresta: ouriza, cuia-mansa, mucara-caá, patchuli, pau-de-angola, manjericão, capitiú, piprioca, canela, cumaruzinho, vindicá, jirum, catinga-da-mulata, tudo misturado ao óleo de pau-rosa para trazer bons fluidos, afastar mau-olhado e contar com o “chama” para os assuntos do coração. Dona Coló assegurava:
“É tranchã...”
Barreirinha, desde então, se enamorou de mim e eu dela. Quem sabe, talvez, pelas águas mágicas do rio Andirá, que se metaforseiam pela manhã com suas águas negras, ao meio-dia pelas águas verdes, ao entardecer com águas cor de ferrugem e na enchente a mescla barrenta do Paraná do Ramos. Mas de verdade, creio que esse caso de amor se embalou mesmo, foi no banzeiro das águas da amizade.
Daí o porquê de eu estar aqui a escrever sobre a cidade aniversariante sem ser ao menos seu filho. E com a agravante de ser a terra do cidadão do mundo poeta Thiago de Mello. Mas faço isso só de birra para provocá-lo. Já fiz música que foi gravada pelo “Raízes caboclas”, e até hoje o compositor e cantor Neto Cabral, legítimo e talentoso filho da Velha Barreira, entoa do Pucu ao Ramos e a Parintins. Mais alguns poemas circunstanciais destacando-se “Canção de Barreirinha”.
Isso tenha certeza, leitor que me acompanha, é o que muita gente pensaria. Na realidade, é e não é. Porque antes de conhecer Barreirinha, e a Thiago pessoalmente, eu já convivia
Com alguns dos seus talentosos oriundi. A saber: Aurélio Andrade, poeta e bom contador de causos, pai de minhas amigas Magela Andrade Ranciaro, fátima e Berna de saudosas memórias, Paula Fransinetti e Socorro Mafra de Andrade gente da maior competência dedicada ao teatro e sobrinhas de minha querida Neca, que me ensinou a apreciar as artes e a música. A lista aumenta com as participações de políticos nas pessoas de Coriolano Lindoso (pai do amigo Tito) e Socorro Dutra, (ambos foram prefeitos de Barreirinha).
Não voltei mais ao Andirá e nem ao Ramos. Mas os que nasceram da amizade, alguns se transferiram para Manaus,
outros para Parintins, cidade também onde cuido das amizades que fiz por lá, e que me procuram e me dão notícias de Barreirinha. De Parintins, Antonio Faria, o Antoine como quer Thiago, irmão do Paulinho do Boi Garantido, um príncipe de pessoa. Os artistas plásticos Elton Santos, Ereonildo e André Lago.
Agora mesmo, quando teclo para este artigo, a meu lado está o poeta Carlos Tiago, autor de “Águas do Andirá”, neto de dona Coló da Freguesia do Andirá, que é o profissional-do-ramo que cuida de minha biblioteca. Aliás, ele é que está pondo ordem nos meus livros, recortes de jornais, papéis dos meus ‘arquivos implacáveis’ e revistas. Sempre relembramos e rimos de muitas peripécias passadas nas águas da Praia da Safadeza, de propriedade do amigo Amadeu, pai de minhas queridas amigas: Perpétua (já falecida) e Ivone, ao som de um velho gravador executando o concerto para clarinete de Mozart.
Não posso terminar, sem antes falar de pessoas especais que estão gravadas para sempre em minha memória, no coração, e que hoje forram também o meu chão (é pra rimar mesmo...)
Pessoas simples, mas de imensa sabedoria, de talento, quase anônimas como os carpinteiros Rubem, construtor de barcos, e de um em especial: a “Liberdade”, do poeta Thiago, pai de lindas meninas, hoje já mulheres: Fabrina e Rúbia; do Francisquinho entalhador de goiva de primeira, construtor do Barco de Aparecida; da querida Paulinha, filha de dona Francisca, excelente encadernadora, da Day que trazia nossos tragos e também o artesanato em barro; do Jeco, com suas histórias de Tapirayuaras.
Mas em nome daquela que cozinhava o peixe do carinho no pirão nosso de cada dia é que vou dedicar esta pequena homenagem aos nascidos em Barreirinha. Falo de Joanice, mãe de Luziane e Gracilene, companheira do querido Luiz Carlos. Ela é quem providenciava o nosso “rango”.
Taí, Amadeu, aproveitei sua ausência (sei que está no Piauí) para lhe espicaçar novamente. O que lhe salva, poeta, é que foi você que me levou e me apresentou aos mistérios e às belezas das Águas de Barreirinha. Parabéns!
* Anibal Beça poeta e jornalista, membro da Academia Amazonense de Letras, autor de Suíte para os habitantes da noite (VI Prêmio Nestlé), Filhos da Várzea, Folhas da Selva entre outros. E o atual presidente do Conselho Municipal de Cultura.
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Aspectos Históricos da cidade de Barreirinha - Dados de vários sites oficiais
O local ocupado hoje pela cidade de Barreirinha pertenceu primitivamente a Manuel da Silva Lisboa, “que não podendo suportar as tripolias do índio Crispim de Leão”, abandonou o estabelecimento afim de fugir aos sanguinários instintos daquele façanhudo índio, que tão célebre ali se tornou pelos crimes e atrocidades que perpetrava”. O incêndio da “nascente povoação” de Andirá foi a última bravata do bárbaro índio que nessa oportunidade, encontrou a morte, transpassado por uma bala.
Para Andirá com intuito de missionar essa povoação, veio o capuchinho Pedro de Ceriana, que ali instalou a Missão de Andirá, criada pela Resolução nº 76 de 02 de outubro de 1848, da Província do Pará.
