PICICA: "“Tamanhos são os crimes que o Serviço
de Proteção aos Índios degenerou a ponto de persegui-los até ao
extermínio. Pode ser considerado o maior escândalo administrativo do Brasil”, Jader Figueiredo (1968)."
(...)
"É longa a
história de ocultação da verdade por parte do Estado brasileiro, com
relação à trágica realidade a que estão submetidos os povos indígenas. É
o famoso jeitinho de jogar a “sujeira para debaixo do tapete”. Ficaram
famosos os intuitos da ditadura militar de ocultar os processos de
violência e genocídio contra os povos originários, sob o manto e
discurso de um “progresso” irreversível. Eram tempos de milagre. O
milagre da sobrevivência dos povos, diante da fúria das empreiteiras da
ditadura.
Porém, a
irrupção de denúncias escabrosas e generalizadas de violência e
genocídio dos povos indígenas no Brasil, maculou a ilibada imagem do
país, diante do capital internacional à procura dos melhores e mais
lucrativos lugares do mundo. A reação não se fez esperar. O governo da
ditadura militar chamou organismos internacionais para vir comprovar a
falsidade das acusações. Pelo menos três organismos internacionais,
dentre os quais a Cruz Vermelha Internacional e a Survival
Internacional, estiveram no Brasil no início da década de 1970.
O senhor
Robin Hambury-Tenison, depois de nove semanas de contatos com inúmeras
realidades indígenas, afirmou “que sem ajuda técnica e econômica
internacional, os 50 mil índios brasileiros desaparecerão em dois anos”
(Jornal do Brasil, 08/07/1971). Referente a essa afirmação, o diretor do
Departamento Geral de Estudos e Pesquisas da Funai Paulo Monteiro
Santos afirmou, à época, que com esse dinheiro poderiam ser instalados
dois ou três postos indígenas. Apesar desse alerta subvencionado, o
Tenison afirmou que não existia genocídio.
Poucos
anos depois, no IV Tribunal Internacional Russel, instalado em Roterdã,
na Holanda, o Brasil foi condenado pelo crime de genocídio. Foram
denunciadas as situações dos povos Waimiri Atroari, Yanomami, Nambikuara
e dos Kaingang, de Mangueirinha, no Paraná (Jornal Porantim, novembro
1980)."
Da aldeia à ONU: e agora, Brasil?
“Tamanhos são os crimes que o Serviço
de Proteção aos Índios degenerou a ponto de persegui-los até ao
extermínio. Pode ser considerado o maior escândalo administrativo do Brasil”, Jader Figueiredo (1968).
Ainda sob o
impacto das manifestações, denúncias e cobranças do 11º Acampamento
Terra Livre e das Mobilizações do Abril Indígena de 2015, mais um fato
de extrema relevância para os povos indígenas acaba de se concretizar.
Um momento de incidência internacional acaba de acontecer, quando
lideranças indígenas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
deixaram suas aldeias e foram ao espaço de diálogo das nações, a sede
da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), para a 14ª
Sessão do Fórum Permanente dos Povos Indígenas.
Ali denunciaram aquilo que protocolaram nos Três Poderes, em Brasília (DF), uma semana antes. Um documento foi lido por Lindomar Terena (foto), liderança do Mato Grosso do Sul, terminando com sugestões para os membros da ONU.
Embaixo do tapete não cabe mais
É longa a
história de ocultação da verdade por parte do Estado brasileiro, com
relação à trágica realidade a que estão submetidos os povos indígenas. É
o famoso jeitinho de jogar a “sujeira para debaixo do tapete”. Ficaram
famosos os intuitos da ditadura militar de ocultar os processos de
violência e genocídio contra os povos originários, sob o manto e
discurso de um “progresso” irreversível. Eram tempos de milagre. O
milagre da sobrevivência dos povos, diante da fúria das empreiteiras da
ditadura.
Porém, a
irrupção de denúncias escabrosas e generalizadas de violência e
genocídio dos povos indígenas no Brasil, maculou a ilibada imagem do
país, diante do capital internacional à procura dos melhores e mais
lucrativos lugares do mundo. A reação não se fez esperar. O governo da
ditadura militar chamou organismos internacionais para vir comprovar a
falsidade das acusações. Pelo menos três organismos internacionais,
dentre os quais a Cruz Vermelha Internacional e a Survival
Internacional, estiveram no Brasil no início da década de 1970.
