JORNAL DE DEBATES > TERCEIRIZAÇÃO
Polêmica ganha tom superficial nos portais
A aprovação pela Câmara dos Deputados
do Projeto de Lei 4330/2004, que regulamenta a chamada terceirização no
mercado de trabalho, foi tema de ações “ao vivo” pelos portais
noticiosos e essa cobertura pode ser tratada como exemplo para reflexão
no campo do jornalismo. O projeto, que coloca no papel a possibilidade
de contratar empregados de fora das empresas, além de definir regras
para a prática, abre a possibilidade para que as atividades-fim de
organizações sejam também passíveis de terceirização. Hoje, a regra é
definida pelo judiciário em súmula do Tribunal Superior do Trabalho, que
limita a contratação de outra empresa prestadora de serviços apenas
para atividades-meio, ou seja, que não representem a atividade principal
da organização. Segmentos sociais contrários ao projeto manifestaram
insatisfação, realizando protestos em várias partes do país. As ações
foram um dos focos da cobertura, mas de forma superficial.
Toda a cascata de eventos é certamente de grande interesse, pois um projeto como esse pode gerar mudanças concretas no dia a dia dos trabalhadores brasileiros e suas famílias. É possível levantar uma série de reflexões sobre o trabalho desempenhado pela imprensa, especialmente no meio online, e particularmente pelo conjunto da narração, descrição e suposta explicação dos fatos. Será que o cidadão foi bem informado sobre as possíveis consequências das mudanças? As dúvidas mais evidentes foram respondidas satisfatoriamente? As diversas opiniões sobre o assunto foram ouvidas? Quem realmente entende do assunto teve voz nas reportagens? Essas são algumas das questões que podem ser colocadas. Ainda é possível tentar observar como os portais de webjornalismo usaram as novas possibilidades de comunicação que o jornalismo online oferece, os quais têm sido apontados por teóricos.
O papel do jornalismo é procurar traduzir com maior fidelidade os eventos para a sociedade, organizar o caos dos acontecimentos em alguma unidade lógica de sentido. Uma das ferramentas que a comunicação dispõe para tentar fazer isso com maior eficiência é trazer as informações e opiniões dos envolvidos nos processos sociais. É preciso ouvir e transmitir quais são as versões para que seja possível ampliar a discussão e conscientizar de forma mais efetiva a população. Quando a imprensa apenas noticia fatos e ocorrências, sem se aprofundar, e não busca carregar as opiniões envolvidas de forma substancial, acaba ficando presa às superficialidades e perde a oportunidade de ampliar a consciência da sociedade.
Ao observar as notícias publicadas logo após as manifestações, em alguns dos maiores portais da internet – como G1, R7 e Folha de S.Paulo, – uma caraterística que pode ser observada quando analisamos o material destes veículos é falta de adaptação do conteúdo para a plataforma virtual. A produção de material jornalístico feito para a internet não pode ser encarada como na primeira fase do jornalismo online, ou seja, de maneira transpositiva, na qual o material da plataforma impressa era meramente copiado ou replicado para os sites dos veículos.
Possibilidades de ampliar conhecimento
Uma das primeiras constatações é a pouca voz dada aos organizadores e às pessoas que se posicionaram contra o projeto, ainda que não diretamente ligadas aos movimentos sociais. Estavam à frente dos protestos líderes da CUT, MST e UNE, mas em poucas ocasiões estes foram questionados para se conhecer qual o motivo que os levava às ruas e se mostrarem contrários às mudanças. É evidente que a mídia tratou a manifestação pró-impeachment e até por intervenção militar, nos dias 15 de março e 12 de abril, como ações genuínas e frutos do espírito democrático (fazendo valer a livre expressão), enquanto que as reclamações do projeto de terceirização tiveram um olhar sem tanta empatia, como se fosse “reclame de sindicalista” ou nada de participação popular. Em texto do G1, por exemplo, publicado no dia das manifestações (7 de abril) contra terceirização, com o título “Projeto de lei da terceirização deve ser votado nesta terça; entenda”, apesar de o objetivo ser a contextualização do tema, o texto se restringe a explicações sobre quais seriam as possíveis mudanças, mas sem buscar a opinião de fontes contrárias e favoráveis ao projeto, o que poderia promover um diálogo mais esclarecedor.
