PICICA: "Uma abertura para convivência com movimentos sociais, que acabaram sendo alijados do partido no processo de negociação com aliados de esquerda. Dois temas discutidos previamente foram assumidos pelo governo antes que fossem oficializados pelo Congresso do PT: a queda de juros pelo Banco Central, e sinalização de baixa futura mais consistente, e o aumento do salário mínimo. A antecipação desses dois movimentos vai ter o poder de transformar em afinidade, o que a imprensa poderia interpretar como conflito."
PT realiza IV Congresso Nacional unido e sem disposição para brigas
Amplamente dominado por uma aliança das duas maiores correntes internas, PT realiza seu IV Congresso Nacional, em 31 anos, em clima festivo e sem espaço para grandes disputas internas. Decisões recentes do governo, de cortar juros e propor aumento robusto do salário mínimo, aproximam PT de Dilma Rousseff e ajudam a evitar conflitos que poderiam ser explorados por adversários políticos.
Maria Inês Nassif
SÃO PAULO - Mais do que produzir grandes manchetes, o IV Congresso Nacional do PT, que o partido realiza em Brasília no fim de semana, deve de revelar uma grande festa, repleta de delegações internacionais. Não há grande interesse de expor divergências partidárias para ao grande público durante o encontro dos 1,3 mil delegados.
Com o partido dominado por uma aliança entre as duas maiores facções - Construindo um Novo Brasil (CNB) e Mensagem ao Partido -, o Congresso deverá ter como grande marco decisório, de fato, a plenária nacional da CNB, que se reúne nesta sexta-feira (02/09) a partir das 10h. “Há uma desproporporção do grupão formado pelo CNB e pela Mensagem”, reconhece um dos integrantes da primeira.
Os setores mais à esquerda deixaram o partido no passado e constituíram o PSTU e o PSol. Um dos pequenos grupos remanescentes, a Articulação de Esquerda, cuja maior liderança era Valter Pomar, rachou há cerca de um mês. Metade seguiu para o campo majoritário. Pomar permaneceu no antigo grupo, menor do que já era.
Qualquer decisão tomada na plenária da CNB ditará, portanto, os rumos do Congresso geral. E mostrará para aonde se inclinará a maioria dos 1350 delegados do partido, eleitos no último Processo de Eleição Direta (PED), em 2009.
Ao contrário do que se poderia supor, o governo da presidenta Dilma Rousseff, que não tinha uma grande militância no partido antes de ser eleita, caminhou articuladamente com o PT, às vésperas do Congresso.
Em geral, o partido não quer fazer barulho, mas considera importante se “politizar” novamente, assumir uma agenda própria, inclusive para exercer o papel de convencimento da sociedade quando os temas de ordem institucional provocarem controvérsia, de forma a adquirir força, de fora para dentro, na contenda com seus aliados no Congresso.
Uma abertura para convivência com movimentos sociais, que acabaram sendo alijados do partido no processo de negociação com aliados de esquerda. Dois temas discutidos previamente foram assumidos pelo governo antes que fossem oficializados pelo Congresso do PT: a queda de juros pelo Banco Central, e sinalização de baixa futura mais consistente, e o aumento do salário mínimo. A antecipação desses dois movimentos vai ter o poder de transformar em afinidade, o que a imprensa poderia interpretar como conflito.
“O PT e o governo não têm conflito. O que vem sendo implementado pelo governo Dilma vem ao encontro de um governo do PT. O PT está no governo e o governo está bem. Agora, com a inflexão dos juros, a afinidade ainda é maior”, afirma o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP).
“Estamos tranquilos. Em primeiro lugar, porque tomamos juízo. Em segundo, porque adquirimos maturidade. Em terceiro, porque somos o principal partido da base do governo e o mundo endoidou. Precisamos preservar o governo para enfrentar essa crise mundial", diz o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP). "É evidente que há críticas pontuais à condução do governo, mas no geral o PT vem respondendo a esses desafios com uma unidade muito grande, enquanto os outros partidos da base estão se dividindo."
“O PT não tem grandes divergências internas. Está em nova fase. As tendências estão com fogo baixo”, afirma o ex-deputado José Genoíno, hoje assessor do Ministério da Defesa. Para Genoíno, o partido também teve um aprendizado de governo. “Sem alianças o PT não ganha eleição, nem governa”.
Outro fator de “estabilização” nas relações entre partido e governo, curiosamente, foi a ascensão do paulista Rui Falcão à presidência do partido, em substituição ao presidente eleito pelo PED, o sergipano José Eduardo Dutra.
A vitória de Dutra tinha acontecido num momento em que a hegemonia paulista era bastante discutida internamente, também pela desproporção entre o crescimento do PT nos outros estados e a participação nos órgãos de direção partidária. Com o afastamento de Dutra, ascendeu de novo um paulista.