Diz-se que a denominação de “Andirá”, provém da grande quantidade de morcegos de asas pretas e cabeça branca existentes no local, aos quais os índios denominavam “Andirá”. Essa denominação se estendeu ao rio e posteriormente à povoação que aí surgiu.
Em 27.10.1851 chega ao local o padre Manuel Justiniano de Seixas, da Companhia de Jesus. O povoado tinha então apenas de seis a oito barracas cobertas de palha. Com auxílio dos moradores, constrói uma capela sob a Invocação de Nossa Senhora do Bom Socorro.
Em 23.10.1852, pela Lei nº 06, a Missão de Andirá é elevada a Curato, com subordinação a vila Bela da Imperatriz.
Em 17.11.1853, pela Lei Provincial nº 14, é criado distrito no município de Parintins, com a denominação de Nossa Senhora do Bom Socorro de Andirá.
Em 09.11.1858, pela Lei provincial nº 92, o distrito passa a denominar-se simplesmente Andirá.
Em 13.05.1873, pela Lei nº 263, a sede do distrito é transferida para o local denominado Barreirinha, por desmembramento do Município de Parintins.
Em 04.11.1892, pela Lei Estadual nº 33, é criado o Termo Judiciário do Município.Nos tempos que se seguiram à sua criação, a economia do município de Barreirinha atingiu franca expansão, devido, sobretudo, à exportação de produtos regionais – castanha, guaraná, borracha, cacau, pirarucu, cumaru e madeira. Em decorrência disto, recebeu Menção Honrosa na Exposição Universal de Bruxelas, em 1910, e participou da Exposição Internacional da Indústria de Lavoura, em Turim, na Itália (1911), onde recebeu medalha de bronze.
Nos anos de 1920, entretanto, ocorreram fatos lamentáveis que desestruturaram completamente sua economia, tais como invasões/saques; enchentes que devastaram plantações de juta e cacau. Isto levou a sua destituição. Em 1922, o município sofreu grande prejuízo em sua economia quando a enchente dos rios que banham suas terras devastou cerca de 80% da sua lavoura cacaueira, uma das principais daquela época.
Pelos Atos Estaduais nº 45, de 1930 e nº 33, de 14.09.1931 é suprimido o Município de Barreirinha, que volta a fazer parte de Parintins, sob simples condição de Delegacia Municipal.
Em 1935, ressurge o município de Barreirinha. Na primeira eleição realizada após a restauração foi eleito seu prefeito o sr. Militão Soares Dutra.
O Termo Judiciário também foi restaurado, ficando subordinado a comarca de Parintins.
Em 31.03.1938, pelo Decreto-Lei Estadual nº 68, Barreirinha recebe Foros de Cidade. No mesmo ano, pelo Decreto-Lei nº 176, de 1º de Dezembro, foram criados os Distritos de Ariau, Andirá e Pedras passando, portanto, o município a ter quatro distritos inclusive o da sede.
Em 01.07.1940, pelo Decreto-Lei Estadual nº 441, o Termo Judiciário de Barreirinha é transferido para a jurisdição da Comarca de Maués.
Em 24.12.1952, pela Lei Estadual nº 226, é criada a comarca de Barreirinha.
Em 10.12.1981, pela Emenda Constitucional nº 12, parte do território é desmembrada em favor do novo município de Boa Vista do Ramos.
Limites
• Município de Parintins
• Estado do Pará
• Município de Maués
• Município de Boa Vista do Ramos
• Município de Urucurituba
• Distrito de Ariaú e Cametá
• Distrito de Ariaú e Barreirinha
• Distrito de Ariaú e Freguesia do Andirá
• Distrito de Cametá e Pedras
• Distrito de Cametá e Barreirinha
• Distrito Pedras e Barreirinha
• Distrito de Barreirinha e Freguesia do Andirá
Localização: 9º Sub-Região – Região do Baixo Amazonas
Altitude: 16 m acima do nível do mar.
Área Territorial: 6.007 km²
Temperatura Média: 27º C
Acesso: Via Fluvial
Distância
• Em linha reta entre Barreirinha e a Capital do Estado, 372 Km.
• Por via fluvial entre Barreirinha e a Capital do Estado, 420 Km.
Atividades Econômicas
• Setor Primário
- Agricultura: destaca-se juntamente com a pecuária, com destaque para o plantio de mandioca, vindo a seguir abacaxi, arroz, batata-doce, cana-de-açúcar, feijão, fumo, juta, malva, melancia, melão e tomate e mais as culturas permanentes como: abacate, cacau, laranja e outras.
- Pecuária: é bastante significativa para a formação econômica do setor primário. Concentra-se principalmente a criação de bovinos e suínos, com na produção de carne e leite destinada ao consumo local e à exportação para outras localidades.
- Pesca: praticada em moldes artesanais para o consumo local. Não é representativo para a formação econômica do setor.
- Avicultura: a criação é de característica doméstica e de subsistência. Não gera renda e nem concorre para a formação econômica do setor.
- Extrativismo Vegetal: com peso relativo pequeno para a formação do setor primário, é representado pela exploração de castanha, madeira e camaru.• Setor Secundário- Indústria: usina de beneficiamento de arroz, olaria, marcenarias e padarias.
• Setor Terciário
- Comércio: varejista e atacadistas.
- Serviço: hotel e pensões.
Eventos
• Festival Folclórico (26 e 27 de junho)
• Festa da Padroeira Nossa Senhora do Bom Socorro (05 à 15 de agosto).
• Festa do Caju (novembro)
• Exposição Agropecuária de Barreirinha – EXPOBAE (30.01 à 01.02)
Atrações Turísticas
• O belo rio Andirá, de águas esverdeadas, às vezes mansas, hora revoltas, que banham lindas praias de areias alvas.
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