A impressão é de que até se tentou traduzir as divergências, mas sem nomear com clareza quem opinava, como se o jornalista tivesse procurado inferir quais seriam as opiniões de empresas e setores sociais sem realmente procurar ouvi-los. Em outras publicações, as exceções não ultrapassam o nível de pequenas citações, insuficientes para transmitir a complexidade do assunto. Também não foi dada voz suficiente a especialistas externos às fontes oficiais, que pudessem ampliar a discussão, contextualizando e explicando os reais efeitos da medida.
É também possível notar como ainda há um enorme foco na informação textual e na transmissão do factual puro, mesmo com todas as possibilidades que o meio online oferece. O autor português João Canavilhas, em seu artigo Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide deitada, descreve um novo paradigma para a construção da narrativa na Web, onde o textual ainda está presente, mas não deve mais ser o único elemento de construção da informação. O autor propõe o que denomina de “pirâmide deitada” (estrutura alternativa de construção noticiosa), em que não há mais hierarquia de importância, como ocorre com os textos em “pirâmide invertida” (modelo tradicional do texto informativo). No formato de Canavilhas, o público precisa ter acesso a camadas diferentes de informação que vão além de transmitir o fato, já que também devem explicar, contextualizar e explorar o assunto, usando para isso de diversos artifícios.
Seria interessante, por exemplo, aumentar a explicação sobre os acontecimentos realizando e divulgando entrevistas com os envolvidos nas manifestações e com defensores do projeto em formato multimídia. Da mesma forma, especialistas na área poderiam ser entrevistados e o conteúdo divulgado integralmente, ou com uma quantidade maior de informação, em vídeo ou áudio, gráficos e até enquetes para promover maior interatividade (característica fundamental do jornalismo na web).
A internet eliminou a barreira do espaço físico. Uma das vantagens desse meio: não é mais necessário limitar o conteúdo para servir em páginas ou em determinado tempo estabelecido. É claro que o objetivo não deverá ser exaurir todos os temas, o que seria inviável para as rotinas de produção dos portais ainda muito longe da estrutura dos sonhos. Mas a possibilidade de entregar ao público, por exemplo, íntegras de entrevistas, além do conteúdo jornalístico editado e formatado é uma possibilidade que a web trouxe consigo. Não significa que todos vão dar importância para todo o conteúdo. Isso é outra característica do meio online. O próprio usuário é quem faz seu percurso de contato com o conteúdo. O jornalista oferece as possibilidades de ampliação do conhecimento da informação e cada um faz seu caminho de acordo com o interesse.
Ligações perigosas
Nesse cenário, o uso de links e do hipertexto é fundamental. Luciana Mielniczuk, no artigo O Link como Recurso da Narrativa Jornalística Hipertextual, expõe como esses artifícios são uma possibilidade de alcançar uma organização mais inteligível da grande quantidade de conteúdos passíveis de serem relacionados aos textos jornalísticos. A possibilidade de conexão com as memórias de assuntos já publicados, ou mesmo de recursos externos aos próprios sites, é capaz de ampliar as capacidades de o usuário alcançar informação útil e de acordo com seu próprio nível de necessidade de informação e interesse. Nas notícias relacionadas aos protestos contra o projeto de terceirização, é possível perceber que os portais se utilizam do recurso principalmente para conectar as publicações que já foram feitas sobre o assunto, ou sobre temas relacionados. Por exemplo, na notícia publicada na página da Folha de S.Paulo com a chamada “Após confusão na Câmara, votação sobre terceirizações é adiada”, há cinco links associativos, destacados no meio do texto. Os links apontam para textos de coberturas mais específicas, como a notícia sobre a realização das manifestações e sobre dados específicos do projeto sem interpretações aprofundadas, do tipo: “entenda se puder”. Os textos vinculados no G1 são outros exemplos de matérias que possuem links, porém não acrescentam dados ou explicações, e sim direcionam o leitor para matérias mais antigas.