O senhor
Robin Hambury-Tenison, depois de nove semanas de contatos com inúmeras
realidades indígenas, afirmou “que sem ajuda técnica e econômica
internacional, os 50 mil índios brasileiros desaparecerão em dois anos”
(Jornal do Brasil, 08/07/1971). Referente a essa afirmação, o diretor do
Departamento Geral de Estudos e Pesquisas da Funai Paulo Monteiro
Santos afirmou, à época, que com esse dinheiro poderiam ser instalados
dois ou três postos indígenas. Apesar desse alerta subvencionado, o
Tenison afirmou que não existia genocídio.
Poucos
anos depois, no IV Tribunal Internacional Russel, instalado em Roterdã,
na Holanda, o Brasil foi condenado pelo crime de genocídio. Foram
denunciadas as situações dos povos Waimiri Atroari, Yanomami, Nambikuara
e dos Kaingang, de Mangueirinha, no Paraná (Jornal Porantim, novembro
1980).
Na ONU: anúncios e denúncias
Há menos de um ano, a violação aos
direitos indígenas havia sido denunciada neste mesmo Fórum. Infelizmente
quase nada mudou, e se mudou, a mudança foi para pior. Aumentaram as
ameaças e as violências, além das tentativas de supressão dos direitos
constitucionais dos povos indígenas. Diante dessa realidade, o movimento
indígena avaliou ser necessário continuar a resistência e afirmação de
seus direitos em todos os níveis; da aldeia à ONU.
Os representantes do governo brasileiro
tinham acabado de anunciar, com grande dose de ufanismo, a realização
dos Jogos Mundiais Indígenas, previstos para a cidade de Palmas,
Tocantins, em setembro deste ano. Porém, sentiram-se constrangidos
diante das denúncias, feitas poucas horas depois.
Quem sabe não seria um gesto de boa
vontade, no lugar da falsa propaganda, a demarcação das terras indígenas
mais conflitivas em todo país, especialmente no Mato Grosso do Sul, na
Bahia e no Rio grande do Sul, a paralisação de todos os projetos
anti-indígenas que tramitam no Congresso, a aprovação do Conselho
Nacional de Política Indigenista e o Estatuto dos Povos indígenas,
conforme a proposta enviada pelo movimento indígena, a exclusividade das
condicionantes para a Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Se isso
acontecer, o Brasil poderá se dizer um digno anfitrião para os jogos
indígenas. Que os jogos não sejam mais um ato para ludibriar a opinião
pública nacional e internacional, diante das agressões, desrespeito e
omissões do Estado brasileiro.
Como na década de 1970, foi solicitada a
presença de observadores internacionais, desta vez pelo movimento
indígena: “Que o Fórum Permanente envie urgentemente observadores ao
Brasil para que acompanhem a realidade dos conflitos territoriais, e a
ofensiva estabelecida contra os direitos indígenas nos distintos poderes
do Estado”, diz o documento lido por Lindomar Terena no plenário da
ONU.
A razão de tal solicitação constante na
carta dirigida aos dirigentes do Fórum, é pela “forma que o Estado
brasileiro está tratando os povos indígenas: o governo federal descumpre
a Constituição, os legisladores suprimem e o Judiciário restringe cada
vez mais os direitos, principalmente territoriais. Enfim, há no Brasil
uma virulenta campanha de criminalização, deslegitimação, discriminação e
racismo contra os povos indígenas, caracterizados como invasores,
subverteres da ordem e principalmente como obstáculos ao desenvolvimento
nacional”, segue o documento.
Esse é um momento histórico, importante
para o Brasil mostrar ao mundo que tem uma decisão política de tratar
com respeito e dignidade seus habitantes originários, cumprindo a
Constituição e a legislação internacional. Não tem mais espaço para
defender o indefensável, ou seja, a violação das leis e dos direitos
humanos destes povos tão massacrados.
Fonte: CIMI
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