O antipaulistismo, todavia, vem sendo controlado por um esforço de Falcão. Ele tem participado de debates políticos em todos os estados (só falta visitar duas unidades da Federação nessa “caravana” partidária). E trânsito simultâneo no governo e em todo o partido.
Falcão tem ligações antigas com a presidenta da República, e uma militância partidária que remonta às origens do PT – além de contar com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que entra em cena para dirimir conflitos ou problemas de estratégia.
Como está ligado diretamente à burocracia do partido, e como é mais formal, conseguiu criar uma relação mais institucional com o governo. Fala de partido para governo. “O Dutra era muito desorganizado e muito informal”, diz um parlamentar do partido.
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Crise 'hamletiana' sobre filiações deve ser única polêmica no PT
Com o partido dominado por uma aliança entre as duas maiores facções - Construindo um Novo Brasil (CNB) e Mensagem ao Partido -, o Congresso deverá ter como grande marco decisório, de fato, a plenária nacional da CNB, que se reúne nesta sexta-feira (02/09) a partir das 10h. “Há uma desproporporção do grupão formado pelo CNB e pela Mensagem”, reconhece um dos integrantes da primeira.
Os setores mais à esquerda deixaram o partido no passado e constituíram o PSTU e o PSol. Um dos pequenos grupos remanescentes, a Articulação de Esquerda, cuja maior liderança era Valter Pomar, rachou há cerca de um mês. Metade seguiu para o campo majoritário. Pomar permaneceu no antigo grupo, menor do que já era.
Qualquer decisão tomada na plenária da CNB ditará, portanto, os rumos do Congresso geral. E mostrará para aonde se inclinará a maioria dos 1350 delegados do partido, eleitos no último Processo de Eleição Direta (PED), em 2009.
Ao contrário do que se poderia supor, o governo da presidenta Dilma Rousseff, que não tinha uma grande militância no partido antes de ser eleita, caminhou articuladamente com o PT, às vésperas do Congresso.
Em geral, o partido não quer fazer barulho, mas considera importante se “politizar” novamente, assumir uma agenda própria, inclusive para exercer o papel de convencimento da sociedade quando os temas de ordem institucional provocarem controvérsia, de forma a adquirir força, de fora para dentro, na contenda com seus aliados no Congresso.
Uma abertura para convivência com movimentos sociais, que acabaram sendo alijados do partido no processo de negociação com aliados de esquerda. Dois temas discutidos previamente foram assumidos pelo governo antes que fossem oficializados pelo Congresso do PT: a queda de juros pelo Banco Central, e sinalização de baixa futura mais consistente, e o aumento do salário mínimo. A antecipação desses dois movimentos vai ter o poder de transformar em afinidade, o que a imprensa poderia interpretar como conflito.
“O PT e o governo não têm conflito. O que vem sendo implementado pelo governo Dilma vem ao encontro de um governo do PT. O PT está no governo e o governo está bem. Agora, com a inflexão dos juros, a afinidade ainda é maior”, afirma o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP).
“Estamos tranquilos. Em primeiro lugar, porque tomamos juízo. Em segundo, porque adquirimos maturidade. Em terceiro, porque somos o principal partido da base do governo e o mundo endoidou. Precisamos preservar o governo para enfrentar essa crise mundial", diz o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP). "É evidente que há críticas pontuais à condução do governo, mas no geral o PT vem respondendo a esses desafios com uma unidade muito grande, enquanto os outros partidos da base estão se dividindo."
“O PT não tem grandes divergências internas. Está em nova fase. As tendências estão com fogo baixo”, afirma o ex-deputado José Genoíno, hoje assessor do Ministério da Defesa. Para Genoíno, o partido também teve um aprendizado de governo. “Sem alianças o PT não ganha eleição, nem governa”.
Outro fator de “estabilização” nas relações entre partido e governo, curiosamente, foi a ascensão do paulista Rui Falcão à presidência do partido, em substituição ao presidente eleito pelo PED, o sergipano José Eduardo Dutra.
A vitória de Dutra tinha acontecido num momento em que a hegemonia paulista era bastante discutida internamente, também pela desproporção entre o crescimento do PT nos outros estados e a participação nos órgãos de direção partidária. Com o afastamento de Dutra, ascendeu de novo um paulista.
O antipaulistismo, todavia, vem sendo controlado por um esforço de Falcão. Ele tem participado de debates políticos em todos os estados (só falta visitar duas unidades da Federação nessa “caravana” partidária). E trânsito simultâneo no governo e em todo o partido.
Falcão tem ligações antigas com a presidenta da República, e uma militância partidária que remonta às origens do PT – além de contar com a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que entra em cena para dirimir conflitos ou problemas de estratégia.
Como está ligado diretamente à burocracia do partido, e como é mais formal, conseguiu criar uma relação mais institucional com o governo. Fala de partido para governo. “O Dutra era muito desorganizado e muito informal”, diz um parlamentar do partido.
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Fonte: Carta Maior
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