A pesquisadora espanhola Concha Edo destaca no artigo “El lenguaje y los géneros periodísticos en la narrativa digital” que uma das questões mais importantes a se levar em conta quando se pensa sobre o jornalismo online é a fragmentação do público. Segundo ela, a narrativa para web deve considerar a possibilidade de personalização e participação do receptor na formação do trajeto de leitura e escolha do que mais lhe interesse. Para isso é importante a construção de blocos de informação menores e que tenham sentido em si mesmos e o uso de variados meios na formação das narrativas. É fácil a constatação de que os grandes portais jornalísticos ainda relutam em diversificar os formatos de encadeamento de notícias, como se o passado sempre batesse à porta. Pior para o público.
E o trânsito?
Um exemplo do tom da cobertura é como foi enunciada a manifestação contra o projeto, no dia 15 de abril, na cidade de São Paulo. Em uma matéria vinculada ao portal G1 São Paulo, o viés quase burocrático é predominante, onde o primeiro parágrafo traz informações vinculadas no programa Bom dia São Paulo. Apesar de contar com intertítulos para explicar o projeto de lei, a matéria não conta com nenhum material multimídia, como o vídeo da reportagem, e a imagem é um print de um frame da matéria televisiva. Além disso, nenhuma entrevista de alguém ligado ao movimento é vinculada na matéria.
Outro problema que pode ser observado é a forma que o assunto está sendo abordado, com um viés simplório, negativo e pouco humanista. O título “Ato fecha a Dutra em Guarulhos em protesto contra a terceirização” chama mais atenção para o fato de que a rodovia foi fechada e não foca nas razões e argumentos dos envolvidos para protestarem contra o projeto de lei, ainda que se possa mostrar todas as implicações que podem existir para quem teve atrapalhado o seu direito de ir e vir. Porém, quando se analisa a página principal do portal, é possível verificar: um dos destaques foi para que o leitor seguisse, em tempo real, o andamento das manifestações. O material conta com pílulas de textos em ordem cronológica com informações básicas sobre os principais acontecimentos sobre o evento, mas não investe na explicação.
Ora, se o jornalismo precisa compactuar com uma sociedade cada vez mais autônoma e reflexiva, que faça com que os debates sejam aprofundados, tornam-se fundamentais as explicações e contextualizações sem que se abrace uma bandeira prévia. O jornalismo na web não deve estar restrito ao tempo presente. Já existe terceirização no país. A ONG Repórter Brasil, por exemplo, trouxe durante a semana problemas relacionados às empresas contratadas e contratantes, com possibilidade de aumentar trabalho escravo e diminuir direitos trabalhistas. Esse olhar para o ontem ajuda a pressupor consequências, mas os maiores portais preferiram outros caminhos, quase sempre engarrafados.
***
Vinícius Mendonça e Rafaela Lima são estudantes de Jornalismo
Fonte: Observatório da Imprensa
Toda a cascata de eventos é certamente de grande interesse, pois um projeto como esse pode gerar mudanças concretas no dia a dia dos trabalhadores brasileiros e suas famílias. É possível levantar uma série de reflexões sobre o trabalho desempenhado pela imprensa, especialmente no meio online, e particularmente pelo conjunto da narração, descrição e suposta explicação dos fatos. Será que o cidadão foi bem informado sobre as possíveis consequências das mudanças? As dúvidas mais evidentes foram respondidas satisfatoriamente? As diversas opiniões sobre o assunto foram ouvidas? Quem realmente entende do assunto teve voz nas reportagens? Essas são algumas das questões que podem ser colocadas. Ainda é possível tentar observar como os portais de webjornalismo usaram as novas possibilidades de comunicação que o jornalismo online oferece, os quais têm sido apontados por teóricos.
O papel do jornalismo é procurar traduzir com maior fidelidade os eventos para a sociedade, organizar o caos dos acontecimentos em alguma unidade lógica de sentido. Uma das ferramentas que a comunicação dispõe para tentar fazer isso com maior eficiência é trazer as informações e opiniões dos envolvidos nos processos sociais. É preciso ouvir e transmitir quais são as versões para que seja possível ampliar a discussão e conscientizar de forma mais efetiva a população. Quando a imprensa apenas noticia fatos e ocorrências, sem se aprofundar, e não busca carregar as opiniões envolvidas de forma substancial, acaba ficando presa às superficialidades e perde a oportunidade de ampliar a consciência da sociedade.
Ao observar as notícias publicadas logo após as manifestações, em alguns dos maiores portais da internet – como G1, R7 e Folha de S.Paulo, – uma caraterística que pode ser observada quando analisamos o material destes veículos é falta de adaptação do conteúdo para a plataforma virtual. A produção de material jornalístico feito para a internet não pode ser encarada como na primeira fase do jornalismo online, ou seja, de maneira transpositiva, na qual o material da plataforma impressa era meramente copiado ou replicado para os sites dos veículos.
Possibilidades de ampliar conhecimento
Uma das primeiras constatações é a pouca voz dada aos organizadores e às pessoas que se posicionaram contra o projeto, ainda que não diretamente ligadas aos movimentos sociais. Estavam à frente dos protestos líderes da CUT, MST e UNE, mas em poucas ocasiões estes foram questionados para se conhecer qual o motivo que os levava às ruas e se mostrarem contrários às mudanças. É evidente que a mídia tratou a manifestação pró-impeachment e até por intervenção militar, nos dias 15 de março e 12 de abril, como ações genuínas e frutos do espírito democrático (fazendo valer a livre expressão), enquanto que as reclamações do projeto de terceirização tiveram um olhar sem tanta empatia, como se fosse “reclame de sindicalista” ou nada de participação popular. Em texto do G1, por exemplo, publicado no dia das manifestações (7 de abril) contra terceirização, com o título “Projeto de lei da terceirização deve ser votado nesta terça; entenda”, apesar de o objetivo ser a contextualização do tema, o texto se restringe a explicações sobre quais seriam as possíveis mudanças, mas sem buscar a opinião de fontes contrárias e favoráveis ao projeto, o que poderia promover um diálogo mais esclarecedor.
A impressão é de que até se tentou traduzir as divergências, mas sem nomear com clareza quem opinava, como se o jornalista tivesse procurado inferir quais seriam as opiniões de empresas e setores sociais sem realmente procurar ouvi-los. Em outras publicações, as exceções não ultrapassam o nível de pequenas citações, insuficientes para transmitir a complexidade do assunto. Também não foi dada voz suficiente a especialistas externos às fontes oficiais, que pudessem ampliar a discussão, contextualizando e explicando os reais efeitos da medida.
É também possível notar como ainda há um enorme foco na informação textual e na transmissão do factual puro, mesmo com todas as possibilidades que o meio online oferece. O autor português João Canavilhas, em seu artigo Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide deitada, descreve um novo paradigma para a construção da narrativa na Web, onde o textual ainda está presente, mas não deve mais ser o único elemento de construção da informação. O autor propõe o que denomina de “pirâmide deitada” (estrutura alternativa de construção noticiosa), em que não há mais hierarquia de importância, como ocorre com os textos em “pirâmide invertida” (modelo tradicional do texto informativo). No formato de Canavilhas, o público precisa ter acesso a camadas diferentes de informação que vão além de transmitir o fato, já que também devem explicar, contextualizar e explorar o assunto, usando para isso de diversos artifícios.
Seria interessante, por exemplo, aumentar a explicação sobre os acontecimentos realizando e divulgando entrevistas com os envolvidos nas manifestações e com defensores do projeto em formato multimídia. Da mesma forma, especialistas na área poderiam ser entrevistados e o conteúdo divulgado integralmente, ou com uma quantidade maior de informação, em vídeo ou áudio, gráficos e até enquetes para promover maior interatividade (característica fundamental do jornalismo na web).
A internet eliminou a barreira do espaço físico. Uma das vantagens desse meio: não é mais necessário limitar o conteúdo para servir em páginas ou em determinado tempo estabelecido. É claro que o objetivo não deverá ser exaurir todos os temas, o que seria inviável para as rotinas de produção dos portais ainda muito longe da estrutura dos sonhos. Mas a possibilidade de entregar ao público, por exemplo, íntegras de entrevistas, além do conteúdo jornalístico editado e formatado é uma possibilidade que a web trouxe consigo. Não significa que todos vão dar importância para todo o conteúdo. Isso é outra característica do meio online. O próprio usuário é quem faz seu percurso de contato com o conteúdo. O jornalista oferece as possibilidades de ampliação do conhecimento da informação e cada um faz seu caminho de acordo com o interesse.
Ligações perigosas
Nesse cenário, o uso de links e do hipertexto é fundamental. Luciana Mielniczuk, no artigo O Link como Recurso da Narrativa Jornalística Hipertextual, expõe como esses artifícios são uma possibilidade de alcançar uma organização mais inteligível da grande quantidade de conteúdos passíveis de serem relacionados aos textos jornalísticos. A possibilidade de conexão com as memórias de assuntos já publicados, ou mesmo de recursos externos aos próprios sites, é capaz de ampliar as capacidades de o usuário alcançar informação útil e de acordo com seu próprio nível de necessidade de informação e interesse. Nas notícias relacionadas aos protestos contra o projeto de terceirização, é possível perceber que os portais se utilizam do recurso principalmente para conectar as publicações que já foram feitas sobre o assunto, ou sobre temas relacionados. Por exemplo, na notícia publicada na página da Folha de S.Paulo com a chamada “Após confusão na Câmara, votação sobre terceirizações é adiada”, há cinco links associativos, destacados no meio do texto. Os links apontam para textos de coberturas mais específicas, como a notícia sobre a realização das manifestações e sobre dados específicos do projeto sem interpretações aprofundadas, do tipo: “entenda se puder”. Os textos vinculados no G1 são outros exemplos de matérias que possuem links, porém não acrescentam dados ou explicações, e sim direcionam o leitor para matérias mais antigas.
A pesquisadora espanhola Concha Edo destaca no artigo “El lenguaje y los géneros periodísticos en la narrativa digital” que uma das questões mais importantes a se levar em conta quando se pensa sobre o jornalismo online é a fragmentação do público. Segundo ela, a narrativa para web deve considerar a possibilidade de personalização e participação do receptor na formação do trajeto de leitura e escolha do que mais lhe interesse. Para isso é importante a construção de blocos de informação menores e que tenham sentido em si mesmos e o uso de variados meios na formação das narrativas. É fácil a constatação de que os grandes portais jornalísticos ainda relutam em diversificar os formatos de encadeamento de notícias, como se o passado sempre batesse à porta. Pior para o público.
E o trânsito?
Um exemplo do tom da cobertura é como foi enunciada a manifestação contra o projeto, no dia 15 de abril, na cidade de São Paulo. Em uma matéria vinculada ao portal G1 São Paulo, o viés quase burocrático é predominante, onde o primeiro parágrafo traz informações vinculadas no programa Bom dia São Paulo. Apesar de contar com intertítulos para explicar o projeto de lei, a matéria não conta com nenhum material multimídia, como o vídeo da reportagem, e a imagem é um print de um frame da matéria televisiva. Além disso, nenhuma entrevista de alguém ligado ao movimento é vinculada na matéria.
Outro problema que pode ser observado é a forma que o assunto está sendo abordado, com um viés simplório, negativo e pouco humanista. O título “Ato fecha a Dutra em Guarulhos em protesto contra a terceirização” chama mais atenção para o fato de que a rodovia foi fechada e não foca nas razões e argumentos dos envolvidos para protestarem contra o projeto de lei, ainda que se possa mostrar todas as implicações que podem existir para quem teve atrapalhado o seu direito de ir e vir. Porém, quando se analisa a página principal do portal, é possível verificar: um dos destaques foi para que o leitor seguisse, em tempo real, o andamento das manifestações. O material conta com pílulas de textos em ordem cronológica com informações básicas sobre os principais acontecimentos sobre o evento, mas não investe na explicação.
Ora, se o jornalismo precisa compactuar com uma sociedade cada vez mais autônoma e reflexiva, que faça com que os debates sejam aprofundados, tornam-se fundamentais as explicações e contextualizações sem que se abrace uma bandeira prévia. O jornalismo na web não deve estar restrito ao tempo presente. Já existe terceirização no país. A ONG Repórter Brasil, por exemplo, trouxe durante a semana problemas relacionados às empresas contratadas e contratantes, com possibilidade de aumentar trabalho escravo e diminuir direitos trabalhistas. Esse olhar para o ontem ajuda a pressupor consequências, mas os maiores portais preferiram outros caminhos, quase sempre engarrafados.
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Vinícius Mendonça e Rafaela Lima são estudantes de Jornalismo
Fonte: Observatório da Imprensa
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